TRINTA E UM

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A luta tinha acabado de começar quando voltamos para a plateia.

Ciro escolheu seu chicote novamente.

Orlean teve um pouco de dificuldade em selecionar uma arma de combate a curto alcance e preferiu o arco e a flecha. Não sei se é uma boa ideia, mas ele parece ter um plano.

Talvez, se Orlean pudesse se manter distante de Ciro, conseguisse flechá-lo com exatidão. Isso me faz pensar que essa luta está ao lado de Orlean, mesmo com a escolha de uma arma assim. Ele é um elfo, e caso se machuque, há poções de cura. Ciro é como eu. Ele tem a tecnologia e medicina de seu povo, mas não sei se sobreviveria a uma flechada no coração.

A chuva ainda cai, mas agora em forma de garoa, e os pés de ambos estão cobertos de lama, assim como a beirada de suas calças. Ciro agita o chicote no ar em direção a Orlean, que se joga no chão saindo da frente do golpe. Tudo o que fica é uma linha áspera na lama.

O elfo mira uma flecha no arco e a dispara. Ela passa a centímetros da cabeça de Ciro, que responde ao ataque com outra chicotada.

Eles trocam palavras um com o outro, consigo ver suas bocas se mexendo.

Essa é uma luta em que ambos não estão chegando próximos um do outro. O que pode ser perigoso, mas Ciro não deve querer morrer pela sua própria explosão, então... Irá dar um jeito.

A explosão na qual ele cresceu vendo nos treinos e combates de Trolia deve ter estado presente em mais de um de seus pesadelos. Provavelmente, muitos de seus amigos perderam as cabeças explodindo, assim como os versenianos perdiam pessoas no Torneio Nacional. Ambos os países querendo provar que são melhores e que possuem exércitos melhores resultando em pessoas cheias de traumas psicológicos ou, no mínimo, com várias coisas para consertar em questão de saúde mental. E Ciro é uma delas. Com toda certeza.

Ele mexe seu chicote rápido e sagaz, como uma cobra dando o bote, porém não é à toa que Orlean é o comandante do exército. Ele mira sua flecha e desvia de todos os golpes de Ciro enquanto isso.

A flecha é solta, ela bate no muro da arena ricocheteando bem em Ciro e passando de raspão na parte de trás de seu ombro esquerdo. Ele põe a mão sobre o local e um pouco de sangue fica sobre ela. Consigo vê-lo tremendo dos pés à cabeça.

Não que isso o tenha impedido de lutar. O troliano se aproxima de Orlean o bastante para segurar seu arco e o impedir de mirar uma flecha novamente. Ciro não tem medo já que tem sua faca. Ambos ficam um bom tempo puxando e se empurrando e, por um movimento em falso de Orlean, Ciro consegue derrubá-lo no chão.

Há um momento de tensão.

Eles se encaram e Ciro estica a mão em direção ao colar de Orlean, que responde com uma cabeçada. O troliano se retrai com dor, levando a mão à testa e, nesse momento, Orlean pega seu arco e o usa para travar o pescoço de Ciro na madeira lustrada. O elfo sorri enquanto o enforca e Ciro cospe no ar — em uma tentativa de desdém — e sangue vem junto com saliva.

Orlean mexe os lábios e Ciro retruca. As costas de um coladas ao peito do outro enquanto ele continua enforcando Ciro, que mexe as pernas tentando escapar do aperto em sua traqueia. 

Queria tanto entender o que eles falam.

O troliano, então, gira a faca em sua mão e com um movimento a afunda sobre a barriga de Orlean. O elfo perde as forças e Ciro escapa do enforcamento.

Eu e Moriar nos levantamos do banco na mesma hora.

Ciro repete o movimento com a faca e depois de novo. Ouço gritos ao meu redor, mas tudo parece abafado demais.

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