QUATORZE

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A festa ficou um tanto menos agitada.

Digo isso, pois as velas do ambiente foram sendo apagadas uma a uma do lado de dentro, fazendo a porta para a varanda parecer menos iluminada e deixando eu e Orlean no escuro da madrugada. O barulho também diminui drasticamente de um vendaval de conversas para pequenos grupos de sussurros.

Orlean aproveita a escuridão e escorrega na poltrona colocando a cabeça no encosto e fechando os olhos. Acredito que para aliviar um pouco seus pensamentos sobre o que fazer a respeito de Baryn e Ofélia. Ele se retirou da narrativa, mesmo que fosse uma escolha muito ruim.

— Eu gosto desses tipos de músicas. — ele diz e dobra os braços colocando atrás da cabeça.

Uma voz feminina canta lá dentro uma música lenta. Orlean cantarola alongando o corpo e sua blusa curta sobe com o movimento. Eu paraliso na mesma hora e desvio o olhar.

Ele não deve notar o que está fazendo.

— Você tem um bom gosto para roupas, digo, música!

Droga. Não era isso que eu queria que tivesse saído da minha boca.

Ele abre um dos olhos me espiando.

— Você também, senhorita. Está vestida como uma princesa. Eu sou só um mero soldado.

— Um comandante — o corrigo.

— Pff. Um comandante não se veste assim. — ele se senta — Essa é minha roupa de ocasiões especiais.

— Você estava vestido assim quando nos conhecemos em frente a Taverna do Leão. — pontuo pondo minha mão sutilmente em suas botas que estavam alguns centímetros a minha frente.

Seu olhar segue o toque.

— Era meu dia de folga. — Ele responde e ajeita uma mecha de seu cabelo que cisma em cair em um de seus olhos — Ocasião especial. Alguns dias a Taverna do Leão consegue me proporcionar isso.

Na mesma hora a porta se abre em um estrondo e uma das poucas garotas (humana, ainda por cima) escolhidas para estar naquela festa saí dançando.

Ela está visivelmente bêbada, ri alto e gira sozinha em seus pés descalços.

Eu só consigo encará-la de boca aberta.

Não faça um pedido se não quer respostas. Veja só a garota no deserto e a garota sem voz. — ela cantarola a canção da sala.

A garota tropeça na pequena escada que dá para o jardim, mas se segura na cerca de proteção, bem perto de onde estamos. Seus olhos focam em Orlean e depois em mim.

Olá? — Orlean e eu falamos ao mesmo tempo.

— Oi. — ela gargalha sem motivo e sobe na cerca botando os dois braços sobre a madeira — Eu posso participar?

Seus olhos passeiam entre nós e a parede atrás.

— Participar? — pergunto.

— Sim, você divide o elfo bonito? — ela simplesmente resolve subir na cerca em vez de subir pela escada que desceu, erra um pé e cai de bunda na grama.

Eu me levanto na mesma hora. Era um pouco alto.

— Ela está bêbada demais, Orlean. — corro — Não podemos deixá-la aqui sozinha.

— Claro. — Ele responde petrificado com a cena.

Nós descemos a escada que ela devia ter subido e a seguramos pelos ombros, cada um de um lado, erguendo-a do chão.

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