CINCO

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— Aqui está seu quarto — Baryn diz depois que andamos por uma infinidade de corredores naquela base militar.

Tudo ali me dá uma sensação de riqueza. Me sinto caminhando por um museu de arte ou um castelo. Um espaço importante da história. Antes de chegar na porta do quarto onde ficaria, havia passado por quadros e estátuas de mármore. Uma delas era de um elfo com um olhar gentil com uma coroa feita de ouro e rubis sobre o topo de sua cabeça. A coroa não parecia fazer parte da estátua, mas sim colocada lá após a conclusão.

Baryn mal me deixou ler a inscrição no pé da estátua afirmando que eu não estava ali para passeio e sim para trabalho. Agora eu não era mais apenas uma prisioneira, também trabalharia para eles.

Passo também por um lago, o vi por uma das janelas grandes do corredor. Nele, cisnes de duas cabeças (que mutação louca é essa?) flutuavam sobre a superfície.

Agora parada em meu quarto, vejo que ele parece confortável. Pela primeira vez desde que cheguei aqui estou em um lugar relativamente bom. Em questão de arquitetura é claro.

Mais do que minha quitinete ao menos, tem até uma janela que dá para uma vista impecável da cidade.

Me sento sobre a cama. Ela parece feita de penas de asas ou de pelos... É um material muito sedoso com cheiro de baunilha. Não é a primeira vez que sinto um cheiro assim no ar, na sala da reunião também senti. Eu particulamente gosto de produtos de limpeza com cheiros desse tipo, desde que não sejam tão fortes.

— Vocês vão dar um quarto só para mim? Pensei que estaria dividindo um beliche num quarto com umas doze pessoas.

— Bem, foi o que foi me informado. Se fosse concordado que você ficaria viva não poderia se aproximar demais das outras cozinheiras para que não as manipulasse.

— Eu? Manipular? — franzo o cenho enquanto busco um travesseiro sobre a cama.

O tecido dela é todo branco e dourado. A única cor diferente presente ali fica no teto onde há um grande desenho que pega todo o teto. É azul escuro com estrelas douradas espalhadas em forma de via láctea.

— Você vai aprender que ninguém aqui subestima a lábia dos trolienses. Não é a toa que estamos a beira de uma guerra. — Ela anda até a janela e puxa mais a cortina deixando o pouco que restava da luz do sol entrar.

O céu está em um tom alaranjado.

— Mas como exatamente eles manipulam os outros?

— Ameaças, jogos de poder, atacam seus entes queridos caso você não queira cooperar, lavagem cerebral, enfim... Isso foi o que aprendi lendo sobre eles.

— Mas eles são todos assim? Todos eles? Ou só os governantes?

— Trolia nos quer mortos, Alissa. Não há diferença em questão de quantos querem ou não. Basta uma pessoa poderosa o bastante para guiar o restante à ruína. — Ela morde os lábios e se vira em direção a porta — Enfim, já falei demais. Não tente fugir. Tem guardas nos corredores e espíritos da natureza por toda parte.

E, mais uma vez, Baryn vai embora.

Ela fala do povo de Trolia como se todos merecessem morrer, quando eu sabia que uma guerra era bem mais complicada que aquilo. Mais cedo Baryn havia chamado o povo da Terra de preconceituosos ao assumir que não nos relacionávamos com elfos por escolha e os separávamos do resto de nossa sociedade, então eu sabia que ela era a favor de um povo diverso, porém até onde sua diversidade poderia chegar?

Trolia era mal vista. E, por consequência, eu estava sendo mal vista.

O que os trolienses queriam exatamente com essa guerra? Me pergunto pois acabo fazendo parte disso, querendo ou não.

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