Eu sentia minhas pernas tremerem sozinhas. Uma leve dor em minha cabeça, também se fez presente. Pedi pra que Maiara me deixasse falar com a mulher, já que ela e Marilia não queriam permitir. Mas Anna veio de longe até aqui, não a deixaria no vácuo. Respirei fundo me aproximando, sentindo a mão de Marilia em meu ombro, e Maiara me analisando com os olhos, como se esperasse algum sinal pra arrancar aquela mulher de lá. Seu rosto estava carregado de expressões conflitantes, que oscilavam entre incredulidade e raiva.
Nunca tinha conversado com Anna pessoalmente, nunca nem tinha visto ela; então, pra mim é uma surpresa ela aparecer aqui, depois de tanto tempo. Anna era literalmente, igual, ao Gabriel. Tudo bem que eles são gêmeos, mas casal gêmeo vir igual, é raríssimo; mas eles são, iguais. Mesmo rosto, olhos, cabelo, até a pinta no cantinho da testa, ela tem igual a ele. Confesso que, vê-la aqui, me fez relembrar de tudo outra vez. Ela era o Gabriel, vejo ele aqui na minha frente.
Eu: Vocês são iguais. – Eu disse em choque – Me desculpa... É que, achei que nunca o veria novamente. Mas – analisei ela – ele tá aqui de novo.
Anna: Já ouvi isso outras vezes. – Disse dando de ombros. Sua voz tinha um tom de arrogância – Preciso que me diga o que aconteceu. Como ele morreu, eu preciso de uma explicação.
Não sabia que ia ter que voltar nesse assunto tão cedo, nem queria na verdade. Depois de tanto tempo, não queria falar sobre isso, ainda doía, mesmo que essa sensação nunca passasse, falar sobre ela sempre vai tornar isso pior. Mostrei o sofá, pra que Anna se sentasse junto a mim; Marilia e Maiara também ficaram ali. Creio que as duas sabem, o quão ruim é falar sobre isso. Então, óbvio que não me deixariam sozinha. Era bom mamãe, papai e Cesar não estarem aqui, não sei onde essa conversa vai parar. Quanto menos gente servir de testemunha, melhor.
Olhei pra Anna, saindo dos meus mais profundos pensamentos, e suspirei. Sentia tanto medo daquela conversa, que até os efeitos do remédio pareciam ter ido embora.
Eu: Do que você sabe? – Ela negou.
Anna: Que vocês se casaram mais rápido possível. E que o meu irmão se enforcou. – Explicou – Ah, também tem a parte que inventaram que ele te agredia. Mas não acredito nisso. Meu irmão era incrível.
Sentia que seria uma conversa longa. Como vou dizer pra ela, que o irmãozinho dela, quase me matou? Não tenho coragem de destruir a imagem que ela tem dele, dói só de imaginar. Ele morreu, já é doloroso demais pra ela, então, eu poderia poupar ela de mais dores. Mas Anna merecia a verdade, então, mesmo que doesse, eu contaria tudo.
Eu: Isso não é completamente mentira. – Falei fazendo Anna me olhar confusa.
Me levantei, tirando a blusa de frio que usava, e percebi seus olhares por meu corpo. Mostrei também a cicatriz do corte no meu pé, e algumas outras. Ela parecia assustada, acho que queria uma explicação.
Anna: Eu não... Ainda não entendo. O que aconteceu? Um acidente?
Eu: Sei que você conheceu uma versão do seu irmão, e no início, conheci a mesma. Mas depois que nos casamos, um novo Gabriel surgiu. – Tentei explicar – Ele passou a ser mais ciumento, me afastou da minha família, dos meus amigos, até eu só ter ele. Me fez perder todo mundo. Assim poderia fazer o que quisesse comigo. Eu não teria como pedir ajuda
Anna: O que tá querendo dizer?
Eu: Essas marcas, todas, foram feitas pelo seu irmão. – Anna negou – Ele me batia quando chegava bêbado, depois fingia que nada tinha acontecido e me tratava bem. Prometia que não iria mais acontecer, até ele me bater outra vez. Os abusos também não demoraram a acontecer. – Senti minha voz embargar – Ele ignorava os meus pedidos pra parar, ou os sinais de que aquilo me machucava, e ficava o tempo que queria ali; me matando aos pouquinhos.
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Salva-me
FanfictionNão existe mulher que gosta de apanhar. •Existe mulher com medo de denunciar. •Existe mulher sem dinheiro para ir embora. •Existe mulher humilhada e desacreditada. •Existe mulher machucada, frágil, sem vida.