Capítulo quinze

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Muito antes de partirem na manhã seguinte, ficou óbvio que o regente escolhera o pior tipo de alfa que pôde encontrar para mandar com a sobrinha. Era óbvio, também, o fato de que eles estavam posicionados em Chastillon para esconder da corte sua qualidade lamentável. Não eram nem soldados treinados, mas mercenários, a maioria deles lutadores de segunda e terceira classe.

Com uma ralé como aquela, o rosto bonito de Camila não estava ajudando em nada. Lauren ouviu uma dúzia de calúnias e insinuações maliciosas antes mesmo de encilhar seu cavalo. Não era surpreendente que América tivesse ficado furiosa: até Lauren, que não tinha nenhuma objeção que os alfas difamassem Camila, estava ficando irritada. Era desrespeitoso falar assim de qualquer comandante. A liberdade vinha do fato dela ser uma ômega. Ela vai relaxar para a pica certa, ouviu ela. Lauren puxou com força demais a correia do cavalo.

Talvez estivesse mal-humorada. A noite anterior tinha sido estranha, sentada diante de um mapa em frente a Camila, respondendo a perguntas.

O fogo ficara baixo na lareira, um braseiro quente. Você disse que conhecia o território, falara Camila, e Lauren se viu confrontada com uma noite dando informações táticas para uma inimiga que ela podia enfrentar um dia, país contra país, Alfa Suprema contra rainha.

E esse era o melhor resultado possível: partia do princípio de que Camila iria derrotar o tio e que Lauren iria voltar para Akielos e reclamar seu trono.

- Você tem alguma objeção? - perguntara Camila.

Lauren havia inspirado fundo. Uma Camila forte significava um regente enfraquecido, e se Vere fosse distraída por uma disputa familiar pela sucessão, isso só iria beneficiar Akielos. Que Camila e o tio brigassem.

Devagar e com cuidado, ela começara a falar.

Elas conversaram sobre o terreno na fronteira e sobre a rota que tomariam para chegar até lá. Não cavalgariam em linha reta para o sul. Em vez disso, seria uma jornada de duas semanas para o sudoeste através das províncias veretianas de Varenne e Alier, uma trilha que circundaria a fronteira montanhosa vaskiana. Era uma mudança do caminho direto que tinha sido planejado pelo regente, e Camila já havia enviado cavaleiros para informar as fortalezas. Camila, pensou Lauren, estava ganhando tempo, estendendo a viagem o máximo possível.

Elas conversaram sobre os méritos das defesas de Ravenel em comparação com as de Fortaine. Camila não parecera demonstrar nenhuma inclinação para dormir. Não tinha olhado para a cama nenhuma vez.

Com o passar da noite, a princesa trocara o comportamento contido por uma pose relaxada e jovial, erguendo um joelho contra o peito e o envolvendo com um braço. O olhar de Lauren foi atraído pela postura relaxada dos membros de Camila, o equilíbrio do pulso sobre o joelho, os ossos compridos e finamente articulados. Ela estava consciente de uma tensão difusa, mas crescente, uma sensação quase como se ela estivesse esperando... esperando alguma coisa, sem saber ao certo o quê. Era como estar sozinha em um poço com uma serpente: a serpente podia relaxar; você, não.

Cerca de meia hora antes do amanhecer, Camila se levantara.

- Acabamos por hoje - dissera ela brevemente. Em seguida, para surpresa de Lauren, ela saíra para começar os preparativos matinais. Lauren fora bruscamente informada de que seria convocada quando necessário.

O castelão a chamara algumas horas depois. Lauren aproveitara a oportunidade para dormir um pouco, retirando-se determinadamente para seu estrado e fechando os olhos. Na próxima vez que viu Camila, ela estava no pátio, usando uma peça de roupa azul escura de gola alta e punhos ajustados, a mesma não passava dos tornozelos em um corte diversificado, de modo que podia ser visto entre os corte em V das suas pernas, a calça de couro negra para montaria que ela usava, parecia relaxada e pronta para partir a cavalo. Se Camila tinha dormido, não fora na cama do regente.

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