Tainá. Segunda-feira. 23:33 PM.
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— Tranquilidade, dona... Não vamo machucar ninguém, a gente só vai passar por aqui e cair fora — murmurei com a voz mais tranquila que uma bandida poderia ter enquanto encarava a mulher sentada na mesa, com dois moleques. Comecei a fazer sinal de silêncio pra eles enquanto a gente continuava andando por ali, os mano tava na contenção da varanda enquanto me esperava pra seguir e eu só precisava dar uma ordem, mas não conseguia tirar os olhos daquela dona.
Imagina se fosse eu? Com minha filha, presa numa casa que foi invadida com gente que vive e tem prazer pelo o mal?
A mulher continuava calada me olhando uma vez ou outra e sempre desviando pro fuzil que tava comigo. Não demorei pra pôr a alça mais pra trás do meu corpo na tentativa de esconder e ter a atenção dela e dos moleque toda em mim, já entendendo que não era e que não deveria ser fácil confiar em bandido armado, dentro da tua casa e com teus filhos dentro. Ainda mais quando o bandido é eu.
— Vão lá pra cima, 'tendeu? Desce só quando eu voltar aqui e mandar. Tu vai no silêncio, calada. — falei séria e na hora ela foi puxando os garotos pelos braço na mó pressa, fazendo o que eu tinha dito sem nem pensar duas vezes.
Sabia que não foi pela confiança, mas sim pelo medo e o instinto que te obriga a proteger aqueles que tu deu a luz sem nem pensar duas vezes. Se eu mandasse ela ficar de joelhos pra morte em troca da vida dos filhos, ela ficaria.
E querendo ou não, eu tinha vindo pra cá pela mesma coisa. Foi por isso que eu invadi a merda da casa dela, acompanhada de um monte ladrão, passando como se o maldito mundo fosse obrigado a parar pra que eu tivesse a minha filha. É esse instinto que me dá mais adrenalina do que matar qualquer um, que me machuca mais do que qualquer outro trauma e que me conforta mais do que qualquer noite com uma ruiva de um corpo quente ou com um moreno bom demais pra acreditar, encantador.
Ele me deu flores e cuidou de mim mais vezes do que eu podia imaginar, e ela... Ela me encheu de estresse, ódio e raiva. Isso por saber que 'tava metida com um irmão tão ruim que não queria dar orgulho nem pra própria mãe, que eu não duvido nada que faria tudo por ele. Mãe só tem o que não merece, nunca vi igual.
Se um moleque que nem ele tivesse saído de mim, pô... Eu ia ficar louca. Ele ia receber mais surra do que mão na cabeça quando aparecesse na minha casa. Dá não.
— Costa? — Me chamaram, e eu balancei a cabeça lentamente na direção da voz uma só vez, pra ele entender que eu ouvia. Tomei minha postura de novo e no 'mermo segundo eu sentia o olhar dos menor em mim, me olhando como se esperassem eu sair daqui e continuar com o plano. E eu fiz isso quase que na mesma hora, fechei a cara e passei na cautela pela sala da mulher até dar em um quintal pequeno, que dava já pra outro portão de alumínio.
A única fita que separava a mulher do maluco era a merda de um portão de alumínio. Me dava nojo saber que ele vivia simples, que provavelmente contava alguma mentira diferente pra todo mundo que perguntasse dela pra ele e provavelmente metia o louco por ela não lembrar do que vive. Minha filha deve ter passado de mão e mão nessa comunidade toda e ninguém falou nada porque não sabiam da verdade, com ele mais tempo intocado aqui do que a terra tá no chão. Cacete!
Se eu num tivesse aceitado a ideia de vir pra cá com o Augusto, não ia nem saber se minha filha tava viva. Mas tem muita fita errada nisso, tá ligado? Nesses anos todos que tu tá envolvido que você se toca, tu olha além do que o olho enxerga e ouve mais do que o ouvido escuta, você percebe que ninguém é amigo de ninguém e que as coisas com bandido sempre seria estranho, não ia mudar logo contigo. Aí tu vira experiente e tua morte vem muito mais lenta do que só tomar uma bala na nuca. Deixa de ser sobre isso. A parada se eleva e cabe a você dar teu jeito de não cair no vale da sombra da morte mais cedo, ou pelo menos vigiar pra não cair, porque tu não sabe se não tem nenhum maluco obcecado por tu louco pra te matar ou não. É viver o hoje e guardar o amanhã pro Senhor, mesmo que eu num seja nenhuma santa.
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𝐓𝐑𝐎𝐏𝐀 𝐃𝐄 𝐄𝐋𝐈𝐓𝐄 - 𝗍𝖺𝗂𝗅𝖺𝗋𝖺 𝖾 𝗍𝖺𝗂𝗇𝖺𝖼𝗍𝗈𝗋.
FanfictionOnde a traficante mais procurada do Brasil fica indecisa amorosamente entre duas pessoas. Sejam bem vindos a vida de Tainá Costa. 𝗫 Assim que finalizado, todos os capítulos serão reescritos e organizados novamente num novo livro que será publicado...