A madrugada até o encontro com Orlean chegou mais cedo do que o esperado. O trabalho cansativo — eu devo ter lavado, empilhado e secado mais de mil pratos — foi o que fez o tempo passar rápido.
Katarina, Jeremias e Augusto também faziam o tempo ficar menos triste para mim contando fofocas sempre que podiam. Augusto e Jeremias já tinham falado de ao menos cinco casais possíveis se formando na cozinha.
E, nesse tempo, pensei muito na carta que li sobre o "Senhor Edien" indo com os irmãos para as Montanhas do Leste em Ziern. Eu sabia que havia uma maneira de encaixar um plano em tudo isso.
Os Jogos Nacionais podiam garantir minha liberdade e com essa liberdade eu podia ir a Ziern e talvez... Talvez as estrelas pudessem me ouvir.
Eu não era ninguém naquele mundo, mas era melhor do que não ter nada.
Respiro fundo encarando os minutos finais para o horário combinado com Orlean no relógio de ouro acima da minha cama. Olho para o bilhete dele uma última vez e abro de fininho a porta para o corredor.
Moriar está encostado na parede, os braços cruzados e a cabeça baixa. Quase fico com pena dele. Deve ser cansativo ficar em pé por horas e sei disso porque eu ficava atrás do balcão do Burger da Rainha por muito tempo e se eu não usasse um sapato confortável minhas pernas doeriam no dia seguinte. Ando descalça com os sapatos em minhas mãos para evitar fazer qualquer barulho no piso e fecho a porta o mais silenciosamente possível.
Olho para Moriar.
Ele está dormindo, realmente. Até ergo a mão sobre seu rosto para verificar.
Apesar do bilhete de Orlean falar que eu devia me preocupar com apenas um guarda, o próximo da estátua de rubis, nunca é demais testar.
Caminho rápido e com cuidado. Estou de pijamas, e eles consistem em uma blusa de botões e uma calça branca. Um conjunto bonitinho com linhas azuis nas mangas, pelo menos me fazem andar livremente pelos corredores.
Desço a escada e quase penso ter sido vista pelo guarda. Ele está sentado em uma cadeira de costas para a estátua. Meu coração quase para na boca. Eu preciso ser mais silenciosa.
Fico de joelhos, engatinho até aos pés da estátua e toco em sua superfície de mármore branco. A base dela é alta o suficiente para cobrir meu corpo. Ergo a cabeça até que meus olhos fiquem visíveis. O guarda está acordado e olha de vez em quando para o lado, mas não para a direção da estátua.
Talvez eu esteja com sorte.
A Sala de Armas fica no corredor que ele está olhando. Como eu iria passar por ele sem que me visse? Como se ouvisse algo, minha respiração talvez, o guarda olha para a estátua.
Droga.
Escondo meu rosto no mesmo segundo. Está um pouco escuro, então não acho que tenha me visto, mas o elfo se levanta de seu banco.
Droga. Droga.
Me encolho mais e vou rodeando aos poucos a estátua já que ele vem na direção da escada. Agora estou de frente para o banco onde o guarda estava segundos atrás, porém agora está vazio.
Ele saiu...?
O procuro. Não está em nenhum lugar.
Me levanto do chão.
Cadê ele? Foi no banheiro? Foi avisar outro guarda?
Ouço passos voltando e corro na direção a Sala de Armas. Orlean não disse que ia ser tão difícil. Abro a porta e a fecho tão rápido que fico sem fôlego. Encosto as costas na superfície e quase deixo cair os sapatos que seguro. Mas, provavelmente nem sei se vou calçá-los já que ecoam por todo canto.

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O Portal para Versen
FantasíaAlissa Ribeiro trabalha como funcionária numa das maiores redes de fast food de sua região. Entediada com a vida rotineira e sendo sempre alvo de provocações de um de seus colegas de trabalho, Alissa se incomoda com a falta de perspectiva de uma vi...