Alfa Cativa

Capítulo dezessete

Camila, com 20 anos recém-completos e uma mente complexa com o dom do planejamento, afastou-a das pequenas intrigas da corte e a liberou sobre a tela mais ampla de seu primeiro comando.

Lauren viu aquilo acontecer. Começou quando, depois de uma longa noite de discussões táticas, Camila se dirigiu à tropa com um retrato de suas deficiências. Ela fez isso do alto de um cavalo, com uma voz nítida que chegava ao mais distante dos alfas reunidos. Ela escutara tudo o que Lauren dissera na noite anterior. E ouvira muito mais que isso. Enquanto falava, emergiam fatos que ela só podia ter obtido de criados, armeiros e soldados aos quais, ao longo dos últimos três dias, ela também tinha escutado.

Camila regurgitou a informação de um jeito tão brilhante quanto mordaz. Quando terminou, foi bondosa com os alfas: talvez eles tivessem sido atrapalhados por um mau capitão. Portanto, iriam permanecer ali em Nesson por duas semanas para se acostumar com o novo capitão. Camila iria liderá-los pessoalmente em um regime que iria exigir muito deles, prepará-los e transformá-los em algo próximo de uma companhia capaz de lutar. Se eles pudessem acompanhá-la.

Mas primeiro, acrescentou docemente Camila, eles iriam desembalar tudo e montar acampamento ali outra vez, das cozinhas às tendas e ao curral de cavalos. Em menos de duas horas.

Os alfas engoliram. Eles não teriam feito isso se Camila não tivesse enfrentado seu líder e o derrotado completamente no dia anterior. Mesmo então, poderiam ter resistido se a ordem tivesse vindo de um superior indolente, mas desde o primeiro dia, Camila trabalhou duro sem comentários nem reclamações. Isso, também, fora calculado com precisão.

Então eles se puseram a trabalhar. Ergueram as tendas, martelaram estacas e cravos e desencilharam todos os cavalos. Jord dava ordens rápidas e pragmáticas. As linhas de tendas pareciam retas pela primeira vez desde que eles começaram a viagem.

Então acabou. Duas horas. Ainda era tempo demais, mas era muito melhor que o caos espalhado das últimas noites anteriores.

Tornar a encilhar os cavalos foi a primeira ordem, em seguida veio uma série de exercícios criados para não exigir demais dos cavalos, mas para serem brutais sobre os alfas. Lauren e Camila tinham planejado os exercícios juntas na noite anterior, com algumas opiniões de Jord, que se juntara a elas nas horas antes do amanhecer. Na verdade, Lauren não esperava que a própria Camila tomasse parte dos treinamentos, mas ela fez isso, determinando o ritmo.

Segurando as rédeas de seu cavalo ao lado do de Lauren, Camila disse:

- Você tem suas duas semanas extras. Vamos ver o que podemos fazer com elas.

À tarde elas passaram para o trabalho com as fileiras: linhas que eram rompidas repetidas vezes até que, finalmente, não romperam, nem que fosse apenas porque todos estavam cansados demais para fazer qualquer coisa além de seguir comandos sem pensar. O treinamento do dia havia exigido até de Lauren, e quando eles terminaram, ela sentiu, pela primeira vez em muito tempo, como se algo tivesse sido realizado.

Os alfas voltaram para o acampamento alquebrados e exaustos, sem energia para reclamar que sua líder era uma demônia de cabelos cor de mogno e olhos castanhos, maldita seja. Lauren viu América deitada perto de uma das fogueiras com os olhos fechados, como alguém desmoronado após correr muito. A obstinação de caráter que fizera América se meter em brigas com alfas que tinham duas vezes o seu tamanho também a fazia acompanhar todos os treinamentos, independentemente da barreira da dor e do cansaço que tinha de vencer fisicamente. Pelo menos, nesse estado ela não seria capaz de causar problemas. Ninguém iria começar uma briga: eles estavam cansados demais.

Enquanto Lauren observava, América abriu os olhos e encarou o fogo com um olhar vazio.

Apesar das complicações que América apresentava para a tropa, Lauren sentiu uma onda de simpatia. A ômega tinha apenas 19 anos, e aquela era, obviamente, sua primeira campanha. Ela parecia deslocada e solitária. Lauren foi até ela.