Capítulo um

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Lauren voltou a si aos poucos. Seus membros drogados estavam pesados contra as almofadas de seda, as algemas de ouro em seus pulsos pareciam pesos de chumbo. Suas pálpebras se ergueram e baixaram. Os sons que ouviu, no início, não fizeram sentido, apenas o murmúrio de vozes falando veretiano. O instinto disse: levante-se.

Ela se compôs e se ergueu de joelhos.

Vozes veretianas?

Seus pensamentos confusos, chegando a essa conclusão, não conseguiram entender nada. Era mais difícil controlar a mente que o corpo. Ela não conseguia se lembrar de nada imediatamente após sua captura, embora soubesse que havia se passado algum tempo desde então. Tinha consciência de que, em algum momento, havia sido drogada. Ela tentava se lembrar. Por fim, conseguiu.

Ela tinha tentado escapar.

Fora transportada no interior de uma carroça trancada e sob guarda pesada até uma casa nos limites da cidade. Foi tirada da carroça e levada até um pátio fechado e... Lembrava-se de sinos. O pátio se encheu com o som repentino deles, uma cacofonia vinda dos lugares mais altos da cidade, carregados pelo ar quente da tarde.

Sinos ao anoitecer, proclamando um novo Alfa Supremo.

Michael está morto. Vida longa a Kristopher.

Com o som dos sinos, a necessidade de escapar superou qualquer instinto de cautela ou subterfúgios, parte da fúria e da tristeza que se abateram sobre ela em ondas. A partida dos cavalos lhe deu sua oportunidade.

Mas ela foi desarmada e cercada por soldados, em um pátio fechado. Seu tratamento posterior não foi delicado. Eles a jogaram em uma cela nas entranhas da casa, então a drogaram. Os dias se misturaram uns com os outros.

Do resto, ela se lembrava apenas de períodos breves, incluindo - ela sentiu um nó no estômago - o barulho e os borrifos de água salgada: transporte a bordo de um navio.

Sua cabeça estava desanuviando pela primeira vez em... quanto tempo?

Quanto tempo desde sua captura? Quanto tempo desde que soaram os sinos? Por quanto tempo ela havia permitido que aquilo acontecesse? Uma onda de força de vontade ergueu os joelhos de Lauren. Ela tinha que proteger sua casa, seu povo. Ela deu um passo.

Uma corrente chacoalhou. As lajotas do piso deslizaram sob seus pés, vertiginosamente; sua visão turvou-se.

Ela procurou apoio e se equilibrou com um ombro contra a parede. Com esforço, não deslizou de volta para o chão. Mantendo-se de pé, reprimiu a tontura. Onde estava? Ela fez com que sua mente confusa avaliasse a si mesma e o ambiente.

Estava vestida com os trajes parcos de um escravo akielon e limpa da cabeça aos pés. Imaginou que isso significasse que havia recebido cuidados, embora sua mente não lhe fornecesse nenhuma memória de quando isso acontecera. Ela permanecia com a coleira e as algemas de ouro no pulso. Sua coleira estava presa a uma argola de ferro no chão por uma corrente e um cadeado.

Uma leve histeria ameaçou-a por um momento; ela cheirava levemente a rosas.

Em relação ao quarto, para todo lado que virava, seus olhos eram agredidos pela ornamentação. As paredes eram cobertas de decoração. As portas de madeira eram delicadas como uma tela, e entalhadas com um padrão repetido que incluía fendas na madeira, através das quais ela podia ver as impressões sombrias do que havia do outro lado. As janelas tinham telas semelhantes. Até as lajotas do piso eram coloridas e arrumadas em um padrão geométrico.

Tudo dava a impressão de padrões dentro de padrões, criações pervertidas da mente veretiana. Então tudo se encaixou de repente: as vozes veretianas, a apresentação humilhante ao conselheiro Guion - "Todos os escravos novos são presos?" -, o navio e seu destino.

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