TRINTA E QUATRO

30 3 0
                                    

Um dos trabalhadores de Ciro coloca um vestido vermelho em cada uma de nossas camas algumas horas depois.

Eu encaro o tecido em estado de choque.

Enquanto o meu vestido é de alças e colado na cintura com uma abertura lateral, o de Guilhermina é rodado e mediano, como uma saia de tule de uma bailarina.

Combina muito com ela.

— O seu é de seda? — Guilhermina pergunta de olhos arregalados passando os dedos pela borda da saia sobre minha cama.

— E o seu é de tule — digo erguendo o dela e girando-o no cabide — Para que é isso? — pergunto para o trabalhador parado na porta.

— Para o jantar — ele responde — O senhor Kobayashi e seu filho irão conversar com vocês sobre sua estadia nessa temporada.

— E ele precisa que a gente se vista assim?

— O senhor Kobayashi gosta de todo mundo bem apresentável durante a refeição. Tem um banheiro na porta à esquerda e sapatos nos armários. Podem ficar à vontade.

O homem se vira e fecha nossa porta com cuidado.

Eu olho para Guilhermina, mas ela está me dando um sorrisinho como quem diz "eu te avisei" e eu reviro os olhos. Tratar a gente bem no primeiro dia não quer dizer nada. Ela parece que se esqueceu da razão de termos vindo parar aqui.

Entro pela porta do banheiro.

Os banheiros de Trolia parecem muito com os da Terra ou até melhores. A tecnologia aqui presente possibilita, acima de tudo, água encanada. O que em Versen já não tinha. Lá eles têm magia, mas não sabem sobre a existência de conhecimentos acerca de um bom banho de água saindo de um cano. Nem consigo imaginar o motivo, além de ser para manter os costumes tradicionais.

Me sento na borda da banheira e giro a torneira. A água cai e sobe até a metade, jogo sais de morango na água que adquire uma tonalidade rosa. Se tem uma coisa que eu acho de outro mundo é tomar banho de banheira. Eu não tomava com frequência antes porque simplesmente não tinha dinheiro e espaço em uma quitinete para colocar uma banheira.

Entro nela.

Estou convivendo muito com pessoas ricas aqui nesse mundo, né? O comandante de um exército e o filho de um ministro.

— Queria encontrar algum cozinheiro bem de vida... — digo sentindo a água morna sobre a minha pele.

Pelo menos eu ia ter uma ideia se alguém que seguiu os passos que eu quero seguir consegue viver bem aqui sem temer pela própria vida. O que eu duvido visto que Trolia e Versen estão as margens de uma guerra.

O que adianta eles terem tudo se não tem paz?

Eu definitivamente preciso entender melhor sobre a política daqui.

Pisco rápido.

Por que estou querendo saber de algo desse mundo se eu vou embora?

Não faz o completo sentido.

Encosto as costas na banheira deixando só meus olhos e nariz de fora e tenho flashes de memória da minha vida, antes de Versen, sentada em uma cadeira em minha quitinete vazia comendo minha comida esquentada em um micro-ondas.

E, então, tenho flashes de memória dele.

Mechas brancas invadem minha mente.

Orlean está penteando meus cabelos e ele toca na pele de minha nuca, seus dedos agarram meu pescoço por trás acariciando minhas orelhas e descem em linha reta até o começo de minhas costas.

O Portal para VersenOnde histórias criam vida. Descubra agora