TRINTA E CINCO

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Eu já escutei esse nome. Estra.

Eu quase tinha esquecido dela. Estava perdida no fundo da minha mente. Mas o quão seu nome é comum aqui nesse mundo?

A irmã de Guilhermina chamada Estra está morta e essa Estra só tem o mesmo nome.

Não é a mesma pessoa. Não pode ser a mesma.

Viro de lado no travesseiro e encaro Guilhermina que está terminando sua maquiagem. Elas não se parecem. A Estra que conheci tinha os olhos pretos e a pele mais escura, além de que Guilhermina tem cabelos mais ondulados e cheios que os dela. Mesmo que isso não indique que elas não possam ser irmãs, ainda assim é um pouco... Não vou falar nada, por enquanto. Se eu estiver errada só irei fazê-la ficar triste por uma esperança boba.

No corredor, dois trabalhadores nos guiam para um grande salão com uma mesa em formato de meia lua. Nossos lugares estão marcados com placas com nossos nomes e o meu está bem ao lado de Yur e o dele está bem ao lado de Ciro.

A mesa está coberta de doces.

Há uma tigela com o que parece ser chocolate e ao redor tigelas menores com morangos, babanas e uvas. É fondue.

Eu me sirvo de um pouco enquanto espero Yur aparecer. Ele parece se atrasar de propósito para tudo que Ciro propõe. Eu gosto quando ele faz isso, infernizar Ciro depois do que houve na arena parece ser muito divertido, mas não me daria o trabalho, então pelo menos Yur está fazendo isso por mim.

Yur finalmente entra no salão vestindo um sobretudo vermelho escuro com estampa de rosas vazadas douradas e metade do cabelo amarrado em um coque.

— Olha ele — digo sorrindo quando ele se senta ao meu lado.

— Olha quem? — ele pergunta arrumando as mangas e a gola do pescoço.

— Você.

Ele finalmente percebe e bufa.

— Eu fui forçado a usar as cores dele. Me sinto muito tentado a tirar a roupa e ficar nu aqui no meio de todo mundo, mas não quero fazer as senhoritas se sentirem assediadas, mas deixo claro meu desejo.

Guilhermina, que está do meu direito, começa a gargalhar com a mão na boca.

— Se fizesse isso na frente de Ciro ele ia gostar — digo furando uma uva e mergulhando no chocolate. Yur arregala os olhos para mim enquanto eu mastigo a uva.

— Não diga isso — sua voz treme.

Eu sorrio dando de ombros.

Venho estranhando o comportamento de Ciro com Yur desde que ele deu o antídoto depois de furá-lo no ombro, sendo que com Orlean ele estava a um passo de mata-lo. Dois pesos e duas medidas para cada um. Alguma coisa Ciro viu em Yur.

E falando no diabo, Ciro e seu pai entram no salão vestindo roupas brancas com detalhes amarelos e vermelhos nas bordas das mangas.

Isaias Kobayashi, o ministro de Trolia, é um idoso, de fato, mas parece ter um corpo forte, ao contrário do que achavam em Versen por onde haviam boatos  de que estava nas últimas e por isso não saia do país e enviava o filho no lugar.

Olhando agora parece mais que Isaias quer esconder que está bem. Por baixo das poucas rugas o ministro anda firme com sua bengala de rosas douradas. A parte superior do cabo, onde vai sua mão direita, são duas rosas curvadas como se estivessem sendo prensadas pela mão dele. É quase como se ele não precisasse dela. Tudo em Isaias parece ser para enganar, não sei explicar. Ele me dá medo. Mais medo do que senti com Ciro ou até Aland.

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