Capítulo 12

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Felix treme muito, a noite está gelada e ele veste apenas uma túnica fina, também sinto os sons que seu estômago emite, tenho certeza que não come a dias.

Em meio à escuridão ouço passos distantes e me escondo com ele. É fácil passarmos despercebidos, pois estamos em um canto isolado do castelo, mas preciso chegar a minha torre sem ser percebido. Encolhidos em um canto sinto que ele está prestes a desmaiar em meus braços, não sei se por medo ou fome.

Quando chego a torre coloco-o em minha cama. Tão pequeno e frágil, preciso alimenta-lo então resolvo ir até a cozinha pegar algum alimento. Desamarro suas mãos para deixa-lo confortável e saio apressadamente na ânsia de resolver esses barulhos em seu estômago.
Fecho a porta devagar a fim de não fazer muito barulho.

-O que está fazendo perambulando a essa hora, senhor. -Ouço ao fechar a porta.

-Woonji? Acho que eu quem deveria questionar-lhe. O chefe da guarda não acompanhou o imperador em sua viagem à França? -Provoco-o desconversando.

Ele solta o ar de forma debochada e me abandona com uma advertência. -Alguém tinha que ficar para manter as coisas em ordem.

Não tenho medo de sua advertência, mas temo ele estar a frente de minha torre. O chefe da guarda é um homenzinho desprezível que tem a total confiança de meu pai. Sei que ficou para monitorar meus passos e tem total controle dos escravos aprisionados. Não posso me dar ao luxo dele retornar e encontrar Felix, infelizmente não poderei alimenta-lo até ter alguém que possa me ajudar.

Quando entro novamente no quarto percebo que Felix está sentado, encolhido com os braços abraçando suas pernas, tremendo. Percebo que esqueci de tirar o saco de sua cabeça, me sinto horrível.

Ao tocar em seu ombro, afim de retirar o artefato, sinto seu tremor se intensificando e emitindo algumas palavras baixinho, tão baixo que preciso me aproximar para ouvi-lo.

-Por favor, senhor, por favor. Sinto muitas dores, muitas. Não use meu corpo, hoje não, por favor. Por favor, por favor. -Ele sussurra choramingando.

Novamente, sinto outro grande aperto em meu peito e muito nojo de meu pai. Esse pobre menino deve estar sofrendo mais que conseguiria imaginar.

-Ei, só vou tirar isso da sua cabeça, está bem? Não vou machuca-lo. -Falo baixinho e pausadamente para não o assustar.

Ele me retorna com um sinal de sim com a cabeça e, ao tirar o saco, nossos olhos se encontram. Está lá, aquela constelação fascinante. Suas sardas são como estrelas, seus olhos brilhantes como duas luas, mesmo muito cansados e, claramente, sofridos. Sua boca está muito seca e com alguns cortes. Seu lindo rosto está mais magro.

-Você está em segurança agora, Felix. Vou cuidar de você. -Digo, da maneira mais acolhedora que consigo.

Sua túnica está levantada revelando pernas esguias e magras. Inegavelmente ele é lindo. Não aceito que esses pensamentos invadam minha mente, ele está em sofrimento e eu sou a única pessoa que não pode objetifica-lo, mesmo sentindo uma atração inegável.

-Creio que essas vestes estão muito finas para uma noite fria como esta.

Ele concorda com a cabeça e tremendo bastante.

Entrego-lhe um cobertor e roupas minhas para se aquecer. Me viro de costas para lhe conceder privacidade. Por um momento fico intrigado, mas resisto a olha-lo e aguardo.

-Senhor? -Ouço sua voz baixinha e suave.
-Já conversamos sobre isso. -Me viro para olhar em seus olhos. -Devemos ter a mesma idade, não precisa me chamar de senhor.
-Porque me trouxe aqui?
-Para resgata-lo, você não merece ser alvo das perversões de meu pai. Ninguém merece, na realidade.

Ele estuda minha expressão, sinto seu olhar sobre mim e olho em seus olhos. O brilho voltou e um sorriso fraco clareia sua expressão.

-Muito obrigado, senhor. -Ele balança a cabeça. -Desculpe. Acho que esqueci seu nome.

-Hyunjin, e é um prazer estar em sua presença novamente, Felix. -Estendo minha mão para pegar a dele e beijar delicadamente. -Descanse. Assim que sentir que está seguro, vou buscar lhe algo para comer.

Com um sorriso fraco e doce ele se deita e fecha os olhos. Fico completamente hipnotizado com a suavidade de seus traços. Como não posso sair porque não quero arriscar deixa-lo sozinho, resolvo pegar uma de minhas telas vazias. Tantos universos retratados através de minhas mãos, arrisco dizer que este será meu favorito. 


Depois de um tempo Doonkin aparece em minha porta, aproveito a oportunidade e peço que ele vigie. Como um bom guarda nunca questiona, fica vigiando minha porta enquanto busco comida para o Felix.

Volto com duas bandejas lotadas e sou encarado com espanto.

-Senhor, não que eu saiba muito sobre alimentação, mas eres um homem pequeno para tanta comida.

-Digamos que hoje estou com muita fome. -Sorrio e entro no quarto.

Na realidade, eu trouxe bastante coisa pois nem sabia o que ele poderia gostar, mas eu mesmo já comi. Ensopado, um pedaço de frango assado, uma fatia de bolo de morango, outra de bolo de milho, cidra, rum, suco, fatia de torta salgada, yakisoba, tortilha e peixe assado. Espero que ele goste de algo.
Encontro Felix observando o quadro que pintei mais cedo com seu rosto. Na verdade, apenas parte dele. Me concentrei na parte onde ele tem mais sardas então não cheguei a retratar sua bela boca.

-Sou eu? -Ele aponta e vira-se para mim.

Dou um sorriso tímido, apenas Doonkin já havia visto alguma arte minha. Largo as bandejas em minha mesa.

-Sim. Gosto de retratar coisas belas, mas nunca havia me aventurado em faze-lo com pessoas. Não pude resistir a você.

Felix fica corando e ainda mais fofo com as bochechas vermelhas. De repente sinto vejo arregalando os olhos em direção a bandeja que depositei a mesa. 

-Nossa, quanta comida. -Ele fica hipnotizado. Claramente está com muita fome.

-Espero que goste de algo. Como não sabia o que preferia, resolvi trazer... bem... tudo. -Lhe concedo um sorriso tímido.

Felix lança-me um olhar muito inocente e agradecido então se aproxima. Tento não observar enquanto ele come, mas é humanamente impossível. Mesmo com muita fome parece tentar se controlar para se comportar, mas percebo sua pressa.

Após um tempo devolvo uma das bandejas para Doonkin levar à cozinha e aproveito a oportunidade para questionar-lhe.

-Doon, você sabe se meu pai tem previsão de retorno?

-Porque, já está com saudades, senhor? -Ele pergunta debochando e sorrindo.

-Você é realmente hilário. -Sorrio de volta.

-Pelo que entendi, o senhor imperador terá que visitar mais dois reinos, então chutaria que não retorna antes de dois meses.

Lhe agradeço e volto para dentro. Fico imensamente feliz com a notícia, posso ter tempo para cuidar de Felix e, assim que ele melhorar, o liberta-lo. Observo ele, sentado na cama, olhando algum de meus quadros e penso que não queria tanto assim liberta-lo, mas não posso seguir os passos de meu pai e torna-lo meu prisioneiro. Não posso negar que queria toma-lo para mim. 



Império - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora