TREZE

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Achei que fosse ser mais fácil conversar com a garota humana na festa, mas Yur não brincou quando disse que ela era tímida. Assim que me vê a menina quase sai correndo e eu tenho que literalmente a segurar pelos braços. O que é, no mínimo, constrangedor.

— Não fuja, por favor! — imploro.

Ela encara minha mão em seu braço como se fosse uma aranha enorme prestes a atacá-la.

— Eu não vou dormir com ninguém! — Ela profere com os olhos úmidos quase derrubando lágrimas.

Meu deus, o que aconteceu com essa garota?

— Não, não. Eu não vou te pedir isso. — Digo com a voz mais doce que consigo.

Ela para de puxar seus braços.

Eu me apresento. E ela retribui o gesto. Guillermina Was. Esse sobrenome não me é estranho, porém não consigo lembrar onde ouvi. Guillermina tem dezoito anos e entrou na Companhia de Teatro Regional de Bersera aos quatorze.

— Então, Guillermina. Queria saber se conseguiria me ajudar? — inicio mesmo tendo poucas chances — Sabe aquele cara alto e assustador, porém totalmente inofensivo, que estava falando com você antes?

Ela treme quando aponto para minhas costas com o dedão. Nem sei se Yur ainda está lá.

— Sei... — responde cautelosa.

— Eu preciso de ingressos para a peça dos artistas de Bersera e em troca ele vai me dar um passe livre para a festa dele. — Mando a minha cara mais pedante possível — Essa festa é muito importante para mim. Eu preciso encontrar alguém lá.

Ela mexe a cabeça devagar como se tivesse acabado de desvendar um enigma.

— Uma pessoa importante? — Ela repete e seu rosto vai ganhando vida.

— Sim! — Estou um pouco desesperada — E eu preciso conversar com esse alguém algo muito importante. E eu só vou conseguir se eu for a essa festa porque ele está me ignorando.

— Você vai se confessar, não é?

Abro a boca. O quê?

— Você vai confessar seu amor por ele? — Ela quase grita fino e segura minhas mãos em uma concha.

De onde ela tirou isso? É algo de artistas? Ou ela só é emocionada?

— Isso é tão legal! — Guillermina continua — Eu sempre quis ajudar alguém a ter o seu final feliz. Sabe, sempre me colocam em papéis irrelevantes nas peças e eu nunca consigo sentir de perto a emoção de um casal finalmente ficando junto. Essa é minha grande chance!

— Uh... Claro? — rio nervosa.

Tento encontrar alguma razão em suas palavras, contudo ainda estou presa no "se confessar". Eu não sei de onde ela tirou isso, mas se é isso que Guillermina acha que eu vou fazer, então, não tem porque corrigí-la, né? As pessoas tendem a tirar conclusões precipitadas de mim. E desde que eu cheguei aqui estão fazendo muito isso. Não vou lutar contra a maré.

— Então, preciso muito dos ingressos para isso. — sorrio pressionando suas mãos nas minhas — Você acha que conseguiria um ingresso para Yur por mim?

Ela concorda na mesma hora.

— Mas você vai ter que ir também. — Guillermina afirma saltitante — Eu quero saber se deu tudo certo. — Ela agita os braços — Mas pera, como eu vou saber isso? Ah, já sei. Leve ele na peça também. Vocês podem sentar na primeira fila, assim eu vou poder vê-los. Isso é tão emocionante!

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