Já passaram algumas horas desde a primeira vez que o médico veio falar com a gente na primeira vez que chegamos aqui. E nessas últimas duas horas, passei no quarto, com Marília e minha irmã. Marilia não soltou a mão da minha irmã, ela mal se mexeu desde que estamos aqui. Seus olhinhos chorosos pediam socorro, sei que Marilia tenta fingir que está bem, e que nada afeta ela. Mas ela é sensível; não como eu. Mas ela tem seus pontos fracos.
Eu: Pediu ela em casamento? – Perguntei analisando a marca da aliança no dedo da minha irmã.
Marilia: É, eu pedi ontem. – Sorriu fraco. – Qual o nível de intimidade de vocês? Sei lá, vai que eu fale o que ela nunca te contaria.
Eu bufei negando pra Marília.
Eu: Somos como diário uma da outra. – Eu disse me lembrando sobre todas as conversas que já tivemos. – Conversamos sobre tudo. Se tá com vergonha de falar sobre a vida sexual da minha irmã, não precisa. Saiba que ela já me contou tudo, me mandou mensagem assim que acordou.
Marilia me encarou sorrindo, provavelmente tão feliz quanto eu. Ela ama brega, no volume máximo. Conta aos quatro ventos seus amores nem sempre reais. Então, sei que Marilia fica feliz por Maraisa também amar desse jeito.
Marilia: Não foi só uma noite, sabe? – Começou – Ela superou um trauma. E isso me deixa inteiramente feliz. Isso é o máximo, Maiara. Sua irmã voltou a se sentir segura, não sente mais nojo do corpo dela, e isso me deixa realizada.
Balancei a cabeça concordando com Marília. Minha irmã realmente parecia melhor, em relação a muitas coisas. Mas o que eu mais observei, foi a segurança com o corpo dela. Fazia tanto tempo que via minha irmã vestindo um biquíni, que quando vi, quase soltei fogos. Nossa conversa foi rapidamente interrompida pelo Ricardinho, que apareceu na porta nos chamando.
Ricardo: Desculpa incomodar vocês, mas o Heitor tá chamando a gente. Lá fora.
Maraisa não deu nenhum sinal de que está acordando. Odeio não poder fazer nada. Odeio vê-la naquele estado e não poder ajudar, ou fazer o mínimo. Não consigo tirar aquela cena da minha cabeça, não consigo tirar a imagem da minha irmã outra vez, naquele hospital. Isso tá acabando comigo. É como se a cada segundo, um pedaço meu fosse embora. Senti tudo travar quando a vi, mas tentei ser forte por Marilia, queria que ela se sentisse segura, sabia que aquilo também estava sendo ruim pra ela.
A ideia de que talvez a minha irmã não acorde, acaba comigo, e saber que também tá assustando Marília, é o que me faz sentir ainda pior. Marilia sabe muito sobre essa área de saúde, conhece muitas coisas, está muito bem informada. O fato dela ter se assustado com cada palavra que saía da boca do médico, me deixou sem chão. Eu queria que esse pesadelo todo acabasse, parece que Maraisa nunca ficará bem.
Ela tá tentando. Tá tentando superar os traumas, as dores, e quando finalmente está conseguindo, algo a puxa pro fundo do poço. Sei que isso trará as dores dela outra vez. Trará seus demônios, os farão acordar, e isso me assusta. Saímos do quarto onde minha irmã estava, o médico queria conversar com a gente outra vez. Eu me sentei ao lado de Marilia, que estava desolada ao meu lado, e deitei minha cabeça em seu ombro.
Marília: Sua irmã é forte, baixinha. Geralmente, pessoas que tem uma parada tão grande como ela, precisam de aparelhos por um tempo. – Marilia sorriu baixinho. – Mas a única coisa que sua irmã tá usado, é um oxigênio no nariz. Ela não foi entubada, e isso é uma vitória.
Eu: Acha que ela vai acordar?
Marilia se calou, como se precisasse pensar, ou como se tentasse se convencer do que estava prestes a dizer.
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Salva-me
ФанфикNão existe mulher que gosta de apanhar. •Existe mulher com medo de denunciar. •Existe mulher sem dinheiro para ir embora. •Existe mulher humilhada e desacreditada. •Existe mulher machucada, frágil, sem vida.