Epílogo

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Sophie Brown

— Cadê Lily, Ray? — Meu marido desvia o olhar do meu.

Puta merda.

Tomo uma longa respiração, tentando não surtar com a falta de resposta de Ray. Conheço meu marido bem o suficiente para saber que ele andou aprontando, e também a lama na barra da calça dele é um ótimo indicador de que ele não estava fazendo o que pedi, ou seja, ajudando Lilian a se preparar para sua festa de aniversário.

— Cadê a nossa filha? — Repito minha pergunta num tom suave que sei que apavora ele.

— Lana? — Aperto os dedos em punho, ponderando agredir meu próprio marido.

Onde eu vim parar?

— Ray — Rosno seu nome, fulminando de raiva — Eu planejei essa festa por seis meses — Pouso minhas mãos em seus ombros, fingindo limpar as mangas de sua camisa social branca, deixando-o completamente tenso com um simples toque — É melhor você me dizer onde enfiou nossa filha mais velha antes que eu me separe de você — A ameaça, depois de alguns anos de casamento, não surte nenhum efeito.

— Você sabe que é o amor da minha vida, não é? — Meneio com a cabeça, confirmando — E também sabe que temos duas filhas maravilhosas, não é? — Inevitavelmente abro um sorriso.

Sim, nós temos.

Nunca, em um milhão de anos, eu pensaria que estaria aqui. Quando bati o olho em Ray, eu sabia que o odiava, não havia espaço para nada além disso, mas o universo deu uma reviravolta imensa, primeiro as aulas para me ajudar a superar meus traumas e depois Milão. Tudo aconteceu tão sorrateiramente.

— Lana canta e toca piano tão bem quanto você, linda. As aulas que você anda dando para ela estão sendo minha atração depois do trabalho — A admissão faz meu interior derreter.

Desgraçado.

Só Ray para conseguir transformar minha ira em alegria nesse momento, parece que essa é a magia do enemies to lovers.

Lana tem apenas quatro anos, porém é a pessoa mais esforçada desse mundo quando se trata de música e não é para menos, essa garota tinha uma garganta potente quando era bebê, eu e Ray passamos centenas de noites acordados com ela chorando, nada a acalmava. No mês passado, minha filha mais nova me pediu por aulas depois que viu eu e seu pai tocando no piano da sala.

— Além disso, Lily tem meu talento. Você já viu? — Reviro os olhos com seu narcisismo.

Lilian é muito melhor que o filho de Salles e Miia e Nick tem a mesma idade dela. Nossa filha tem o dom do pai, ninguém pode negar isso, a mídia inteira ama quando Lilian vai aos jogos, com seis anos ela coloca metade dos garotos no chinelo.

Uma lâmpada se acende no fundo de minha mente.

Porra.

Fico na ponta dos pés, estreitando os olhos para além de seu ombro, checando a porta de vidro que me permite enxergar o jardim do lado de fora da nossa casa. Fito a silhueta atrás da cadeira do deck, voltando a encarar meu marido.

— Vocês estavam jogando, não estavam?

— Ela me pediu! — Argumenta de imediato.

— Eu vou matar você.

— Como eu poderia ignorar um pedido da minha filha? — Tomo uma longa respiração, formulando a melhor maneira de enforcá-lo agora mesmo sem traumatizar minha filha — Você já viu a cara que ela faz quando quer alguma coisa? É que nem a sua, não consigo dizer 'não' para as mulheres da minha vida — Mais uma vez meu coração se aquece por dentro.

A "Pior" Temporada da Minha Vida: Linha entre amor e ódioOnde histórias criam vida. Descubra agora