VINTE E SETE

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O lugar da luta será fora da base.

Yur e Baryn foram convocados para me acompanhar até lá. Tinha um tempão que eu não via a elfa, noiva de Ofélia, e seu humor comigo parece até normal ou talvez eu esteja enganada e ela só está agindo plena por fora.

Minhas suspeitas estão corretas.

Ofélia não falou nada do meu treino e Baryn que está totalmente equipada com seu arco e flecha posicionado em seu uniforme assim que nos encontramos na entrada da base semicerra os olhos ao me ver e me empurra para dentro de uma carruagem.

Eu respiro fundo. Não é culpa dela.

— Engraçado — sussurro quando me sento a sua frente.

Sua testa se franze. Yur, que também está lá, não fala comigo devido à presença dela. Ele parece entretido com a paisagem. Para Baryn eu sou no máximo uma conhecida dele e alguém que estava na mesma sala quando houve o sorteio de Ciro. Ela já nos viu trocando falas, mas nada além disso.

— Engraçado o quê? — Baryn pergunta.

— Nós só nos falamos em momentos assim desde que cheguei.

— Assim como? — ela rebate.

— Ofensivos. Não tanto quanto Arlene que se fosse deixada sozinha em uma sala comigo tentaria me matar na mesma hora, mas ainda.

Ela escora as costas no banco da carruagem e dobra os braços na frente do corpo.

— E o que te faz pensar que eu não te mataria?

Eu entendo, entendo muito bem. Ela tem seus motivos.

— É o seguinte... Eu não sei como conseguir que você me escute. É impossível. E nós não somos tão chegadas assim — afirmo e ela me olha abismada.

— Talvez eu morra hoje — continuo quando a elfa não diz nada — Então, para não ir para o além me arrependendo de qualquer coisa, quero que saiba que estou torcendo para que tudo de bom aconteça na sua vida quer eu saia viva ou não dessa luta.

Yur nos observa com o canto dos olhos. Deve me achar uma piada.

Eu não tenho nada, absolutamente nada, contra Baryn. Eu entendo sua visão, ela pensa que eu posso enganá-la, destruir sua vida, que eu posso manipulá-la. E eu nunca faria nenhuma dessas coisas com ela.

— Acabou? Eu não sou obrigada a ouvir mentiras. — ela diz.

— Eu sinto muito se ninguém nunca olhou para você e lhe desejou algo bom na sua vida, tirando Ofélia, mas pasme, eu também estou lhe desejando.

— Claro, claro... — ela bufa.

— Vocês duas poderiam diminuir o bate e boca? — Yur se intromete — e Baryn, por favor, sei que você a odeia assim como quase todos da base, uau que novidade, estou surpreso! Mas cale a boca e sossegue um pouco. Eu também irei lutar hoje se já esqueceu e já basta isso para tomar meus pensamentos.

Baryn o manda um olhar mortal.

— Yur — ela diz entredentes.

— Baryn — ele responde.

Eu tenho muita vontade de gritar.

Eu vou explodir em mil pedacinhos em algumas horas e ninguém liga. Eu vou levar uma facada e vai doer. Eu vou explodir. Eu vou sangrar.

Eu vou explodir mesmo.

Estou começando a suar frio. Não é dessa forma que eu devia estar chegando na frente do estádio onde a luta irá acontecer, mas é desse jeito que sou retirada da carruagem, com as mãos tremendo.

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