Escolhas

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Assim que a consulta acabou, a médica explicou algumas coisas, seguidas de algumas recomendações pra Lívia continuar com uma gestação boa e leve, e nos liberou em seguida. Marilia saiu da sala sem ao menos falar com Lívia, e foi em direção ao estacionamento. Eu sei que ela odeia a mulher, é aceitável. Mas não acho que ela deveria tratar Lívia desse jeito, pelo menos, não agora. Antes que Marilia entrasse no carro, segurei sua mão fazendo ela parar de andar.

Eu disse pra elas conversarem hoje, e Marilia que tinha que ser a pessoa que puxaria a conversa, mas ela não fez isso. Seus olhinhos curiosos me encararam, como se perguntassem se eu estava bem.

Marilia: Tem alguma coisa errada? – Eu assenti.

Eu: Sim. Vocês! – Eu disse – Eu sei que você tá com raiva dela, mas vocês não podem fingir que nada aconteceu. Precisam conversar, e vão fazer isso hoje.

Marilia me encarou negando.

Marilia: Não, amor. Não precisamos! – Disse firme – Vamos pra casa. Você ainda não comeu nada.

Segurei sua mão outra vez a repreendendo com o olhar.

Eu: Marilia! – Ela bufou, encarando Lívia do outro lado da clínica – Anda, vai falar com ela.

Marilia: O que quer que eu fale? – Perguntou irritada.

Eu: Deixa que eu mesma faço!

Soltei a mão da mulher rápido, indo na direção de Lívia que estranhou minha volta, mas não questionou logo. Pensei em que desculpa falaria pra ela, ou pra onde levaria ela, mas não queria ir muito longe. Ela analisou minha expressão, olhando pra trás, me fazendo olhar por cima dos ombros e ver Marilia vindo.

Lívia: Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou confusa – Ficou com alguma dúvida? – Encarou Marilia, isso era uma coisa que me incomodava, ela nunca direcionava a palavra a mim. Ou me encarava por muito tempo.

Marilia: Não, não ficamos! – Corrigiu ela, me incluindo na conversa – A gente precisa conversar!

Lívia: Aqui? – Perguntou analisando o lugar.

Eu pigarreei quando percebi que Marilia demorou de responder, e ela olhou pra Lívia outra vez.

Marilia: Não. Onde quer ir?

Lívia: Pode ser em algum restaurante? Eu tô com muita fome. – Marilia assentiu me olhando, como se precisasse da minha permissão, mas eu dei de ombros.

Eu não sei o que exatamente eu sentia. Afinal, mesmo que estávamos indo falar sobre o bebê, eu nem deveria estar ali. Sei que futuramente ele também fará parte do meu dia a dia, mas ainda acho que não estou pronta pra isso. Lívia disse que precisava pegar um documento antes de irmos, e então, eu fui pro carro com Marilia. Ela me encarava como se esperasse eu dizer alguma coisa, mas eu não diria nada.

Marilia: Tá tu...

Lívia: Posso ir no banco da frente? – Perguntou assim que chegou no carro – É que ir aqui, me deixa enjoada.

Suspirei ao ouvir a voz provocadora dela, e tirei o cinto pra sair do carro. Mas Marilia saiu também, o que deixou eu, e Lívia confusas.

Marilia: Tô cansada, não quer dirigir?

Um sorrisinho bobo caiu em meus lábios quando olhei pra loira, e ela sorriu pra mim. Peguei a chave, indo pro banco que Marilia estava antes, e dei partida no carro indo pro restaurante que Marilia gosta. Não gostava dos olhares de Lívia me lançava às vezes, acho que ela esqueceu da visão periférica, ou que consigo ver os olhares dela pra mim. O caminho foi em completo silêncio; fora a voz doce de Marilia cantando no fundo do carro. Essa era uma coisa que eu amava, ouvi-la cantar.

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