VINTE E QUATRO

34 3 6
                                    


— Treino extra com Ofélia e Moriar — é o que Orlean sussurra para mim quando saímos do quarto de Ciro — Você vai precisar.

Ele espera que todo mundo tenha se afastado. O corredor está vazio e os acompanhantes de Ciro haviam entrado no quarto do troliano. Yur havia dito a Orlean para ir na frente pois ele queria discutir algo com Ciro a respeito do jogo.

Não acho uma boa ideia atiçar a raiva do inimigo, contudo não seria a pessoa que diria isso a Yur. Acho que ele não havia gostado muito de Ciro se intitular um vencedor de uma luta contra ele antes da luta sequer ocorrer.

— Certo — respondo e continuo meu caminho, porém um aperto em meu braço me segura no lugar.

Isso está quase virando um hábito de Orlean, chamar minha atenção dessa forma.

— Não subestime seu oponente — ele sussurra próximo de meu rosto.

Apesar da tensão em suas palavras elas saem devagar de seus lábios. Eu encaro seus olhos azuis úmidos.

— Você diz o dançarino? Ele é forte? — pergunto.

Ele balança a cabeça devagar.

— Mesmo que não seja, o medo de morrer pode fazer coisas incríveis com a gente.

Ele solta meu braço e eu, em desespero, seguro sua mão. Seus dedos estão cheios de calos, como a mão de um arqueiro do exército deve ser.

— O que eu posso fazer além de tentar lutar, Orlean?

Ele olha para minha mão na sua.

Só consigo pensar em mim, explodindo em mil pedaços, após o tempo zerar. Eu virando uma estatística em Versen. A garota que eles já queriam morta finalmente indo embora, a espiã que não finalizou sua missão, sendo que nem missão eu tinha.

— Eu posso te mostrar um pouco como roubar o colar do seu oponente. Isso é tão importante quanto desferir golpes. Eu não confio em Ciro, então de jeito nenhum, seja uma perdedora. Não deixe que sua vida esteja nas mãos dele.

Eu rio sentindo um calafrio descer por minhas costas.

Não consigo nem imaginar o que o filho do governante de Trolia iria querer comigo e com quem mais perdesse. Os outros... Se eu ganhar, eles...

— Você sabe que Felipe é um verseniano, não sabe? Se eu não morrer quem morre é ele. Nossas vidas, ambas, estão em jogo.

Orlean morde os lábios.

— Eu sei — ele diz com a voz compadecida.

— Então, esses jogos de Ciro são como os nacionais, não? Nos jogos Nacionais de Versen soldados morrem, nos jogos trolianos versenianos morrem. No fim, Versen sempre sai perdendo não importa quem organize as lutas.

Finalmente sua mão libera a minha.

Ele passa o dedo sobre a própria bochecha esquecendo de sua maquiagem de estrelas e uma das estrelinhas azuis borra. Quase que eu movo as mãos para limpá-la.

— Está querendo dizer que qualquer morte, seja a sua ou a de Felipe, será uma vida perdida e logo algo igualmente ruim? — as palavras riscam sua língua.

Está abismado comigo. Eu sei disso.

Assinto.

— Pois eu discordo — se ofende — Pare de pensar logicamente por um momento! Eu conheço você mais do que ele. Para mim sua morte é pior.

— Eu não — minha voz falha — estou dizendo que não me importo de morrer. Só estou dizendo que não acho que a minha vida seja mais importante que a dele.

O Portal para VersenOnde histórias criam vida. Descubra agora