TRÊS

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Me sentar no quartinho embaixo da escada é como se sentar no canto mais escuro da Terra. Minto. É como se a Terra tivesse sido engolida por um eclipse eterno. Acredito até que o quarto tenha magia, já que quase não consigo distinguir onde termina o chão e onde começa a parede, não depois que fecharam a porta.

Escoro em uma das paredes de madeira e passo os dedos pelas fendas carcomidas. Tenho certeza de que uma barata passou por cima de minha mão quando tateio uma parte da parede, mas não grito.

Não darei esse gosto de vitória para Jasmine.

Fecho os olhos apesar de não fazer diferença e finjo que estou de volta em minha quitinete. Foi embora luz. É só isso. Apenas isso.

Não consigo me deitar no colchonete. Está cheio de aranhas e traças. E tenho medo de que entrem baratas em meu ouvido.

Jasmine, se você pensa que isso é muito para acabar comigo, está enganada.

É o que eu tento repetir em minha mente para tentar me acalmar.

Fico sem ver qualquer fragmento de luz por cinco dias.


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Marcos — eu acredito ser ele já que segura um pão — abre a porta cinco dias depois. Meus olhos ardem com a luz, luto contra a dor pela sensibilidade e na primeira visão que tenho da comida em suas mãos corro em sua direção.

Minha barriga ronca e estou ficando com muita sede. Pego o pão quente e macio e mordo um pedaço. Queimar a língua vale a pena nesse caso. Uma pequena lágrima de felicidade desliza por um de meus olhos.

— Isso está bom, Marcos. Você cozinha bem — sussurro de boca cheia.

Estra deve ter dito a ele que sei sobre sua existência, pois Marcos não acha estranho eu falar seu nome.

— Quer água? — fala baixo e me estica um copo escuro gelado.

Eu assinto bebendo rápido.

— Me desculpe, — ele responde depois de um tempo — teria vindo antes. Mas Jasmine ficou no meu pé depois de Estra falar que eu alimentava as meninas escondido.

Tenho certeza de que sou a primeira pessoa a ficar cinco dias dentro do quarto embaixo da escada.

Soube que foram cinco dias pois me localizei pelos barulhos de conversas do lado de fora. Quando paravam eu sabia que a Taverna havia fechado.

Era um silêncio angustiante.

Foi de propósito, sei disso, pois sou uma forasteira e não uma atendente da pensão. Não sou mão de obra, logo ela não se importaria se eu morresse

Abraço Marcos. É a única forma silenciosa que encontrei de agradecê-lo. Ele permanece parado. Não vou ficar falando muito em voz alta. É perigoso. Jasmine poderia escutar.

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