Capítulo 10

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POV. Felix

Ainda penso na noite passada. Nem ao menos consegui dormir um pouco. Meu corpo parece ter se acostumado um pouco com as agressões e violações, já me recupero melhor, mas não penso mais em fugir desesperadamente. É loucura, eu sei, mas não consigo parar de pensar naquele olhar.

Na noite passada, enquanto estava tocando e pensando em me atirar daquela janela atrás de mim, encontrei um olhar no vão da porta, me encarando. Mas não era um olhar de algum dos guardas, não era ninguém que parecesse, minimamente, com as pessoas com as quais tenho dividido meus dias. Ele tinha olhos penetrantes, uma boca carnuda, cabelos negros e compridos, vestes reais. Vestes reais...

Um príncipe? Filho do imperador? Ou um visitante, talvez?

Não consegui ouvir sua conversa, mas entendi que o imperador e ele se desentendiam, principalmente quando, ao adentrar a porta o imperador, violentamente, fechou a mesma atrás de si e me puxou pelos cabelos para sua cama. Ele sempre fora mais agressivo comigo quando estava irritado, mas estava bêbado demais para ser o suficiente, então acabei me livrando de muitos socos e machucados que poderiam ter surgido.

Mas quem era ele?...

-Bom dia, princesa. -O lacaio mais fiel e nojento do imperador entra. -Vejo que não recebeu seu café da manhã.

-Sim, senhor. -Respondo fracamente, me encolhendo.

-Muito educada como sempre. Vim buscar meu carinho de hoje. -Fala erguendo meu queixo.

Fecho meus olhos com pesar e controlo minhas lágrimas, porque ele transformou isso em rotina. Quase todos os dias ele vem me machucar e violentar, como uma sobremesa cruel de um café da manhã nada nutritivo. Ele me puxa pelos cabelo, me joga na cama e levanta minha túnica, mas é interrompido por um guarda. 

Rapidamente abaixo minha túnica e me encolho no chão, esperando a conversa terminar e torcendo que ele tenha que partir. Ao concluir a conversa diminui a distância entre nós.

-Parece que vou ficar sem minha princesinha hoje. -Ele pega em meu queixo e rouba um beijo nojento e violento. Mantenho minha boca fechada e encolhida, caso contrário sinto que vou vomitar nele mesmo.

Após sua saída, recebo minhas vestes de hoje e o balde para me banhar. Como sempre, a mesma humilhação, pelo menos não sofri os abusos deste crápula hoje. Ainda, minha mente está muito longe para me preocupar com qualquer coisa.

👑
Dentro de meu isolamento, preso em meus pensamentos, não recebo mais alimentos. Desde que o imperador teve 'nosso momento' (como gosta de chamar) interrompido, resolveu me deixar trancado, sem comida, para que eu aprendesse a não responder a quaisquer barulhos ou intervenções que surjam, como se eu fosse culpado por encontrar aqueles olhos.

Não consigo parar de pensar naqueles olhos, negros como a noite e brilhantes. Mas o que mais me fascinou foi sua boca, carnuda e bela. Não me parecia um dos guardas do castelo, nem se vestia como tal. Nunca vi tamanha beleza na vida. Ele não sai dos meus pensamentos, seu olhar não era pecaminoso, era quase que de admiração, acredito que tenha gostado da minha música e, talvez, do meu corpo. Não consigo descrever como estou me sentindo, mas toda vez que ao menos me recordo daquele rosto, sinto um calor, minhas mãos suam e meu coração parece que vai sair pela boca.

Ouço passos que cortam meus pensamentos e me encolho.

-Levante e curve-se diante do príncipe. -Dispara um guarda em posição de sentido.

Me levanto devagar, ainda com dor no meu tronco dado a forma como fui trazido a minha sela. Não faço ideia de como são os príncipes, mas creio que sejam tão grotescos e nojentos quanto o pai.

Ele entra, lindo e alto, mais alto que eu. Não enxergo seu rosto pois estou olhando para seus pés. Com uma voz suave dispara:

-Pode sentar-se, meu jovem. Sei que meu pai não o tem tratado muito bem. -Fala me entregando um prato de comida, mas comida de verdade.

Tento não parecer tão ansioso para alcança-lo, mas a fome que estou sentindo me impede de racionalizar e controlar meus movimentos.

-Coma devagar ou terá uma congestão. -Ele fala com a voz aveludada.

Quando levanto o olhar meus olhos encontram seu rosto, delicado e pacifico. Ele não se parece com o pai, é mais doce e contido. Então, quando realmente olho para seu rosto encontro aqueles belíssimos olhos, aquela boca carnuda. Meu coração dispara e desvio o olhar rapidamente.

-O que foi, não gostou do que viu? -Ele fala entre risos, um sorriso ladino toma conta de seu rosto.

-Não, senhor. -Falo e me arrependo em seguida, percebendo a falha. -Q-quero di-zer sim, sim senhor. Perdoe-me, não recebo muitas visitas calorosas.

Ele ri e me observa com o rosto de lado, não compreendo sua visita, mas me sinto confortável. Ele transmite uma confiança e conforto. Muito diferente de qualquer pessoa com a qual convivi meus últimos dias.

-Tudo bem, espero que nossos guardas estejam te tratando bem.

Olho para a pequena janelinha onde tem três guardas me observando. Sei que não posso ser sincero, pois assim que ele sair serei castigado e, possivelmente, violado pelo chefe da guarda novamente.

-Sim, senhor... estão. -Falo, com o olhar perdido.

-Você mente muito mal.

Ele me olha com pesar e percebo seu descontentamento com a forma como estou sendo tratado. Continuo comendo e vejo que ele senta ao meu lado.

-Qual seu nome? Para que eu possa parar de me referir a você como 'menino das estrelas'. -O sorriso em seus lados toma completamente meu foco.

-Menino das estrelas, senhor?

-Claro, você possui essas marquinhas no rosto, não sei como se chamam, mas seu brilho me faz remeter a estrelas. -Ele afasta alguns fios de cabelo que cobriam minhas sardas. Sinto o sangue em meu rosto esquentar.

-Sardas, senhor.

-É um nome peculiar, eu diria.

-N-Não. Sardas são como essas marcas se chamam. Me chamo, Felix, senhor. -Faço uma reverência com a cabeça.

-Ah, bem melhor. Felix. Bonito nome, mas continuo achando que suas 'sardas' parecem estrelas. Você tem um pequeno universo em seu rosto, Felix... Fascinante.

Um breve silencio toma conta do recinto enquanto nos encaramos. Estudamos os rosto um do outro e eu quase consigo me transportar desta sela.

-Hyunjin.

-O que? 

-Meu nome. É Hyunjin, Por favor, pare de me chamar de senhor. Acredito que temos a mesma idade, é bizarro esse tratamento.

-Sim se... – Paro imediatamente e ele me encara com um sorriso soltando uma risada leve. Sorrio em resposta percebendo instantaneamente a ironia.

Atrás dele surge um guarda gigante, precisando se abaixar para passar na porta.

-Senhor, precisamos ir.

-O imperador retornou? -Hyunjin questiona e meu corpo estremece.

-Não, mas está prestes a chegar, vimos no horizonte. O senhor precisa voltar aos seus aposentos.

Ele bufa em desapontamento e volta a me encarar.

-Bom, foi um prazer conhece-lo, Felix. Agora tenho que voltar ao meu isolamento.

Fico triste, ele me trouxe conforto e comida, gostei tanto de sua companhia.

-Felix. -Ele me tira de meus pensamentos e atrai meu olhar para si. -Não pense que não retornarei para buscar mais sorrisos.

Ele sorri, pisca para mim e vai embora, me deixando com um leve sorriso bobo no rosto. Mal posso esperar para vê-lo novamente. Espero que sua promessa seja cumprida, e logo.

Império - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora