Faltando vinte e cinco minutos de espera para a luta de Orlean fui com ele me encontrar com Yur. Diferente de mim que não sei nem quem fez meus pontos (e de muito mal jeito) Yur provavelmente está sendo bem cuidado por ser um soldado.
Entramos na mesma sala que acordei quase meia hora atrás e Yur berrava segurando seu ombro esquerdo deitado em uma das camas da enfermaria. Seus olhos quase se reviraram para trás das pálpebras. O meu ferimento tinha sido superficial, mas o dele era profundo. Ao seu lado um homem vestido de branco segurava um pedaço de algodão e um frasco com um líquido roxo dentro.
Será que era iodo?
— Vão dar anti-inflamatórios para ele — pergunto ao homem que suponho ser o enfermeiro ou médico.
— Anti o quê? — ele diz por sobre o próprio ombro sob os gritos de Yur.
— É um remédio para que a ferida não fique vermelha e crie pus — respondo bem didática.
Eu nem sou da área da saúde. Por que diabos estou explicando isso para ele?
— Isso é a poção de cura que resolve, mas ele... bem... não é um elfo.
— E só existem elfos para vocês? — rebato e o vejo tampar a respiração quando aumento minha voz.
Yur choraminga e tenho vontade de arrancar o enfermeiro dali que está suando, não sei se de calor ou ansiedade. Olho na direção de Orlean, porém ele também está tão perdido quanto o elfo enfermeiro. Ambos privilegiados pelo sistema.
Ponho o dedo indicador e o dedão no espaço entre meus olhos para aliviar a tensão de tanto ouvir os gritos de Yur.
— Os remédios de Trolia... Onde eles estão? — pergunto.
O enfermeiro arqueia uma sobrancelha.
— Quer dar remédio do inimigo para ele? E se for veneno?
A paciência que ainda me resta está acabando.
— Saia daí! — grito para o enfermeiro o empurrando da cadeira.
Ele nem reclama. Acho que só queria uma desculpa para sair já que não sabia o que estava fazendo.
Toco na testa de Yur. Ele continua gritando, mas não parece estar com febre. Seria até meio esquisito ele ter febre tão rápido.
— Oi, amigo — sussurro perto de seu rosto.
Ele respira rápido. Parece até que seu ferimento está pegando fogo.
— Estou aqui — afirmo — Eu estou aqui, Yur.
Ele segura meu braço com força e Orlean se aproxima de nós. Deve achar que Yur pode me machucar. Eu o impeço.
— Orlean. Fale com alguém para pegar os medicamentos de Trolia.
— Sim, senhorita — ele responde sem vacilar nenhum segundo sequer e sai.
— Tem algo de errado — Yur consegue dizer sobre o bater de seus dentes e as unhas em minha pele — com minha facada.
Descubro o ferimento em seu ombro. Ele tem razão. Além do lugar dos pontos que fizeram, uma porção de seu ombro está coberta de veias negras que se alastram do corte até um pouco mais abaixo em seu braço.
— Isso é magia? Eu achei que os trolianos só usassem tecnologia...
Um tempo depois Orlean volta segurando uma caixa de metal que parece um estojo e dentro dela tem uma seringa com um líquido vermelho. Olho para o enfermeiro em busca de ajuda, mas ele nem se mexe.

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O Portal para Versen
FantasyAlissa Ribeiro trabalha como funcionária numa das maiores redes de fast food de sua região. Entediada com a vida rotineira e sendo sempre alvo de provocações de um de seus colegas de trabalho, Alissa se incomoda com a falta de perspectiva de uma vi...