TRINTA E SEIS

24 3 0
                                    

Tenho cerca de dois minutos para falar com Yur sobre a maleta de ferramentas no banheiro antes que Ciro volte. E eu aproveito o máximo que posso do tempo para explicá-lo o que aconteceu.

Ele me ouve por entre o barulho da música e dança.

— E não vai ser estranho todo mundo indo naquele banheiro? - ele sussurra segurando minha mão como se isso fosse nos fazer ouvir um ao outro melhor.

— Você não é todo mundo — sussurro de volta. Isso parece algo que uma mãe diria. — E você é grande. Ninguém nem vai reparar se esconder a maleta dentro da sua roupa.

Ele pensa por um momento e então balança a cabeça devagar.

— Ok. Você tem um ponto.

— Então? — o encaro — você acha que consegue?

Yur aperta meus dedos.

— Claro... Tudo por você, Alissa. 

*

Volto para meu quarto e afundo nos travesseiros fechando os olhos no escuro. Algumas horas depois a porta é entreaberta e uma figura gigante se aproxima de minha cama. Ela deposita algo ao lado de meus pés e sai em passos silenciosos. Apesar de não conseguir ver direito o ser no escuro, tenho certeza de que foi Yur com a caixa de ferramentas.

Me sento na cama logo depois e puxo a caixa a enfiando dentro de minha bolsa de viagem.

Olho para a cama a minha frente.

Guilhermina não está aqui ainda. Devo me preocupar? E se o plano dos trolianos for mesmo tortura e sequestro?

Eu já me preparo mentalmente para sair do quarto quando a dançarina entra pela porta como se nada tivesse acontecido. Ela desliza os pés e cai sobre a cama deixando um grunhido sair de sua boca.

A luz do sol fraca passa pelas cortinas e encosta em seu corpo, ela olha para mim, pega o lençol, coloca sobre a cabeça e o abraça em volta do corpo.

Eu a observo em silêncio.

— Onde você estava? — finalmente pergunto.

Ela põe o queixo sobre os joelhos.

— Com Hannah — diz como se declarasse a resposta para todos os segredos do universo.

A luz do sol me faz enxergar metade de seu rosto. Está vermelho, mas não de vergonha e sim de cansaço. Ela parece que correu muito para chegar aqui.

— Estava com a irmã de Ciro?

— Sim — ela sorri mostrando os dentes.

— Fazendo o quê?

E essa pergunta parece pegá-la de surpresa já que se deita rapidamente em sua cama como se estivesse tendo um ataque cardíaco.

— Ah... Você sabe.

É o suficiente para mim.

— Eu... Eu achei que você tivesse algum problema com intimidade. Na festa em Versen você quase chorou só com a possibilidade.

Guilhermina ri e se espreguiça na cama.

— Eu não tenho problema com intimidade. Eu tenho problema com intimidade com homens, elfos e outros seres do sexo masculino.

— Ah... Não sabia — murmuro.

Bem, isso é novo.

— Está tudo bem. Acontece com frequência. Ninguém percebe.

— E o que está rolando entre vocês duas?

A dançarina joga o cabelo para o lado depois de tirar o lençol da cabeça.

O Portal para VersenOnde histórias criam vida. Descubra agora