O tempo no hospital passou, confesso que não foi nada fácil ter que suportar aquela estadia dolorosa, meu corpo está cansado e todo furado devido a tantos exames. Nesse momento me encontro deitada na minha antiga cama na casa dos meus pais, tudo o que mais desejo nesse momento é poder andar por aí sem precisar da ajuda de ninguém, mas infelizmente não posso.
Dependo da ajuda dos demais até para sentar no vaso, minha mãe e minha irmã sempre me dão banho e colocam a minha roupa, me sinto uma verdadeira boneca de pano. Me sinto tão presa na mesma proporção em que me sinto livre, Gabriel deixou sequelas em mim que nunca poderão ser curadas, para todo canto que olho vejo ele e isso me sufoca. Qualquer movimento que faço meu corpo inteiro dói, e então eu vejo ele parado na minha frente me dizendo que só estou nessas condições por culpa minha, ou então me dizendo que mereço estar assim por ter causado a morte dele. É complicado.
Não consigo desabafar com a minha irmã ou com qualquer outro alguém, não gosto de ter a sensação de que estão com pena de mim e não quero mais escutar eles dizendo: "Não foi culpa sua", essas palavras se tornaram vazias para mim. Não faz diferença nenhuma mais se foi minha culpa ou não, Gabriel está morto e eu me tornei praticamente uma deficiente, palavras de consolo não vai mudar a situação em que me encontro.
Minha mãe conta uma história para mim toda a noite, bobo eu sei, mas é o jeitinho dela de dizer que sempre serei sua garotinha independente de qualquer coisa. Meu irmão aparece no meu quarto todos os dias para me dar um beijinho no rosto e me perguntar: "Como está se sentindo hoje, gatinha?", e a minha resposta segue sendo sempre a mesma: "Estou sobrevivendo". Meu pai trás uma rosa para mim toda quarta-feira, ele sempre me entrega dizendo: "Uma rosa para a minha rosa", e eu amo esse gesto, me faz gostar de rosas novamente. Ricardo e Julia sempre dão um jeito de aparecer para me fazer companhia, se tornaram verdadeiros amigos. Já a Maiara não larga do meu pé nem por um segundo e sempre dá um jeitinho de me fazer sorrir de verdade, ela me conta tudo o que acontece e acabou me contando que está gostando de alguém, achei fofo e ao mesmo tempo fiquei com um medo inexplicável, não gosto de pensar na possibilidade dela passar pela mesma coisa que passei.
Já comecei com a fisioterapia, conseguimos ter pela metade do preço pelo simples fato de eu ser a "protegida" da Julia. Segundo o pessoal a Marília é um amor de pessoa, já eu teria amado ela se ela não me fizesse passar por toda essa tortura. Ela é loira, alta e com uma risada escandalosa mas muito boa de ouvir, ela sempre me dá um chocolate no final de cada sessão, isso me irrita um pouco porque me sinto uma criança ganhando um brinde por bom comportamento.
Hoje a sessão vai ser aqui em casa, já estava de banho tomado só a espera dela, já estava quase cochilando quando escuto batidas na porta. Minha mãe entra sendo acompanhada da loira que assim que me vê, sorrir.
Marília: Preparada para a sessão de hoje?. Pergunta com aquele humor alegre que me irrita.
Eu: Não e por favor, tem como você parar de ser uma pessoa alegre?. Ela rir e minha mãe me repreende.
Marília: Eu preciso estar alegre para deixar a minha paciente alegre, e assim teremos uma boa convivência!. Ela se aproxima de mim.
Almira: Eu vou deixar você trabalhar, Marília, qualquer coisa pode me chamar!. Marília assente.
Marília: Vamos movimentar essas pernas?. Suspiro cansada........— Não não, deixe o desânimo de lado!.
Eu: Eu não aguento mais essa coisa toda, Marília, isso dói demais!.
Marília: Eu sei que dói, mas faz efeito. É para o seu bem, ou você prefere ficar dependendo dos outros para tudo o que for fazer?, precisa deixar o medo da dor de lado e enfrentar para melhorar logo!.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Salva-me
FanfictionNão existe mulher que gosta de apanhar. •Existe mulher com medo de denunciar. •Existe mulher sem dinheiro para ir embora. •Existe mulher humilhada e desacreditada. •Existe mulher machucada, frágil, sem vida.