SETE

67 12 93
                                    

Deixo registrado que após eu ter dado ao Conselho dos Elfos uma dica de guerra, eles fizeram o favor de me liberar, assim como todos que vieram comigo. Não sei se para evitar que eu abrisse a boca com mais dicas, se ficaram receosos com a minha presença visto que ainda acreditavam que eu era espiã ou se simplesmente não vão mesmo com a minha cara — a aposta maior é nessa aqui — mas ainda assim me sinto vitoriosa. 

E era a pausa do almoço.

— Ela é louca mesmo. — Augusto comenta sem tirar o sorriso dos lábios desde que me ouviu falando com os elfos. — E inteligente.

— Ai, parem. — minhas bochechas ardem. 

— Você não é espiã não, né garota? — Jeremias pergunta com uma sobrancelha se arqueando.

De novo isso.

— Não. — digo pelo que parece ser a centésima vez desde que cheguei naquele mundo.

Estamos caminhando em direção ao refeitório. Começo a gravar os corredores. Poderia ser útil futuramente não me sentir perdida. Meu quarto fica no segundo andar do lado direito depois de subir uma escada. A cozinha e a sala do conselho ficam no térreo, próximo da estátua com a coroa de rubis. O refeitório também, só que no corredor atrás dela.

— Você tem que cuidar de você, Alissa. — Augusto diz — Eu adorei o que você fez, mas saiba que aqui nenhum desses elfos são legais. E eu sou filho de uma bruxa de Merita com um elfo Duviano, eu sei do que estou falando. Meu pai era um elfo terrível. Ele e Narciso seriam irmãos gêmeos sem dúvida alguma.

— Acho que pais podem ser péssimos não importa onde nasceram — murmura Katarina ao nosso lado. Eu a olho de soslaio.

Sinto que está falando dela própria, mas não diz mais nada.

— E seu pai Alissa? — Jeremias pergunta para acabar com o silêncio que surgiu após a fala de Katarina. Estamos finalmente no refeitório. — Ele é legal com você?

— Bem, incrivelmente, apesar das péssimas probabilidades do local que eu vim... Ele me entendeu. Demorou um tempinho para me aceitar porque não era algo que ele foi ensinado, mas ele foi bem compassivo. Minha mãe também.

— Bem, isso é bom. — Jeremias diz e sorri para mim.

Eu sorrio de volta.

Porém, com toda sinceridade... Eu não sei como tratam de gênero nesse mundo, mas se Versen tem algum tipo de conexão com a Terra, imagino que em alguns pontos isso deva ser comentado. Elfos, por exemplo, será que alguns "saem da curva" com o que é normalizado pela sociedade élfica?

Eu sou só uma mera humana da Terra. O que eu poderia saber?

Buscamos uma mesa depois de pegarmos pratos com uma sopa que parecia ser de legumes. Hoje não haviam tantos soldados no refeitório, mas mesmo assim procuro Orlean em meio a eles. Ele não está em lugar nenhum.

Se acalme. Ainda faltam dois dias, Alissa.

Se eu parar para pensar, esse encontro é quase como se eu fosse realmente uma espiã e Orlean um traidor. Se alguém nos pegasse entenderia tudo errado.

Balanço a cabeça. Eu não sou uma espiã, nem traidora. Eu só estou perdida. Muito perdida.

Olho para a porta de entrada do refeitório e Baryn entra com Ofélia. É a primeira vez que eu estou vendo a irmã de Katarina. E assim como a irmã, Ofélia tem cabelos ruivos, mas os seus estão bem longos (ela votou que eu ficaria viva afinal). Ela também tem a pele branca rosada como a da irmã, o tipo de pele que se você beliscar fica vermelha com facilidade.

O Portal para VersenOnde histórias criam vida. Descubra agora