Sophie Brown
"Holdin' my breath, slowly I said
"You don't need to save me
But would you run away with me?""
Call It What You Want - Taylor Swift
Involuntariamente, levo a mão até minha escápula esquerda e afasto a blusa um pouco, sentindo a cicatriz irregular com meu dedo. Senti naquele dia o ódio no olhar da minha mãe, James correu para o hospital comigo enquanto papai lidava com mamãe, aquele dia foi insano para todos nós, Wells foi embora sem ao menos explicar, mamãe foi obrigada, mais uma vez, a ir ao médico para se tratar.
Em casa tudo voltou ao seu "normal" depois de algumas semanas, algumas brigas ainda eram constantes. Ela me culpava que James precisou trancar o semestre, mas meu irmão sempre contornava a situação e a calava. Papai precisou arranjar um emprego mais estável, é onde ele trabalha até hoje, na oficina de um posto de gasolina perto de casa.
Aquela mulher do natal passado, serena, era a mesma de nove anos atrás, e na quarta-feira terei que enfrentá-la.
- Sophie? - A voz de Ray me arranca com força de meus devaneios, trazendo-me para a realidade. O carro está parado no meio fio da calçada, na frente do restaurante da mãe de Salles, reconheço o lugar pela fachada - Linda você está pálida - Tiro o cinto de segurança, ignorando o que ele acabou de falar, aposto que se ele soubesse o que está passando por minha cabeça também ficaria sem sangue no rosto. Saio do carro, respirando fundo - Linda? O que está acontecendo? - Ele fecha a porta, virando-se pra mim com aflição gravada em suas expressões faciais - Você passou o caminho inteiro calada - Nem percebi - Eu falei algo?
- Não. Você me fez lembrar de algumas coisas que estavam bem enterradas - Admito, engolindo seco.
- Então eu já comecei nosso primeiro encontro mal? - Nego com a cabeça - Sabe que estou aqui pra você, não sabe? - E como eu sei, forço o canto dos meus lábios se puxarem para cima, não quero que essa memória ruim atrapalhe meu encontro com ele.
Eu realmente queria conseguir me abrir com ele, porém ainda não me sinto pronta. Na conversa com a Dra. Anne, tentei me manter o mais vaga possível sobre meus traumas, mas no final acabei jogando tudo na mesa, o que me surpreendeu. Ela disse que eu precisava do meu tempo para ficar cara a cara com ele e contar tudo que eu passei.
- Vamos entrar - É a única coisa que sai da minha boca. Ray fecha a porta do carro, travando o veículo e em seguida liderando o caminho até a porta de entrada do restaurante. Encaro a placa de "fechado" pendurada na porta de vidro com o cenho enrugado, as cortinas pretas cobrem as janelas de vidro, o local está visivelmente fechado - Pretende arrombar o restaurante do seu melhor amigo? - Brinco. Ele ergue uma sobrancelha, tirando um molho de chaves do bolso - Touché - Ray seleciona a maior chave para enfiar na fechadura, consigo escutar a tranca destravando, mas ele não se move para abrir a porta.
- Posso ao menos cobrir seus olhos? - Seu pedido tira um sorriso de meu rosto.
- Tudo bem - Aceito sem pestanejar.
Ray abre a porta apenas um pouquinho e o sorriso não abandona meu rosto por nenhum segundo, apesar de ainda estar abalada com minhas lembranças, quero estar bem para nosso encontro, nós dois merecemos isso.
- Certo, vem cá - Ele se posiciona atrás de mim, cobrindo meus olhos com suas mãos - Por favor, não espie nada - Coloco minhas mãos sobre as suas, sentindo sua pele macia e febril, e fecho os olhos - Tem um degrau aqui, linda - Tateio o chão com o pé, encontrando a elevação - Ótimo, isso mesmo - Incentiva, com animação em seu tom de voz - Espera só mais um pouco - Suas mãos saem do meu rosto, porém não abro os olhos, apesar de estar ansiosa para cacete.
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A "Pior" Temporada da Minha Vida: Linha entre amor e ódio
RomanceSempre terá uma linha tênue entre ódio e amor Ninguém supera o trabalho que Ray Harold vem dando Sophie Brown desde que ela o conheceu. Além de ter uma carreira brilhante como o camisa 10 do time dos Cleys, Ray Harold também tem o dom de tirar toda...