As coisas pareciam realmente estar mudando. Gabriel passou a semanas me levando pra sair, jantar fora, fazia café e almoço pra mim, víamos filme, me ajudava em algumas coisas que era difícil fazer sozinha, ele parecia outra pessoa. Parecia ter realmente se arrependido de tudo que fez. Não sei sei se isso vai durar muito, mas queria que não acabasse.
Eu achei que eu nunca mais amaria Gabriel como tô amando agora. Ele tá me tratando como nunca tratou, nunca imaginei que sentiria isso por ele de novo. Hoje é o dia que vou pra casa dos meus pais, já tirei os pontos do meu pé, e agora só tem uma cicatriz pequenininha.
Gabriel tinha saído falando que ia ao supermercado comprar alguma coisa pra ele fazer almoço, já que eu vou almoçar fora, e até agora não tinha voltado, já estava achando estranho. Me arrumei, e fiquei no quarto esperando Gabriel chegar. E 10 minutos depois ouvi o barulho do carro.
Desci rápido, ansiosa e saltitante, finalmente vou ver minha família depois de tanto tempo, meu coração tá até batendo errado. Assim que cheguei na cozinha Gabriel estava entrando pela porta da garagem, ele carregava algumas sacolas, e depois de colocá-las na mesa, me encarou.
Seu olhar estava diferente, parecia pesado e cansado, não entendi o que tinha acontecido, mas estava diferente de quando saiu.
Maraisa: O que aconteceu? – Toquei no braço dele.
Gabriel: Não enconsta em mim. – Tirou minha mão do braço dele.
Gabriel cheirava a álcool. Ele com certeza bebeu horrores, e é aqui que meu pesadelo vai começar de novo. Eu me afastei assustada com seu tom de voz, e encarei ele.
Maraisa: Você bebeu? – Perguntei mas ele ignorou – Gabriel, eu tô falando com você. – Segurei o braço dele.
Gabriel: EU FALEI PRA VOCÊ NÃO TOCAR EM MIM! – Gritou – Não enconsta em mim.
Maraisa: Amor, o que aconteceu? – Não queria acreditar que ele tinha voltado a ser como antes – Pode conversar comigo.
Gabriel: Aconteceu que você é uma inútil. – Gritou me olhando – O que fez hoje? Ou ontem? O que fez durante a semana?
Maraisa: Eu não tô te entendendo. – Balancei a cabeça.
Meu interior gritava pra que eu saísse dali. Gritava pra que eu fugisse antes que ele fizesse algo pior, antes que ele me batesse, ou jogasse alguma coisa em mim. Mas uma parte de mim, ainda acreditava que as coisas mudariam.
Gabriel: Passou a semana igual princesinha. Sem fazer nada o tempo todo. – Falou com desprezo – Imprestável! E pra onde você pensa que vai com essa roupa?
Maraisa: Ver os meu pais. Você disse que me levaria.
Gabriel: Eu disse, mas não vou levar. E você não vai sair. – Engoli seco sentindo o nó se formar – Tem muita coisa pra fazer aqui, limpar os quartos, a louça, tudo. Não fez nada a semana toda.
Sorri fraco.
Maraisa: Não fiz porque você abriu o meu pé. – Comecei sentindo a voz embargar – Não fiz, porque você disse que... – ele me interrompeu.
Gabriel: Para de berrar. – Ele segurou meu braço – Você não vai sair.
Maraisa: Tá me machucando, me solta.– Falei sentindo o medo me consumir.
Passei a semana achando que eu, finalmente seria feliz. Mas pelo jeito não vou não. Acho que o mais temido final de sonho acabou, e acabou quando eu não esperava. Confesso que no fundo achei que ele iria voltar as ser assim, mas foi uma semana tão boa, leve, achei que ele iria mudar de verdade.
Maraisa: Eu tô pedindo pra você me soltar! – Sem pensar muito pisei em seu pé com toda força que tinha.
Na tentativa de correr pro quarto e me trancar lá, escorreguei na escada caindo do quinto degrau até o primeiro, e em seguida sendo puxada por Gabriel. Com certeza eu tinha machucado as minhas costas, a dor era tão intensa que eu tinha vontade de chorar.
Gabriel: Ficou maluca? – Gritou – Tá querendo morrer? – Bateu no meu rosto.
Maraisa: Não faz nada, por favor. – Pedi já chorando, eu infelizmente voltei a sentir medo dele. Cada movimento seu, era uma batida acelerada no meu coração.
Seus olhos estavam como de costume; vermelhos e transbordando ódio. Tenho certeza que tudo que ele não fez em dias, vai fazer hoje. Eu queria correr dali, mas mal conseguia me mexer. Antes que Gabriel dissesse alguma coisa ou fizesse alguma coisa, o celular dele começou a tocar, e eu agradeci mentalmente por isso. Ele levantou rápido indo até o celular, falando alguma coisa em seguida, e depois saiu sem dizer nada.
Tentei me levantar do chão 2 vezes mas não dava, tudo doía, meu corpo todo, minhas costas travaram, eu não conseguia fazer nada além de chorar. Não sabia pra onde Gabriel tinha ido, nem sabia com quem ou quando voltaria. Todo meu corpo estava tremendo. Tudo. Minha respiração começava a falhar pelo tanto que eu estava chorando, e eu fiquei ali no chão, por horas. Até Gabriel chegar a me olhar.
Gabriel: Ainda tá aí? – Perguntou – Levanta.
Eu neguei engolindo o choro.
Maraisa: Não consigo. – Sussurrei – Não consigo me mexer.
Gabriel: Você caiu da escada? – Eu assenti – Tá viva pelo menos, agora levanta!
Maraisa: Não, por favor me ajuda. – Senti minha voz falhar – Por favor.
Gabriel: Tá, segura em mim.
Eu não sei o que fez ele me ajudar, mas ele me pegou no colo, e me levou pro quarto. Eu não conseguia parar de chorar. E não era de medo, era de dor. Tudo doía muito. Ele me colocou na cama, bebeu uma água, e voltou pro meu lado com os olhos vermelhos.
Maraisa: Parabéns, se queria que eu não fosse ver os meus pais, você conseguiu.
Gabriel: Desculpa.
Neguei.
Maraisa: Você diz isso tantas vezes, que essa palavra nem tem mais sentido. – Ele suspirou se levantando e parando do outro lado da cama.
Gabriel: Posso ver suas costas? – Neguei – Por favor, talvez possa por um gelo.
Maraisa: Tanto faz.
Com auxílio dele, eu me virei puxando a blusa, e Gabriel olhou minhas costas ficando uns 10 segundos em silêncio.
Gabriel: Tá muito vermelho. Isso vai ficar roxo! – Afirmou – Vou pegar gelo, ou prefere ir pro banho?
Maraisa: Não consigo levantar, já disse.
Gabriel: Então vou pegar gelo – segurei a mão dele.
Maraisa: Por que tá sendo bonzinho?
Gabriel: Porque você tá muito machucada. Fiquei preocupado. E se deslocou alguma coisa aí? – Balancei a cabeça.
Maraisa: Tá tudo bem. Não precisa se preocupar.
Ignorando o que eu disse, ele foi buscar o gelo, e voltou passando uma pomada e colocando o gelo que havia trago.
Gabriel: Amor, isso tá muito feio, vou levar você no hospital.
Maraisa: Não, não precisa. Aquela mulher sabe! – Gabriel se assustou – Ela me fez muitas perguntas, ela vai me ver, e vai saber.
Gabriel: Tá, então fica quietinha aí e deixa o gelo aqui.
Não sei se ele quer ser meu maior trauma, ou meu marido que apareceu em um cavalo branco. Mas se alguma forma ele conseguia ser os dois, mesmo um aparecendo mais que o outro. Eu fiquei com aquele negócio nas minhas costas por muito tempo, a posição mais confortável era daquele jeito, barriga pra baixo, então, dormi daquele jeito.
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Salva-me
FanfictionNão existe mulher que gosta de apanhar. •Existe mulher com medo de denunciar. •Existe mulher sem dinheiro para ir embora. •Existe mulher humilhada e desacreditada. •Existe mulher machucada, frágil, sem vida.