Precisa de ajuda?

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O amigo das perguntas se chama Ricardo, enquanto os outros dançavam e bebiam com o som no volume máximo, Ricardo não parava de me encarar com um olhar desconfiado e, protetor?, talvez. Teve uma hora que peguei ele me analisando, vi que ele olhou para o meu pé ainda um pouco machucado por ter sido um corte fundo, e franziu o cenho em preocupação.

Naquele momento eu pude perceber que nem tudo está perdido, talvez através de Ricardo pode existir uma saída, talvez ele seja a minha salvação ou de fato a minha ruína, nunca se sabe. Sei que ele achou tudo muito estranho, ninguém faria tantas perguntas ou ficaria analisando a outra pessoa se não tiver ficado com um pé atrás, saber disso me trouxe alívio mas ao mesmo tempo muito medo de dar errado.

Eles foram embora mas prometeram voltar. Ao lado deles Gabriel parecia até um menino inocência, sempre mantendo a pose de um bom homem, mas quando eles saíram por aquela porta, o monstro se revelou.

Gabriel começou a despejar inúmeros xingamentos em cima de mim, o álcool dominava o corpo dele. Gabriel não se aguentava em pé, mas isso não o impedia de ser tão cruel.

Eu: Posso ir me deitar agora?. Tentava a todo custo engolir o choro, mas ainda sim a minha voz mostrava o meu desespero.

Gabriel: Antes limpe toda essa bagunça!. Diz embolado.

Eu: Eu já limpei, não tem bagunça nenhuma!. Ele me rodeia e depois joga toda a sopa de ervilha que tinha sobrado no chão.

Gabriel: Agora tem!. Meu sangue ferveu de raiva, mas tive que me calar para não levar uma coça ou ser violentada hoje de novo.........— Não me espere para dormir!. Ele pega as chaves de casa, pega o telefone fixo escondendo em qualquer canto e depois sai trancando tudo me deixando sozinha.

Limpei toda aquela sopa praguejando a existência de todo mundo e quando terminei fui para o banheiro tirar toda aquela sujeira de mim. Liguei o chuveiro e me sentei naquele chão de roupa e tudo, a água molhava o meu corpo inteiro e as minhas lágrimas acompanhavam, esse é o momento que tenho para deixar o peso cair sobre mim e chorar sem ele tentar me calar. Ficar sentada embaixo do chuveiro é como se eu estivesse lavando a alma, mesmo que assim que eu o desligo e a sujeira prega em mim de novo, gosto de ter a sensação de estar completamente limpa por pelo menos alguns minutos.

Embaixo desse chuveiro eu gosto de gritar, me bater, gosto de prender a minha respiração, tudo em busca de por para fora toda a minha dor, mas nada funciona. Lembro de um questionamento que a Maiara me fez a um tempo atrás e que nunca soube responder, e que agora eu finalmente sei a resposta.

"Por que machucar a si mesma?, como que a dor física pode aliviar a dor que sente no coração?".

Para mim a resposta é: A dor física acaba "enganando" o nosso cérebro fazendo com que a dor seja tão insuportável ao ponto de fazer a dor do coração parecer menos importante no momento, talvez.

Parando para pensar, essa resposta parece ser tão boba e sem nexo, pois depois que a dor física for embora, a dor do coração ainda vai existir e a única diferença é que você vai estar ferrada psicologicamente e fisicamente, pois seu corpo e seu coração vão ter cicatrizes feias.

Enfim. Arranco toda a roupa de mim e termino o meu banho de forma decente, quando acabo, me enrolo na toalha e vou para o quarto para colocar uma roupa. A noite passou e o dia amanheceu, no relógio se marcava 9 horas da manhã e até agora nenhum sinal do Gabriel, já estava estranhando o fato dele não ter esmurrado a porta do quarto até agora, mas assim que cheguei na sala descobri o motivo. Gabriel dormia no sofá de conchinha agarrado com uma ruiva que, se já é linda dormindo, acordada deve ser uma deusa. Além de fazer tudo o que faz comigo, ainda me trai na minha cara.

Tive vontade de jogar água fervendo nos dois, mas antes de eu me mover para fazer tal ato, a ruiva bonitona se move acordando o Gabriel. Ele se senta bruscamente acordando a donzela e assim que seus olhos me encontram, ele sorrir cínico e beija testa da garota, reviro os olhos e volto para o quarto. Horas depois Gabriel bate na porta do quarto avisando que iria trabalhar, mas antes de ir, não perdeu a oportunidade de me incomodar.

Gabriel: Sabia que seu cabelo é o que eu mais gosto em você?. Ele toca o meu cabelo alisando do topo até as pontas.........—  Amo enrolar a minha mão nele!. Diz enrolando a mão.......— E puxar bem assim!. Ele puxa para trás.......— Seu cabelo é uma alça e ele só te deixa ainda mais atraente, ele tem o tamanho perfeito. Não faz ideia de como fiquei excitado quando te vi pela primeira vez com esse cabelo batendo na bunda, tive vários pensamentos impuros com você!. Ele aproxima o rosto do meu ainda segurando o meu cabelo........— Até mais tarde!. Me dá um selinho e sai.

Vou atrás dele para conferir se ele havia saído de fato, e assim que comprovo que sim, volto para o quarto correndo passando a mão em uma tesoura e parando em frente ao espelho. E sem pensar duas vezes, corto o meu cabelo deixando ele batendo no ombro. Naquele momento eu chorava de raiva e nojo, raiva de mim por ter um cabelo grande e nojo por parecer um objeto sexual com o cabelo grande.

Eu amava o meu cabelo, que pena que agora ele não faz diferença.

Recolho todo o cabelo do chão colocando em uma sacola, vou para os fundos da casa e coloco fogo nele culpando ele por ser a razão dos abusos que sofro. Escuto a campainha tocar e ao mais depressa eu prendo o restante do meu cabelo em um coque, seco o meu rosto e vou atender à porta dando de cara com o Ricardo.

Ricardo: Olá Maraisa, Gabriel tá por aí?.

Eu: Tá não, ele já foi trabalhar!. Digo franzindo o cenho pois ele sabia que Gabriel saía cedo para trabalhar.

Ricardo: Aé, é verdade. É que eu estava passando por aqui por perto e resolvi dar um oi!. Forço um sorriso.......— Mas enfim, eu já vou indo então!. Ele aperta a minha mão e se vira para ir, mas alguma coisa fez ele se virar para mim novamente.........— Está tudo bem com você, Maraisa?, está precisando de ajuda?.

Eu: Como assim?. Arregalo os meus olhos.

Ricardo: Sei lá, parece que você estava chorando. Seu pé com um corte feio, tô vendo seu braço com arranhões, ontem você estava andando estranho e toda hora colocava a mão nas costas com uma carinha de dor. Maraisa, por um acaso o Gabriel encosta as mãos em você?. Nego com a cabeça um pouco assustada........— Pode me dizer a verdade, tá bem?, eu posso te ajudar!.

Eu: Não, você não pode. Vai embora, por favor, Gabriel não faz nada comigo!. Tento fechar a porta, porém, ele segura me impedindo.

Ricardo: Eu não sou idiota, eu estou vendo. Você tá oprimida e cheia de hematomas, dá para ver que chora todos os dias. Ele não trata você bem. Maraisa, ele te faz de escrava!.

Eu: Você não sabe de nada, nada. Não se meta, por favor!. Me controlo para não desabar na frente dele.

Ricardo: Tem medo dele te matar, ele te ameaça com alguma coisa caso você decida denunciar ele à polícia?.

Eu: Para, por favor!. Coloco as minhas mãos nos meus ouvidos em busca de não escutar ele falar........— Chega de perguntas, pelo amor de Deus!.

Ricardo: Maraisa?, Maraisa?, olha pra mim!. Não olho e continuo com as mãos nos ouvidos.......— Precisa de ajuda?, eu posso ajudar você!.

Eu: Chega de perguntas. Chega de perguntas. Chega de perguntas. Chega de perguntas!. Repito desesperadamente e escuto ele suspirar.

Ricardo: Tudo bem, já tenho a resposta das minhas dúvidas. Eu vou embora, mas saiba que não vou descansar enquanto não tirar você das mãos do Gabriel e espero de coração que não fale com ele sobre essa nossa conversa, sei que quer a minha ajuda, mas o medo que sente por ele é grande o suficiente para te fazer recusar!.

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