Capítulo vinte e um

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Lauren deixou a alfa para trás, alquebrada e vazia depois de revelar tudo o que sabia. Ela puxou a cabeça de seu cavalo para fazer a volta e partiu apressada na direção do acampamento.

Ela não tinha outra escolha. Estava atrasada demais para ajudar Camila na cidade. Tinha de se concentrar no que podia fazer - porque havia mais que a vida de Camila em jogo.

A alfa era parte de um grupo de mercenários acampados nas montanhas de Nesson. Eles tinham planejado um assalto em três estágios: depois do ataque a Camila na cidade, haveria uma sublevação na tropa da princesa. E se a tropa e a princesa de algum modo sobrevivessem e conseguissem, em seu estado prejudicado, continuar para o sul, eles cairiam na armadilha dos mercenários nas montanhas.

Não foi fácil arrancar toda a informação, mas Lauren fornecera a mercenária um incentivo constante, metódico e impiedoso.

O sol já tinha chegado a seu zênite e começara a descer lentamente outra vez. Para ter qualquer chance de alcançar o acampamento antes que ela fosse esfacelada pela insurgência planejada, Lauren precisaria tirar seu cavalo da estrada e cavalgar em linha reta, como fazem os corvos, pelos campos.

Ela não hesitou e esporeou o cavalo para subir a primeira encosta.

A viagem foi uma corrida louca e perigosa pelas bordas desmoronantes dos morros. Tudo demorava demais. O terreno irregular reduzia a velocidade do cavalo. As rochas de granito eram traiçoeiras e afiadas como navalhas, e o animal estava cansado, por isso o risco de tropeçar era maior. Ela se manteve no melhor solo que pôde ver; quando era preciso, deixava o cavalo escolher o próprio caminho pela terra esburacada.

Em torno dela havia uma paisagem silenciosa e salpicada de granito, de terra batida e capim rústico; e, com ela, o conhecimento da ameaça tripla.

Era uma tática que fedia ao regente. Tudo aquilo: aquela armadilha complexa que atravessava a paisagem para separar a princesa de sua tropa e de seu mensageiro, de modo que salvar um significava sacrificar o outro. Como Camila havia comprovado. Camila, para salvar o mensageiro, arriscara a própria segurança, despachando sua única protetora.

Lauren tentou, por um momento, pensar na situação de Camila, tentar adivinhar como a princesa iria escapar de seus perseguidores, o que ela faria. E percebeu que não sabia. Não conseguia nem ter ideia. Era impossível prever Camila.

Camila, uma ômega irritante e obstinada, total e completamente impossível. Será que tinha antecipado aquele ataque o tempo todo? Sua arrogância era insuportável. Se ela tivesse deliberadamente se deixado aberta a ataques, se ela fosse pega em um de seus próprios jogos... Lauren praguejou, e concentrou a atenção na viagem até o acampamento.

Camila estava viva. Ela evitava tudo o que merecia. Era escorregadia e astuta, e havia escapado do ataque na cidade com trapaça e arrogância, como sempre.

Maldita Camila. A Camila que tinha se deitado junto do fogo parecia muito distante, com membros estendidos, relaxada, conversando... Lauren achou que essa memória estava ligada de modo inextricável com o brilho do brinco de safira de Nicai, o murmúrio da voz de Camila em seu ouvido, a emoção de tirar o fôlego da perseguição, de telhado em telhado, tudo isso entrelaçado em uma noite longa, louca e interminável.

O solo limpou embaixo dela, e no instante em que isso aconteceu ela cravou os calcanhares nos flancos do cavalo cansado e acelerou.


xxx

Ela não foi recebida por batedores, o que fez seu coração bater forte. Havia colunas de fumaça, fumaça negra cujo cheiro ela podia sentir, densa e desagradável. Lauren conduziu o cavalo pelo resto do caminho até o acampamento.

Alfa CativaOnde histórias criam vida. Descubra agora