OITO

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Ando ao lado de Orlean em silêncio. Ao menos é como sinto que devia me portar, apesar de não ter ninguém ao redor. Era a primeira vez que eu o via direito e estávamos sozinhos.

Orlean se mantem assim, quieto, até o último lance de escada, onde ele para encarando algum ponto abaixo.

— Está tudo bem? — pergunto.

Minha mão agarra a borda do meu vestido azul. O tecido é macio e de algodão.

— Mais ou menos — ele responde — Eu lhe desejei um bom dia em Duvia quando nos conhecemos e tudo de ruim aconteceu com você logo depois.

— Você não tinha como saber.

Ele reinicia os passos terminando de descer os degraus e eu me coloco ao seu lado.

O que foi isso?

— Mesmo assim. — Orlean está cabisbaixo. Eu nem consigo ler sua expressão.

— Está tudo bem — Eu nem entendo a causa de toda essa tristeza. Não era como se ele fosse culpado por tudo o que aconteceu comigo. Pelo contrário. — Você, na verdade, ajudou a minha vida a ficar mais suportável aqui. E ainda acredita em mim. Que eu não sou uma espiã, né?

Orlean olha rapidamente para mim e desvia o rosto. Oh.

— Eu sei que devia acreditar no Conselho. E em todos. É o mais certo a se fazer.

Mas...? — estou um tanto mais aliviada.

— Mas você parecia tão perdida na frente da Taverna, como um cavalo que fugiu dos estábulos e parou na cidade vizinha. Seria impossível para mim não acreditar em você.

— Obrigada pelo voto de confiança.

— Porém, eu tenho algumas teorias do que aconteceu naquele dia.

Eu devia falar a ele sobre o portal? Achei que ele soubesse visto que nem o nome de Versen eu sabia... Bem... O quão louco seria eu não ser de lá? Acho que nenhuma mente sã (mesmo sendo de Versen) acharia possível.

— Adoraria ouvi-las. Só espero que não sejam estilo Soldado Invernal.

— Como? — ele semicerrou os olhos.

— Nada.

— Enfim... Está tudo no bilhete sobre o nosso encontro. Só não posso falar nada agora porque tem muita gente em volta.

E tinha mesmo. Soldados andando pelos corredores, cozinheiros e pessoas da limpeza por todos os cantos daquela base militar.

— Eu soube que vai ter os Jogos Nacionais. — comento desviando um pouco do assunto, mas para algo que ainda gostaria de mais informações.

Orlean dá um leve sorriso.

— A senhorita anda informada. Se fosse uma espiã estaria fazendo um trabalho formidável.

— Se eu for sincera, os cozinheiros são muito falantes. Não importa onde vocês me coloquem, eu sempre consigo as informações que busco.

Ele levanta uma sobrancelha.

— Vou informar o conselho para que coloquem outro guarda na sua porta — ele brinca.

— Muito engraçado — faço uma careta — Será que podem trocar o que já está lá? Ele é muito chato.

Orlean toca em sua trança tirando ela dos ombros.

— Não gosta de Moriar? Foi eu mesmo que o solicitei.

Abro a boca em choque.

Você?  Não acredito.

— O que ele fez? — dobramos um corredor.

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