Capítulo 4

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Ao amanhecer, abro os olhos muito sonolento. Não deixei Faith dormir comigo, não quero arriscar que ela receba qualquer tipo de castigo de meus pais. Não esqueço suas palavras:

"- A culpa não é sua por nascer diferente. Você é especial, Felix. Não é atoa que o universo está em seu rosto."

Minha irmã nunca foi muito delicada, nem falante, mas comigo sempre foi diferente. Nossa relação é muito próxima e amorosa, ela é minha guerreira. Mais forte que eu, sempre me defendeu, o quanto pode. A única pessoa que ainda entende o significado da palavra 'Amor'.

Além da louça suja, vejo que, ao lado, está um pedaço de pão. Certeza que Faith passou aqui enquanto eu estava adormecido.
De repente, me deparo com a tropa imperial ao longe. Faith surge no horizonte correndo, desesperada. Ela adentra aos berros.

- Eles estão vindo, corre para o monte e eu te encontro lá.

- Mas Faith, o que faremos, eles vão continuar me procurando, eu tenho um alvo nas costas.

- Não pense muito, se pensar, estará morto ao anoitecer.

Num surto de bravura saio correndo, com uma das espadas de meu pai em punho. Correndo, pois minha vida, de fato, depende disto, tropeço inúmeras vezes. Meu corpo ainda dói muito. Não tenho mais visibilidade da Faith, mas escuto seus passos atrás de mim.
A espada, muito pesada, cai e deixo-a para traz. Nem ao menos conseguiria usar mesmo, nunca se quer empunhei uma em minha vida. 

- Lá está ele. - Escuto a minha esquerda, alguns soldados da tropa, junto com meu pai.

- Acha mesmo que vai escapar? - Meu pai grita ao longe, com um sorriso debochado no rosto.

Permaneço correndo, se quiserem me matar com lanças, que matem, não me entregarei assim facilmente.
Tropeço em um morro, eles correm muito rápido, e tem cavalos, mas onde estou correndo eles não conseguem adentrar, então só tentam me cercar. Não entendo porque não atiram, estão com suas lanças e plena visão. Começo a entrar em pânico, pois não enxergo Faith e meu fôlego já está escapando de mim.

Chego às margens do penhasco, com um gigante rio abaixo dos meus pés. A adrenalina grita que pule no rio, mesmo que muito alto, mesmo que a chance de morrer seja praticamente 100%, mas se esses homens não atiraram ainda é porque um destino muito obscuro me aguarda.
A poucos metros escuto um grito desesperado:

- FELIX, PULA, RÁPIDO! - Minha irmã grita, sendo rendida por um soldado.

- Faith? Solta ela.

- Solto, quando você der três passos para traz. - Ele aponta para um soldado que empunha sua espada em minha direção.

Começo a lacrimejar, não queria ver minha irmã nesta posição, ela é a única que já me amou ou se preocupou comigo.

- Eu vou com vocês, mas soltem ela.

- Certo. - O soldado solta a Faith que corre e me abraça.

- Não faça isso, eles arruinarão sua vida.

- Não tenho escolha, minha vida já está fadada a isto. Só quero que você fique bem. Eu te amo, Faith. - Falo, por fim, chorando.

- Eu te amo, Felix. Você não merece isso. - Ela me abraça.

Aos poucos vamos sendo encaminhados de volta. Sou colocado na carruagem como um prisioneiro. Olho pela janela onde minha irmã, com pesar nos olhos, acompanha meu trajeto. Ela esta ao lado de meu pai e um soldado.

Como se fosse nada, o soldado lhe crava a espada no peito. Meu pai, vira o rosto para o outro lado com pesar, mas com consciência de que aquilo aconteceria.

- FAITH. - Grito em desespero, chorando, soluçando, não querendo acreditar.

O soldado ao meu lado, chefe da tropa, puxa meus cabelos para com agressividade.

- Isso é para você entender o preço de ser inconveniente ao imperador.

- Porque não me matou também. - Solto entre soluços.

- Ele tem planos para você.


O caminho inteiro eu choro, sem me preocupar com o que vão achar. Perdi a pessoa que mais amava nesse mundo, a única que realmente me amou. Faith era minha vida e, sem ela, nem sei mais se quero permanecer vivo. Espero, apenas, que o imperador tenha piedade e me mate de forma rápida, embora eu não acredite que tenha me deixado vivo para tal.

Império - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora