VINTE E TRÊS

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Eu e Katarina íamos até a cozinha buscar mais comida, já que o estoque da mesa de petiscos estava diminuindo, quando um homem — um dos acompanhantes de Ciro — aparece na porta.

Ele deixa Katarina passar, mas bloqueia meu caminho.

Olho de seu peito para cima já que ele tem quase o dobro da minha altura, sendo que não me considero muito baixa. Ele não me toca, mas sei que está querendo falar comigo, pois quando ando para o lado ele me imita.

O quê? — pergunto irritada.

— Ciro vai se retirar e espera sua presença no quarto dele — sua voz é grossa e me lembra a de um dragão, como se ele fosse muito maior do que aparenta.

Eu assinto.

Sabia que essa hora ia chegar, então só aceito meu destino. Já consegui dois fiéis escudeiros para não ir sozinha, sendo que um deles também foi convidado, então...

Procuro Yur e Orlean no salão, mas o grandalhão não me permite ficar muito tempo e me guia para os aposentos de Ciro. Eu nem sequer falei com Aland, porém imagino que pelas circunstâncias o elfo não iria querer que qualquer pessoa fosse para o quarto de Ciro para depois chegar lá e o troliano perguntar sobre a receita do prato e o escolhido que ficar no meu lugar não saber como explicá-la ou explicar qualquer outra coisa que Ciro Takeo Kobayashi inventasse de questionar.

Amasso minha saia transparente e a levanto um pouco para evitar de tropeçar por nervosismo.

Espero que já tenha gente lá.

Katarina não está em nenhum lugar a vista, claro que não, se o homem acabasse a arrastando para lá ela teria que ficar perto de Ciro e é o que ela menos iria querer. O medo é presente em todos os olhares perdidos dos cozinheiros.

O homem grande abre a porta (não falaram da presença dos espíritos da natureza para eles?) e eu entro em um quarto amplo com várias cadeiras espalhadas. Não tem ninguém. Tampo a respiração por alguns segundos e me sento em uma das cadeiras que ele indica antes de fechar a porta.

Eu encaro a cama de Ciro, a janela ampla e o teto do quarto, o dele também tem estrelas como o meu, mas é amarelo e branco.

Passam uns cinco minutos quando a porta se abre novamente e Calen entra por ela. Ele me vê e corre em minha direção.

— Calen? Você também?

— Aparentemente ele gostou da minha inteligência — Calen explica dando de ombros enquanto balança as pernas na cadeira à minha esquerda.

Eu balanço a cabeça, pasma.

Yur é o próximo e com ele vem Orlean.

Enquanto Yur permanece em pé escorado perto da janela, Orlean se senta do meu outro lado.

Dois dançarinos que vi na apresentação entram, um é Guilhermina e o outro é um dos elfos que foi erguido no meio da poeira da tempestade amarelo-ouro. Pelo menos não vejo a garota ruiva. Eu ia ter um colapso com a presença dela.

E é isso.

Cutuco minhas unhas enquanto esperamos Ciro e quando ele finalmente entra traz consigo uma carga espiritual do peso de um elefante. As costas de todos se tensionam, mas o troliano apenas mexe nos cabelos pretos e se senta na beirada de sua cama dobrando as pernas de maneira teatral.

— Bem-vindos — ele diz com a voz doce demais — Quero agradecer pelo jantar e também por essa acomodação. Quem foi que fez o prato que eu comi?

Ele foi direto.

Engulo em seco e levanto a mão lentamente.

Ciro dobra a cabeça, da mesma forma que fez quando Yur se recusou a segurar sua mão, e dá um meio sorriso.

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