Capítulo 3

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Ao término do trabalho eu acelero o passo para entrar em casa e escapar da fúria de meu pai. Não tive sucesso e sinto o forte golpe em minha nuca, lançando meu corpo ao solo.
Faith ameaça se levantar, mas minha mãe a impede e elas seguem tecendo.


- INÚTIL. VOCÊ NUNCA SERVIU PRA NADA, MOLEQUE IMBECIL - Sinto duros chutes de meu pai, um gigante e robusto homem.

Meu corpo franzino começa a tremer. Estou com muito medo. Muito medo de o que vai ocorrer após ser notado pelo imperador. Se eu vou realmente sobreviver, pois a fúria de meu pai é bem forte e pesada.

Dois, três, inúmeros chutes e golpes atingem meu corpo. Meu lábio se parte e o sangue se junta ao de meu nariz. Nem espero que minhas irmãs me ajudem, e espero que nem o façam. Não quero ver isso ocorrendo com elas.

- Chega. Pode explicar o que ele fez? - Indaga minha mãe, para minha sorte. Pois meu pai se aproxima para explicar com ódio no olhar.

- O seu filho, esse inútil, denunciou que é um desertor ao imperador.

Minhas irmãs me olham apavoradas, talvez a única que teme por mim é Faith, sinto seu olhar de pena e desespero sobre mim. Minha mãe me olha com desapontamento, mas normalmente ela me olha assim. Sinto o desespero tomar conta de mim, assim como a dor da surra que meu pai desferiu.

- É melhor que o deixe vivo, se o imperador decidiu assim, é porque tem planos para ele. Agora venha comer que seu jantar está esfriando.

Fiz menção de me levantar, mesmo choramingando, meu corpo doía muito, mas meu estomago mais ainda por não conseguir ter uma refeição hoje e já anoitecera.

- Não, você vai ir dormir no celeiro com suas flores. Não quero um desertor na minha casa.

- Mas, mãe. - Faith ameaçou me defender.

- SILÊNCIO. Se algum soldado resolver aparecer, não quero que pensem que somos coniventes.

Mesmo com muita dor me arrastei para fora. O celeiro ficava um pouco longe de casa, mas tive que ir. Seria melhor ir me arrastando do que ser arrastado por meu pai. Sei que ele não se daria ao trabalho de me levar ao celeiro sem ao menos desferir mais alguns socos.

Sozinho e com fome, fiquei olhando para as estrelas tentando entender o que seria do meu futuro. Não que eu tenha pensado que, em algum momento da vida, eu fosse ter algo de relevante ou que me trouxesse ao menos um pingo de felicidade, mas não imaginava encontrar o fim tão jovem.
Ao longe vi uma silhueta se encaminhando ao celeiro e estremeço de medo. Poderia ser algum soldado vindo, finamente, arrancar minha cabeça para levar ao imperador em uma bandeja.

Felizmente minha irmã Faith abre a porta com um pote coberto por um pano.

- Acredito que esteja frio. - Ela entrega a mim um ensopado de coelho, feito mais cedo.

- Obrigada. - Sorrio para ela, sabendo que é a única que ainda se importa comigo.

A noite foi muito fria, mas tentei dormir na coberta que Faith deixou para mim. Olhando para as estrelas, sempre me senti parte delas. Faith diz que possuo uma constelação em meu rosto, nunca entendi essas marcas, sendo que minhas irmãs não tem. Meu pai não parece ter, mas eu nem perceberia se tivesse, está sempre com o rosto sujo de fuligem.

Minha mãe costuma dizes que essas marcas são para demarcar que eu sou errado, em algum aspecto ela ainda acha que era para eu ser uma menina, que serviria mais se fosse.

Meu corpo inteiro dói, o lado esquerdo do meu rosto está inchado, mas não consigo mandar embora os pensamentos que me surgem ao penas o que será de mim quando o imperador, finalmente, resolver lidar com o fato de eu ser um desertor.

Império - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora