TRINTA E DOIS

24 3 3
                                    


Me encontro com Moriar depois que saio da enfermaria. Orlean está bem, mas como passou por um momento de muito stress e esteve a beira da morte (afinal, ele aguardou bem mais tempo do que os outros que se machucaram para receber cuidados), os médicos pediram que ele ficasse naquela noite em observação.

— Como ele está? — Moriar pergunta assim que minhas mãos soltam a maçaneta após fechar a porta.

Meu estômago ainda se revira pensando no que eu vi de perto, os furos em seu tórax, o sangue escorrendo pelas aberturas feitas pela faca, seu corpo se contorcendo de dor e nele, aguentando tudo isso jogado na lama, sozinho, como um pássaro abatido.

Mas ele está bem agora...

— Acho que é bom deixa-lo descansar e depois você pode vê-lo — afirmo protegendo a porta de sua passagem.

Moriar olha para as minhas mãos, acho que entendeu errado meu movimento. Não estou o bloqueando de ver o irmão, é só...

Ele põe as mãos nos bolsos e suspira se escorando na parede ao lado da porta.

— Eu sou um péssimo irmão.

Não digo nada.

Ele me encara com os olhos brilhando.

— Está esperando que eu fale alguma coisa? Eu não vou falar que é e nem que não é — levanto as mãos no alto — Só fico pensando nos seus motivos... Comigo você saiu correndo e com ele ficou parado dizendo que ele não morreria.

— Eu não tenho você como preferência — o elfo rebate.

E isso me deixa com raiva. Já entendemos.

— Eu sei, Moriar. Achei que já tínhamos resolvido isso quando se escorou no meu ombro e chorou e eu falei que podíamos ser amigos.

Ele coça a nuca. Deixei-o envergonhado. Ótimo.

Moriar solta um pequeno grunhido, quase como um animal.

— É só meio brutal como as pessoas têm pré-conceitos sobre mim. Eu só queria que entendessem que eu odeio que inventem coisas ou achem algo ali que não existe e que eu nem sequer falei. Eu me preocupo com Orlean sim, é só que...

— Está tudo bem, Moriar. Eu não acho mais que você goste de mim e não vou julgá-lo sobre Orlean.

— Eu sinto como se tivesse uma barreira entre a gente e eu também sinto que é culpa minha desde a vez que eu falei das estrelas no rosto dele.

Eu toco em seu ombro.

— Não é sua culpa. Ele só não está preparado para falar sobre isso.

Não vou falar que recebi o mesmo tratamento que Moriar quando resolvi tocar no assunto.

— Orlean chegou lá em casa quando eu tinha sete anos e ele quatorze. E eu o vi como irmão mais velho, apesar de ele nunca falar muito comigo ou com ninguém. Diziam que ele não falava, mas eu nunca acreditei. Até que uma vez — ele pausou, acho que estava pensando se me contava ou não — eu perguntei dele se era normal alguém não se apaixonar porque eu já tinha quatorze anos e meus amigos todos já tinham tido sentimentos por alguém e eu estava só... meio esquisito sobre isso. E Orlean me disse para eu não me preocupar, que se apaixonar não era tão importante assim e que amizades eram mais preciosas. Ele falou muito naquele dia. Acho que falou tanto que a garganta dele ficou seca. Igual quando você remove a rolha de um champanhe e ele explode, sabe?

Assinto.

— E você ficou feliz nesse dia?

— Sim — ele deu um sorriso de canto — Eu senti de verdade que podia contar com ele.

O Portal para VersenOnde histórias criam vida. Descubra agora