DEZENOVE

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Pescar em Versen é mais difícil do que imaginei que seria.

Primeiro que temos que entrar na água gelada e não só ficar nas bordas. Os peixes são espertos e não ficam no raso e os equipamentos de pesca não são os de última geração como eram os da Terra. Há claro algumas coisas que se assemelham, mas o material não é nem de perto um dos melhores em questões de tecnologia.

Eu e Katarina entramos em uma canoa e remamos até quase o meio do rio. Ela me mostra como usar a vara. A única coisa diferente da que eu já vi uma vez é realmente o material e a força. A roldana está enferrujada, mas ainda funciona. Katarina me deixa em paz depois que eu coloco a linha na água de forma levemente desajeitada.

Num barco um pouco mais longe está Jeremias e Augusto. Eles competem entre si para quem pega mais peixes e em menos de quarenta minutos Augusto está ganhando por cinco peixes.

— Qual é o nome do peixe que Ciro quer? — Pergunto assim que Katarina segura um peixe de escamas vermelhas semivivo em suas mãos.

— Peixe-madeira e Rabo Amarelo.

— Parecem nojentos — respondo e Katarina ri enquanto joga o peixe em um canto da canoa dentro de uma rede.

— Um tem escamas marrons com textura que parece madeira, mas depois que você as remove ele é bem saboroso. O Rabo Amarelo é mais comum e tem gente que gosta de comer com pimenta e limão.

E pensar que Ciro deu essa tarefa para nós sendo que ele quer travar uma guerra. Yur parece cada vez mais certo quando o chamou de filhinho de papai.

A minha vara começa a ser esticada e eu dou um puxão para cima para que o anzol se enterre na boca do peixe. Ele é forte, mas uso o barco a meu favor curvando as costas para trás e mexendo a vara de um lado para o outro na água.

O peixe pula para fora.

— Um Rabo Amarelo! Parabéns! — Katarina bate palma e segura a linha da vara para que o peixe não caia de volta na água — Jeremias e Augusto pegaram peixes-madeira pelo o que estou vendo. Então, daqui algumas horas se pescarmos mais alguns já podemos finalizar o dia e voltar.

Assinto e volto ao trabalho.

Juro que se Ciro não gostar dos pratos que fizermos eu jogo um peixe cru na cara dele.

O segundo peixe que se enrosca em meu anzol é mais forte ainda. Eu dou um puxão, mas o barco se curva para a frente e Katarina se inclina para o outro lado para que ele não vire. O peixe puxa com tanta força que sou levada junto com a vara para fora do barco e para dentro da água de tons branco e laranja.

Meu grito de pânico parece chamar a atenção de todos em volta. E a neblina de sono que vem com a manhã na mente dos soldados daquele acampamento se quebra e eles me observam como se eu fosse o estopim de um ataque eminente.

Uns até desembainham espadas.

— Você está bem? — Katarina grita se apoiando nas bordas da canoa.

— Sim.

Ela levanta as mãos para os soldados no solo e faz um tudo bem com as mãos, tudo para acalmar os nervos de todos. Soldados vivem vinte e quatro horas em modo de defesa.

Não deve ser nada saudável.

Flutuo na água, contudo, sinto algo passar por entre minhas pernas. Algo gelado e gosmento. Tento olhar pelo esbranquiçado, mas não enxergo nada abaixo de meus ombros. Pareço estar tomando banho em leite de rosas.

— A água está fria.

Katarina ergue a mão para me ajudar a voltar ao barco, mas antes que eu agarre sua mão a coisa que passou pela minha perna volta. Ela se enrosca em meu tornozelo como uma planta trepadeira que cresce por muros e me puxa para baixo.

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