DOIS

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Quando fui deixada sozinha atrás da Taverna do Leão uma sensação ruim me dominou. E se eu fosse morta? Dramática? Um pouco. Mas a melhor opção que eu tinha era não falar para nenhuma pessoa que eu não sabia onde estava. Ficar vulnerável dessa forma em um lugar que eu não conhecia era pedir para que pessoas ruins tentassem se aproveitar da minha inocência.

E eu já tinha cometido esse erro uma vez com Orlean, não o cometeria novamente.

O elfo achou que eu era das Montanhas do Leste, não era? Onde quer que elas ficassem, talvez fossem minha única saída segura. Era mais inteligente do que falar que eu havia atravessado um portal.

Olho para baixo me avaliando.

Minhas roupas eram muito diferentes das de todos em volta. Eu estava chamando muita atenção.

Tiro o boné e o escondo por entre as flores e plantas. Eu sei que Orlean disse para eu entrar pela porta da frente e não arranjar problemas com —Como era o nome dela? Jaqueline? Jasmine?  mas o que mais eu poderia fazer?

Então, me esgueiro pela porta por onde momentos atrás eu estava em pé segurando dois sacos de lixo. Uma música baixa vem de dentro. Algumas vozes acompanham a letra, mas não presto muita atenção, pois as paredes bloqueiam o som e assim só consigo ouvir palavras soltas. Eu havia passado tanto tempo divagando no jardim que a Taverna até já havia aberto. Acho que fiquei uns vinte minutos travada quase surtando antes de decidir entrar.

A parte detrás da Taverna do Leão é cheia de quartos. Quatro quartos com portas abertas de cada lado. No Burger da Rainha essa área era para os banheiros, almoxarifado e uma pequena sala onde os funcionários almoçavam, a comida era esquentada em um micro-ondas que vivia pifando.

Aqui na Taverna, numa das camas de um dos quartos, há uma grande mala quadrada de madeira com um cabo de ferro, parecida com uma que tinha na casa do meu avô. A única porta fechada da área está segura, ninguém parece querer abri-la.

Assim, entro no quarto selando meu destino de ladra, porque era isso que eu iria fazer. Roubar.

Corro para a cama e abro a mala. Roupas. Perfeito. 

As coisas estão trabalhando a meu favor. A mala é de uma mulher adulta. Agradeço mentalmente por suas roupas serem mais ou menos do meu tamanho, ficavam apenas um pouco frouxas no quadril, mas serviam. Uma saia longa xadrez marrom e amarela que descia até meus tornozelos e uma blusa branca de botões de mangas curtas. Coloco também luvas brancas.

Se meu conhecimento estivesse correto essa mulher devia ter um pouco mais de dinheiro, pois aquelas roupas eram mais bonitas do que as das pessoas do lado de fora da Taverna. Eu continuava chamando atenção, porém bem menos do que antes. Não entendo muito bem a linha temporal de Duvia. Ela é estranha, mas existiam cidades brasileiras o suficiente, onde a eletricidade era precária e a tecnologia era escassa, para eu não estranhar tanto assim uma moda mais campestre.

Pelo menos são roupas bonitas.

Há também dentro da mala um pequeno espelho. Meu rosto refletido está todo sujo de poeira. E eu suava por todos os cantos. Maldito calor.

Após um preparativo mental, saio pela porta fechada e dou de cara com um pequeno corredor que dá diretamente para a área de alimentação da Taverna. As mesas são todas espalhadas em uma configuração muito parecida com a do Burger da Rainha. É estranho, como uma realidade paralela.

E para meu alívio ninguém parece notar minha presença no mar de frequentadores.

Porém, eu não estou tendo muita sorte nesse dia...

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