SEIS

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Eu não sei como os elfos esperam que eu tenha um relógio biológico eficiente. Sempre acordo com o poder de um bom despertador de celular, mas como o corpo precisa de tempo para se acostumar a abrir os olhos na hora certa sem um incentivo barulhento, eu fracasso na missão de acordar cinco horas da manhã.

Meu celular havia ficado dentro da minha bolsa na sala de pertences do Burger da Rainha quando atravessei o portal. Então, estar pronta no horário para o trabalho na cozinha foi por água abaixo.

Abro os olhos com Moriar batendo na beira de minha cama com uma espada. Eu simplesmente surto vendo a lâmina a centímetros do meu rosto.

Pulo da cama em um salto. Talvez esse fosse seu objetivo, me assustar. 

Ele embainha a espada novamente.

 — Tinha que ser desse jeito? — eu grito tirando os fios de cabelo do meu rosto.

— Eu avisei ontem. — ele responde neutro — Sem contar que você não acordava por nada. Achei que trolienses adorassem a manhã.

— Então isso prova que eu não sou uma Troliense.

— Boa tentativa.

Bufo em resposta. Não adianta. Eles vão acreditar no que convêm.

E estou ainda muito cansada. Fui dormir tarde explorando o quarto em busca de algo que pudesse me guiar de volta para casa. Qualquer coisa. Mas não encontrei nada. Bem, nada além de alguns livros de História e Geografia de Duvia, folhas de papel riscadas, um livro de contos de fadas (que parecia ser uma versão masculina da Bela Adormecida) e um porta joias vazio que tocava uma música quando eu abria. A única diferença das caixas de música na Terra e dessa era que uma voz saia dela, como um gravador. Igual aqueles cartões de natal que você abre e eles ficam tocando uma música.

Magia, talvez.

Esse quarto é de um estudante. Disso eu tinha certeza.

Moriar me leva até a cozinha. Tem bem mais gente que na mesa, mas eu não consigo contar só olhando. A elfa ruiva, irmã da elfa Ofélia, está levando um prato com uma cabeça de peixe enorme. Parece um salmão gigante, laranja e brilhante.

O elfo loiro bronzeado passa correndo com milhões de pratos que quase tocam o teto. Ele não derruba nada.

E eu aqui achando que trabalhar na cozinha élfica era tão fácil quanto na humana.

O elfo de cabelos pretos (eu preciso aprender o nome deles) gira um pedaço de madeira grande que mais parece um cabo de vassoura dentro de uma panela maior ainda, ela é da largura de uma piscina inflável. Ele até fica em cima de uma escada de madeira para alcançar a abertura da panela.

— A ajudante chegou! — Moriar grita e quase todos param de trabalhar para me olhar - Katarina, ela está com você.

Encaro o mar de elfos. Talvez tenham alguns seres de orelhas redondas como as minhas no meio, mas não consigo achar. Ótimo, mas uma minoria inserida na lista.

— Ela vai me atrapalhar. — reclama Katarina.

— Faça o que estou mandando. São ordens do conselho.

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