VINTE

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Voltamos com uma rede cheia de peixes para a cozinha da base militar. Jogo o saco pesado sobre uma mesa e o abro na frente dos outros cozinheiros que não foram com a gente.

Eles observam os cinquenta e sete peixes pescados.

Em sua grande maioria Jeremias e Augusto fizeram o favor de pescar, alguns outros foram soldados e Katarina. E no meio daquela pilha havia apenas um que era o meu.

O pequeno acidente no rio acabou me levando a esse número vergonhoso.

Claro que não iria falar nada disso para eles, que pensem que não sou uma inútil. E não poderia também falar sobre o peixe de escamas azuis e amarelas que ajudei após ser puxada para baixo d'água. Ia ser estranho.

Será que foram os espíritos da natureza que me puxaram?

Eu tinha parado de pensar um pouco neles nessas últimas semanas, mas fazia sentido... Era algo gelado e gosmento, mas talvez alguns deles realmente pareçam assim? E quanto a minha mente ter apagado eles da história, muita coisa estava acontecendo, acho que é normal esquecer algo que não se pode ver.

Ou que não se comunica comigo.

Às vezes portas abriam do nada e eu voltava a lembrar, contudo o conceito de portas automáticas na Terra era praticamente o mesmo, então minha mente se adaptou rapidamente.

No começo eu tinha medo dos espíritos me delatarem, mas depois eles pareceram não ser ruins nem fofoqueiros.

Será que estavam querendo me mandar uma mensagem com o anzol? Mas qual?

— Você vai limpar o peixe cortando aqui — Katarina me acorda de meus pensamentos indicando com a ponta da faca uma parte do peixe — depois corte aqui e use a faca para puxar a pele com cuidado, mas de forma rápida.

Ela demonstra o corte em uma parte e me passa a faca para que eu faça o mesmo.

— Continue sozinha — a cozinheira indica e se vira para a dupla dinâmica — Jeremias, vá fazer o molho!

Jeremias, que está do outro lado da longa mesa de madeira da cozinha, dobra os braços na frente do corpo.

— Quem te fez a chefe de cozinha, hein? — Ele reclama, porém mesmo assim se mexe a contragosto para pegar os ingredientes necessários.

— Augusto... — Katarina continua.

— Eu vou ajudá-lo — ele suspira sumindo entre as mesas da cozinha antes mesmo que Katarina termine a frase.

Não é para prepararmos os pratos finais hoje. Ciro só irá chegar em alguns dias, então estamos aqui apenas para testar o cardápio para ter certeza que será de seu agrado. Então, o sentimento de pressão paira a cada panela acesa sob o fogo e em cada vegetal cortado com uma faca afiada. Um dos elfos acaba até derrubando um prato enquanto corre em direção a mesa de exposição, local onde o chefe de cozinha aprova os pratos.

O elfo sai, morrendo de vergonha, acredito que para pegar uma vassoura para limpar os cacos de vidro espalhados pelo chão.

Pobre de todos dessa cozinha nesse momento.

O futuro do país está em parte em suas mãos.

— Espero que qualquer erro que cometam deixem para cometer apenas hoje e não quando Ciro estiver aqui, estão ouvindo? — O chefe grita observando o cozinheiro desastrado limpar a bagunça que fez.

Eu foco em cortar os peixes e tirar a pele e só paro para descansar quando tenho uma pilha ao meu lado. Katarina pega um dos pedaços da pilha e o avalia.

— Muito bem! — Ela diz.

— E seria ainda melhor se os cozinheiros me deixassem preparar algo. Sei que faria um prato que Ciro gostaria.

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