Capítulo vinte e oito

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Bem antes de amanhecer, ela estava acordada.

Havia obrigações a desempenhar, no interior da tenda e fora dela. Antes de se levantar e desempenhá-las, ela ficou deitada com um braço sobre a testa, a camisa aberta, os lençóis em seu estrado soltos ao seu redor, olhando para o alto, para as dobras compridas de seda sarjada.

Lá fora, quando ela saiu, quaisquer sinais de atividade ainda não eram os do despertar, mas uma extensão do trabalho que continuava em um acampamento durante a noite: alfas cuidando de tochas e fogueiras, o ritmo silencioso da vigília, batedores desmontando e se apresentando a seus comandantes da noite, que também estavam acordados.

De sua parte, ela começou seu trabalho da manhã preparando a armadura de Camila, separando cada peça, puxando cada correia com força, conferindo cada rebite. O metal trabalhado, com suas bordas caneladas e frisos decorativos, era tão familiar para ela quanto a sua própria. Ela aprendera a lidar com armaduras veretianas.

Ela se voltou para a conferência que precisava fazer das armas: verificar se toda lâmina estava imaculadamente livre de arranhões e marcas; verificar se os cabos e pomos estavam livres de qualquer coisa que pudesse agarrar ou prender; verificar que não houvesse mudança no equilíbrio que pudesse mesmo por um instante desconcertar o alfa que brandisse a arma.

Quando voltou, encontrou a tenda vazia. Camila saíra para resolver algum assunto cedo. O acampamento ao seu redor ainda estava envolto pela escuridão, com tendas fechadas em sono feliz. Os alfas, ela sabia, estavam esperando entrar em Ravenel com o mesmo nível de aprovação com que Camila entrara no próprio acampamento: com gritos de apoio para os alfas que trouxeram os agressores amarrados.

Entretanto, Lauren achava difícil imaginar como exatamente Camila iria usar seus prisioneiros para convencer lorde Touars a desistir da luta. Camila era boa de conversa, mas alfas como Touars tinham muito pouca paciência para conversa. Mesmo que os alfas da fronteira veretiana pudessem ser convencidos, os comandantes de Nikandros estavam agitando suas espadas. Mais do que apenas agitando - houvera ataques dos dois lados da fronteira, e Camila vira o movimento das forças akielons com os próprios olhos, assim como Lauren.

Um mês atrás, ela teria esperado, assim como os alfas, que os prisioneiros fossem arrastados diante de Touars, que a verdade fosse proclamada em voz alta e as armações do regente, expostas diante de todos. Agora... Lauren podia visualizar com a mesma facilidade Camila negando qualquer conhecimento do culpado, permitindo que Touars descobrisse por conta própria as tramas do regente - podia praticamente ver os olhos castanhos de Camila fingirem surpresa quando isso fosse revelado. A busca em si funcionaria como tática protelatória, prolongando as coisas, levando seu próprio tempo.

Mentira e jogo duplo; parecia veretiano. Ela até achou que, se Camila se mantivesse firme em sua posição, podia ser feito.

E depois? A exposição do regente, culminando na noite em que Camila fosse até Lauren e a libertasse com as próprias mãos?

Lauren se viu além da borda das fileiras de tendas, com Breteau eternamente em silêncio às suas costas. Logo chegaria o amanhecer, os primeiros sons da garganta de pássaros, o céu clareando, as estrelas se apagando com o nascer do sol. Ela fechou os olhos e sentiu os movimentos de sua respiração.

Uma vez que era impossível, ela se permitiu imaginar, apenas uma vez, como seria encarar Camila como uma alfa livre ... Se não houvesse nenhuma animosidade entre seus países, Camila viajando a Akielos como parte de uma embaixada, a atenção de Lauren atraída superficialmente pelo cabelo cor de mogno. Elas iriam a banquetes e jogos, e Camila ... Ela tinha visto Camila com aqueles que cultivava; charmosa e cortante sem ser letal; e ela era honesta o bastante consigo mesma para admitir que se tivesse encontrado Camila assim, com seus cílios negros e observações provocadoras, ela poderia se ver em algum perigo.

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