Capítulo 7

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Sempre que saio do castelo, preciso estar acompanhado de um guarda. Doonkin acaba sempre se prontificando a ir comigo, ele sempre bate de frente com os outros dizendo que todos os filhos do imperador são importantes, independente do papel que desempenhe no império. Ainda assim, creio que ele só gosta de observar minhas pinturas. Vejo que gosta de arte e me sinto mais feliz com sua presença, pelo menos alguém que tenha algo em mente que não seja riqueza e poder.

- Porque você sempre escolhe lugares tão longínquos. - Esbraveja carregando meu material.

- Doonkin, entenda, as maiores belezas da vida estão onde menos esperamos.

Para exemplificar o que falei, ao chegar no topo da montanha, aponto para o horizonte. Observamos um ambiente lindo, digno de uma pintura.

- Veja bem se não valeu a pena nosso esforço. Contemple esse verde límpido, as aves, o cheiro do campo.

- Às vezes eu preferia que você se limitasse a sua torre, senhor.

Compreendo Doonkin e seu mal humor, afinal, uma das vantagens de ser um príncipe é que eu não preciso carregar minhas bolsas e instrumentos de pintura. Então apenas lhe ofereço uma balançada de cabeça e um sorriso leve. Realmente não sei se me considero talentoso ou se meu público que é muito limitado, afinal Doonkin é o único que contempla minha arte e sempre fica muito embasbacado e admirado com o que expresso em tela.

- O verde sempre me transmitiu uma forte sensação de liberdade, acho que por isso é a cor que eu mais utilizo. Mas, ultimamente, tenho usado muito o roxo e azul, não sei porque meu fascínio pelas estrelas tão repentino. - Divago enquanto esboço meus primeiros traços na tela.

- Pelo menos as estrelas não nos fazem subir montes gigantescos, então vou optar que o senhor continue fascinado por elas.

- Você é um grande estraga prazeres. Foi só uma subidinha, um homem grande desses reclamando de uma bolsinha com tintas e uma tela. - Ri debochando da situação, afinal minha bolsinha deve pesar, no mínimo uns bons 5 quilos, mas a tela e o cavalete. Digamos que se ele não fosse grande tinha desmaiado no meio do caminho, me divirto com isso.


Voltando ao castelo vejo uma movimentação, os guardas trazem um prisioneiro. Resolvo nem me ater ao ocorrido, não gosto de partilhar dos destinos carrascos dessas pobres criaturas. Meu pai tem o costume de coletar escravos ao longo de suas viagem, uma atitude que desprezo fortemente.  

Volto para meu retiro e resolvo passar a pintar as estrelas, elas me fascinam, conforme comentado mais cedo com Doonkin. Realmente não consigo exemplificar o porquê de estar tão fascinado com as estrelas ultimamente, elas só me atraem.


Na manhã seguinte saio para almoçar na cozinha. Sei que não é o costume dos nobres, que normalmente acordam cedo para seus afazeres e tomam café da manhã na sala de jantar. 

Não tenho esse costume, já que o único amigo que tenho nessa casa é um guarda costas e uma senhora cozinheira muito simpática chamada Aretha. Ela sempre guarda meu café da manhã, na esperança que, em algum momento, me torne uma criatura matinal.
- Bom dia, senhor. - Recebo a saudação do guarda costas.

- Senhor, que felicidade ver tão cedo disposto. - Aretha me oferece um sorriso genuíno.

Nem percebi, mas hoje acordei às 10h, por um grande milagre.

- Bom vê-la, Aretha. Creio que hoje tomarei seu delicioso café. - Ofereço-lhe um sorriso e me sento na bancada.

Ao terminar meu café, infelizmente, minha presença é percebida por meu pai que faz um sinal para que eu adentre à sala de leitura. Eu recuo, cogitando a possibilidade de Doonkin ser mais meu amigo que é guarda costas e me deixar passar a porta. Obviamente isso não acontece. 

Meu pai me recebe bem alegre, obviamente. Afinal, possivelmente o pobre prisioneiro foi uma caçada triunfal para ele.

- Há tanto não lhe vejo, meu filho. - Me cumprimenta, feliz como nunca.

Não lhe dou resposta, apenas me sento na poltrona de forma largada e confortável. Na verdade, não tenho muito o que dizer. Ele sabe onde estou, sabe o que eu faço e o que, definitivamente, não pretendo fazer. Desde a partida de meu irmão caçula com o exército imperial para treinamento, tenho ignorado totalmente meu pai. Ele mandou uma criança para o exército, um menino frágil e doce.

- O senhor parece feliz, algo em específico lhe aconteceu? -Seungmin pergunta, finalmente, quebrando o silencio cortante entre nós.

- Ah, meu devoto filho. Digamos que eu tenha encontrado um grande tesouro em minha última viagem de desbravamento.

- Se o senhor chama de viagem de desbravamento sair pelo vilarejo afugentando famílias pobres. - Falo com um ar de deboche que o faz se virar para mim com raiva.

- O senhor ainda precisa assinar os documentos dos novos impostos franceses, papai. - Meu irmão tenta atrair a atenção dele para si. 

Sei que Seungmin sempre tenta amenizar nossas brigas, mais para conseguir atenção e prestígio aos olhos de nosso pai. Mas sou grato, afinal nossas brigas sempre são acaloradas demais. Meu pai não é só um imperador carrasco, como também um pai negligente. Nossa última briga me levou às masmorras onde ele tranca os presos. Ele não tem pena de nos tratar como súditos quando lhe convém.

- Certo, estarei em meu escritório assinando os papéis, filhote. Pelo menos um de vocês ainda presta. - Fala e finalmente nos deixa sozinhos no ressinto, para meu alivio.

Seungmin me lança um olhar de reprovação e segura algo que iria falar, é o momento perfeito para que eu saia. Me levanto e lhe dou as costas, mas antes de chegar a porta...

- Você não se apruma mesmo. Estamos a poucas semanas de apresentar um novo tratado aos povos europeus, uma guerra pode estar acontecendo fora do condado e você aí, pintando arvores.

- Prefere que eu tome seu lugar? - Permaneço de costas, mas percebo a presença de meu irmão vindo em minha direção.

- Acha mesmo que você tem capacidade para ser o braço direito do imperador? Um reles artista maltrapilho. -Ele sussurra, tentando me intimidar.

Me viro para ele e, em tom de sussurro, para me igualar a ele e mostrar que não estou nada intimidado disparo: - Talvez deva parar de pedir conselhos a um artista maltrapilho, isso mancharia a figura de futuro grande imperador que você tanto presa, maninho. 

Sem ao menos me dignar a virar para encarar sua expressão de desaprovação vou embora. Não tenho o menor interesse em usurpar o lugar de meu irmão, mas me sinto esplêndido lhe proporcionando a sensação de que, a qualquer momento, tenho esse direito.

Império - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora