Foi um pouco de ambição demais de Camila pensar que poderia se livrar, com facilidade e discrição, de uma reunião da corte da qual sua própria censura fora a peça central.
Lauren, levada na ponta da corrente, observou enquanto o progresso de Camila era impedido repetidas vezes por aqueles que queriam se condoer. Havia a pressão de seda, cambraia e solicitude. Para Lauren, não era um alívio, apenas um adiamento. Ela sentia a todo momento a mão de Camila na corrente, como uma promessa. Lauren sentia uma tensão que não era medo. Sob outras circunstâncias, sem guardas ou testemunhas, ela talvez gostasse da oportunidade de ficar sozinha em um quarto com Camila.
Camila era, de fato, boa de conversa. Ela aceitava com graça a solidariedade. Expunha sua posição racionalmente. Parava o fluxo da fala quando esta se tornava perigosamente crítica do tio. Ela não disse nada que pudesse ser tomado como um insulto aberto à regência. Ainda assim, ninguém que falasse com ela podia ter qualquer dúvida de que o tio estava se comportando, na melhor das hipóteses, equivocadamente, e, na pior delas, de modo traiçoeiro.
Mas mesmo para Lauren, que não tinha grande conhecimento da política naquela corte, era significante que todos os cinco conselheiros tivessem saído com o regente. Era um sinal da força comparativa do regente: ele tinha todo o apoio do Conselho. A facção de Camila, que ficara reclamando na sala de audiências, não havia gostado daquilo. Mas eles não tinham de gostar. Não podiam fazer nada em relação àquilo.
Essa, então, era a hora em que Camila devia fazer seu melhor para conseguir reunir apoio, não desaparecer em algum lugar para um tête-à-tête em particular com sua escrava.
Sua posição já era frágil o suficiente apenas por existir como ômega e ser a herdeira do trono.
No entanto, apesar de tudo isso, elas estavam deixando a sala de audiências e seguindo por uma série de pátios internos grandes o suficiente para conter árvores, canteiros geométricos, fontes e trilhas sinuosas. Do outro lado dos pátios, era possível ver vislumbres da celebração; as árvores se mexiam, e as luzes do entretenimento no outro lado brilhavam forte.
Elas não estavam sozinhas. Havia dois alfas seguindo a distância para a proteção de Camila. Como sempre. E o pátio em si não estava vazio. Elas passaram mais de uma vez por casais passeando pelas trilhas, e uma vez Lauren viu um escravo alfa de estimação e um cortesão ômega se abraçando e se beijando sensualmente em um banco.
Camila os conduziu até uma pérgula coberta de vinhas. Ao seu lado havia uma fonte e um lago comprido cheio de lírios. Camila prendeu a corrente de Lauren à estrutura de metal do caramanchão, como amarraria um cavalo a um poste. Ela teve de ficar bem perto de Lauren para fazer isso, mas não deu sinal de estar incomodada com a proximidade. Amarrá-la não era nada mais que um insulto. Como não era um animal estúpido, Lauren era perfeitamente capaz de soltar a corrente. O que a mantinha no lugar não era uma fina corrente dourada que fora enrolada despreocupadamente em torno do metal, mas a guarda uniformizada e a presença de meia corte, e de muitos outros alfas além disso, entre ela e a liberdade.
Camila se afastou alguns passos. Lauren a viu erguer a mão até a própria nuca, afastando os longos cabelos castanhos, como se quisesse aliviar a tensão. A princesa não fez nada por um momento além de ficar parada em silêncio e respirar o ar fresco perfumado pelas flores noturnas. Ocorreu a Lauren pela primeira vez que Camila talvez tivesse as próprias razões para querer fugir da atenção da corte.
A tensão aumentou e irrompeu na superfície quando Camila se virou outra vez para ela.
- Você não tem um grande senso de autopreservação, tem, bichinho de estimação? Dar com a língua nos dentes com meu tio foi um erro - disse Camila.
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Alfa Cativa
FanfictionLauren é uma heroina para o seu povo e a legítima herdeira do trono de Akielos. Mas, depois da morte do pai, seu meio-irmão toma o poder e a vende como escravizada. A alfa guerreira, então, é obrigada a servir Camila, a ômega e princesa da poderosa...