Capítulo 1

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Sophie Brown

"Even on my worst day, did I deserve,

babe. All the hell you gave me?"

Taylor Swift - My Tears Ricochet

Atualmente


Atravesso o shopping com plena consciência de que estou atrasada para minha sessão e que Miia deve estar me esperando há um bom tempo. Geralmente sou uma pessoa pontual com tudo, mas hoje parece não ser meu dia, talvez seja porque quando acordei me deparei com minha caixa de email cheia de trabalho.

Olhando para o relógio novamente apresso o passo em direção a grande escadaria que fica no meio do shopping, as crianças correm de um lado para o outro no pequeno parque temático de dinossauros ao meu lado e um garotinho em específico esconde-se do que suponho ser sua mãe, que parece não muito feliz com sua atitude.

É garotinho eu fazia o mesmo.

Observo a loja a meio metro de mim.

Sim, hoje definitivamente não é meu dia de sorte.

Os instrumentos tomam conta de um amplo espaço e um específico  chama minha atenção.

Um violão.

Engulo seco, sentindo todo meu corpo ficar gélido, sabendo que aquilo não é para mim, pelo menos não mais, pode ter sido uma vez. Não me movo, apenas fico ali, segurando o corrimão de ferro, examinando a fachada com o coração na mão, desejando entrar ali.

Se fosse em outra época da minha vida, eu já estaria rodando aquele lugar, tocando um instrumento por vez.

Isso já me fez viver uma vez.

Minha rotina agora se resume a trabalhar e ficar em casa, mal tenho tempo de realmente viver, é como se todos os dias fossem automáticos. 

Levantar, se arrumar e ir para o trabalho.

Ao final do dia chego tão cansada que nunca faço absolutamente nada, parte de mim quer que essa temporada seja diferente do ano passado.

Meus olhos se cravam em uma garota de aparentemente 15 anos sentada numa cadeira no meio dali, ela está com uma guitarra apoiada na perna e fones de ouvido, sua cabeça balança de um lado para o outro, aproveitando a melodia. Há tanto tempo não sei como é essa sensação que meus dedos coçam para entrar e tocar em algum dos instrumentos.

Minha garganta se fecha, ao passo que levo minha mão direita até meu ombro, o cardigan preto que uso não me deixa captar o relevo da cicatriz em minha escápula esquerda. Uma lembrança, uma péssima, de que pessoas, mais especificamente sua família, também podem quebrar você.

Engulo em seco tentando me mover, porém meus pés estão fincados no chão.

Acho que apenas uma olhada não faria mal, não é?

Estimulo minhas pernas a caminharem até a loja, enfrentando todas minhas memórias ruins com uma respiração profunda.

Está tudo bem Sophie, ninguém pode te machucar aqui.

As pessoas da loja conversam tão calorosamente que seus murmúrios ecoam pela loja.

Como se a vida fosse algo feliz.

Posso me considerar uma pessoa amarga agora porque não me sinto assim há um bom tempo. Acho que da última vez que estive genuinamente alegre foi quando fui para a faculdade, deixando os problemas com minha mãe para trás.

A "Pior" Temporada da Minha Vida: Linha entre amor e ódioOnde histórias criam vida. Descubra agora