QUATRO

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Quando chego na base militar já é de tarde. O frio da manhã passou e sou cercada novamente pela menção de suor embaixo dos meus braços. Devo ter algum tipo de problema ou talvez esse lugar seja sempre assim. Uma mistura louca de frio e calor.

Baryn me guia pelos ombros me empurrando quando, às vezes, diminuo o passo. Paramos em frente à entrada que possui uma escadaria branca de mais ou menos trezentos degraus, se minha contagem rápida estiver certa.

Apenas a carruagem que cheguei com Baryn se encontra em frente a ela. Não há nenhum sinal da outra com o restante do grupo.

— Onde Orlean está? — pergunto enquanto Baryn me puxa pelos degraus da escadaria. Minha bota está machucando meus pés. Ela não foi feita para caminhadas.

— Você deve ter esquecido que é uma prisioneira e não nossa amiga — ela diz sem parar o passo.

Os degraus são de mármore branco e nossos passos ecoam enquanto subimos.

— Foi só por perguntar, credo.

Baryn faz uma careta.

Minha visão é, então, inundada por um jardim ornamentado cheio de flores e plantas. Duvia tem algum tipo de contrato com a natureza, só pode. Ela precisa estar presente em todas as partes da cidade. Casas, tavernas e bases militares. Respiro melhor aqui do que respirava na minha cidade, mesmo estando cansada após subir todos os degraus.

Paro de andar quando uma fila de soldados passa por nós.

Baryn agita os braços para que eles continuem correndo sem parar para me ver, apesar de que dos vinte, só uns dois olharam em nossa direção. O resto era extremamente centrado. Suas roupas eram pretas como as de Baryn, Berto, Arlene e Yur. Acredito que deva ser o uniforme deles. A maioria dos soldados tem orelhas pontudas como as de Orlean, mas não todos.

— Eu posso perguntar por que nem todo mundo aqui tem orelhas de elfo ou é segredo demais para vocês também?

Baryn suspira e volta a me puxar, agora em direção a uma porta alta de uns três metros.

— Todo mundo é igual em Trolia? — ela pergunta.

— Eu não sou de Trolia, mas de onde eu venho não. Ninguém é igual.

Baryn puxa a porta alta de madeira tão bonita quanto todo o resto do lugar e entramos em um longo corredor cheio de janelas.

— Então... — ela continua — Por que aqui seria diferente?

Ela tem razão, mas ainda assim minha curiosidade fala mais alto.

— Bem, de onde eu venho não há elfos.

— Seu povo não se relaciona com elfos? Um bando de preconceituosos, pelo visto.

Não tenho como rebater a ideia errada que ela teve sobre a Terra, mais especificamente sobre o Brasil. Não há preconceito ou racismo com elfos pois eles não existem, mas aposto que existiria se eles aparecessem por lá. Tudo que é diferente do status quo é odiado por um grupo. Eu mesma estou inserida em um grupo que sofre muito por isso.

Ando com Baryn por vários corredores até parar em frente a outra porta, dessa vez vermelha com ornamentos dourados parecendo galhos. Eles se espalham pela porta e brilham sob a menor das luzes. Deve ser ouro.

Baryn bate três vezes e se afasta da porta.

— Aqui fica o Conselho dos Elfos — ela sussurra depois de me colocar ao seu lado.

— E quem são eles?

— Eles são aqueles que vão definir o seu futuro.

Não sei se foi o modo como ela me respondeu ou a frase que disse, mas se tinha uma coisa que eu definitivamente não gostava era da implicância de uma pessoa definir o meu futuro, pois só quem podia defini-lo era eu.

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