VINTE E CINCO

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O treino com Moriar dura cerca de meia hora e talvez fosse durar ainda mais se ele não estivesse esgotado e com sono. Ofélia aparece um tempinho depois com a cara fechada segurando duas facas enquanto empurra a porta da sala de treino com o pé.

Acho que contaram para ela qual eram os planos de Ciro e como isso me incluia para que se estressasse desse jeito.

— Eu não acredito que você vai ter que participar disso em tão pouco tempo — ela grunhe colocando uma das armas em minha mão. Uma faca de cabo preto de aço reto que brilha em meus dedos.

— Já pensou em Calen também? Ele tem só oito anos. 

Ofélia me olha como seu eu fosse idiota.

— Bem que ele me contou que você está assim.

Eu levanto a sobrancelha.

— Assim como? E quem te contou?

Ofélia ignora minha pergunta e gira a faca na mão, a ponta fica para baixo. Seu corpo está bem menos coberto dessa vez, geralmente ela gosta de vestir um tipo de armadura de couro com textura de escamas falsas, mas dessa vez usa uma calça preta e uma blusa branca de mangas curtas. Para uma cozinheira é até irônico o fato dela ser tão boa em combate treinando apenas nas horas vagas, assim como eu.

— Você não se tocou ainda que pode acabar morta com uma faca enfiada no peito, né? E fica focando em como os outros são uns coitadinhos. Calen é uma criança, mas ele treina desde que aprendeu a andar.

Eu coço o braço.

— Pare de pensar nos outros por apenas um segundo — Ofélia diz — Ainda mais em homens que você nunca nem falou como Felipe. Eles não estão pensando em você, pode ter certeza.

Reviro os olhos, mas ela está certa. Em partes. Ainda penso em Calen e também em Felipe e em todos os outros que podem acabar mortos, assim como eu, mas sei que para sobreviver tenho que ganhar. Recusar roubar o colar do oponente significaria em ambas as nossas mortes.

— Luta de facas é sobre bloqueio. Você não precisa ficar avançando toda hora. Eu sei que os trolianos usam realmente dessa luta para matar uns aos outros, assim como os Jogos Nacionais, mas a maioria das lutas se resume a apenas um espetáculo de sustos para manter o oponente longe do próprio colar enquanto você tenta pegá-lo.

— Você já presenciou alguma luta deles?

Ofélia assente.

— Eu tinha dez anos. O governante de Trolia mandou alguns de seus soldados para cá para mostrar a força de seu povo. Foi bem traumatizante na época para mim e também foi quando eu comecei a treinar sozinha prometendo a mim mesma que nunca passaria por isso — ela explica enquanto demonstra um movimento com a faca de ida e volta na altura do estômago.

Ela não só sabe lutar com espadas, mas com facas também. Ofélia é realmente perfeita em tudo que faz. Fico me perguntando como Baryn está no exército e ela não. Elas seriam o casal mais devastador que existe no grupo de Orlean.

— E se eu for esfaqueada durante a luta? Tem alguma magia para—

— Aland tem algumas poções de cura de ferimento para elfos. Não há cura para gente como você ou eu. Não queira ser esfaqueada ou receberá uma cirurgia feita por elfos que te odeiam, mais provável que morra de hemorragia. Felipe é um elfo e pode se curar caso tome a poção rápido o bastante.

Algo se espalha em minha mente. Um pensamento intrusivo.

— O que acontece se alguém como eu tomar a poção para elfos?

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