Modo automático

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Gabriel trabalha durante o dia inteiro, vem pra almoçar, volta pro trabalho e chega só depois das 17 horas. Confesso que talvez esses intervalos são os momentos que mais penso na merda que fiz por ter mente vazia. Eu tento ajeitar tudo logo quando acordo, depois arrumo as coisas do almoço, limpo a casa e descanso. E aí tudo vem. Essa é a hora que os flashs invadem minha cabeça e me fazem lembrar do quanto minha irmã me avisou que isso daria errado.

Desde o início Maiara comentava como achava Gabriel estranho, recuado, muito controlador. Ele queria sempre saber pra onde eu iria, com quem, com que roupa, quando voltaria. Não esqueço da primeira vez que ele fez um questionário sobre isso, foi no começo do relacionamento.

Flashback on...

Maiara: Maraisa, seu celular tá cheio de notificação.

Maraisa: Ele tá no silencioso, nem tinha lembrado de por pra tocar.

Maiara e eu tínhamos decidido de ir ao shopping ver um filme que tinha acabado de sair. Com toda pressa, havia me esquecido de avisar o Gabriel, e provavelmente ele me mandou muitas mensagens. Faz horas que estamos no shopping, e desde que cheguei aqui não pego no celular.

Agora já estávamos em casa, eu tinha acabado de sair do banho e Maiara estava na cama, perto do meu celular. Querendo evitar discussões, peguei meu celular vendo quantas mensagens haviam ali, e sem pensar muito abir o aplicativo pra responder.

Maiara: Uai, mas ele tá ali. - Maiara voltou da varanda assim que ouviu um barulho de carro.

Maraisa: Que rapidez.

Maiara: Perseguição, isso sim. - Resmungou me fazendo repreender ela.

Maraisa: Não começa!

Sem demorar mais, desci pra atender a porta sendo seguida por Maiara. Ela não foi até a porta, ficou na cozinha, mas eu sabia que ela estava ali pra saber o que ele iria falar comigo. A campainha não parava de tocar, Gabriel estava desesperado.

Assim que abri a porta, dei de cara com um Gabriel com os olhos cheios de raiva. Era notório sua irritação. Mas, tentei ignorar e coloquei um sorriso no rosto.

Gabriel: Onde você estava? Não me atendeu, e nem respondeu minhas mensagens. - Sua voz estava alterada e firme.

Agora eu só torcia pra que Maiara não viesse até a porta. Ou ela expulsaria ele aos berros. Respirei fundo antes de responder, e vi a expressão do rosto dele mudar pra mais calmo. Olhei pra trás tentando achar o motivo daquilo, e vi a Maiara encarando ele de longe.

Maraisa: Eu fui ao shopping com ela, amor. Desculpa não ter respondido.

Gabriel: Tudo bem, princesa. Só fiquei preocupado. - Sua voz agora estava calma, diferente de quando chegou aqui. Nem parecia a mesma pessoa.

Maraisa: Quer entrar?

Gabriel: Não, vida. Vou pra casa, só vim ver você. - Me beijou - Te amo.

Maraisa: Também te amo.

Gabriel saiu como se nem tivesse gritado quando chegou, e assim que eu fechei a porta vi Maiara outra vez.

Maiara: Eu tô te avisando. Esse homem não presta.

Maraisa: Maiara, para.

Maiara: Ele é controlador, Maraisa. Quer sempre saber onde você tá, com quem tá, quando saiu, quando vai voltar. - Eu neguei.

Maraisa: Isso é cuidado. Para de ser paranóica.

Maiara: Tá bom. Quando piorar não fala que eu não avisei.

Flashback off...

E como sempre, Maiara estava certa. Sinto saudades dos nossos momentos, saudades de quando saíamos, quando dormíamos juntas. Maiara é a minha metade, e por mais que eu tenho contato com ela, não é a mesma coisa mais. Ela desconfia sempre que tem algo acontecendo, mas, eu nunca admiti. Não posso, Gabriel me ameaça tanto que tenho medo até de respirar perto dele.

Engraçado que a maioria das vezes, ele tenta suprir essas coisas, com momentos bons uma vez ou outra. Flores, ir ao shopping comprar roupas, fazer um clima e acabar na cama, sempre tem algo pra tentar cobrir o que ele faz, mas nunca adianta. A pior parte tá sempre ali, marcada em cada pedacinho do meu corpo.

Vi que estava perto do horário de Gabriel chegar, e logo subi pro quarto de visitas. Hoje é sexta, e geralmente nas sextas ele sempre bebe muito depois do trabalho. Ouvi o barulho do portão, e dele esbarrando em algumas coisas, meu coração já estava batendo errado. Era horrível sentir medo dentro da minha própria casa.

Gabriel: Merda! - Resmungou - Onde você tá? Eu tô com fome! - Perguntou entrando no quarto do lado, dava pra ouvir as portas. Mas ele não demorou pra chegar onde eu estava.

Maraisa: Oi!

Gabriel: Eu tô com fome, sua insolente. - Gritou - O que você fez? Inútil.

Maraisa: Eu só...

Gabriel: Deixa eu adivinhar. Não fez nada.

Maraisa: Você me deixou o dia inteiro trancada em casa. - Gritei também - Arrumei a casa, lavei tudo que você sujou.

Gabriel: Com quem você acha que tá falando? Para de gritar! - Ele segurou meu rosto - NÃO GRITA COMIGO! NUNCA MAIS, ME OUVIU?

Sua mão descontou um tapa no meu rosto, que já estava machucado da última vez, e não consegui não chorar.

Maraisa: Eu não aguento mais você, Gabriel. - Falei baixinho assim que ele me soltou.

Gabriel: Pare de resmungar, fale alto. - Levantei meu rosto!

Maraisa: EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ! - Ele me encarou - Eu resmunguei, Gabriel?

Seus olhos estavam cheio ódio. Quase consegui vê-los mudar de castanho pra vermelho, assim como sua pele. Seu rosto estava vermelho, e suas mãos fechadas, prontas para me bater. Tenho certeza que até o final disso aqui, ele vai jogar alguma coisa em mim.

Gabriel: Eu disse pra você gritar! - Alterou a voz.

Maraisa: Eu vou denunciar você. Seu imbecil.

Gabriel: Faz isso! Faz isso pra você ver o que acontece com sua irmãzinha.

Maraisa: É bom me ameaçar? Faz você se sentir bem? Parece um disco ralado, tem tão pouco argumentos, que a única coisa que sai da sua boca, são ameaças.

Com toda raiva que ele tinha, ele pegou um copo que tinha ali, e jogou na minha direção. O copo bateu no meu braço, e caiu quebrando no meu pé. Eu olhei rápido pro chão vendo sangue no carpete, e já tive que desviar de outro copo. Eu me arrastei até o closet tentando me livrar dele, e tranquei a porta.

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