Capítulo quarenta

1.8K 195 60
                                    

A dificuldade era que eles não podiam partir imediatamente.

Lauren devia estar acostumada a trabalhar com uma tropa dividida; àquela altura, tinha muita prática nisso. Mas aquele não era um pequeno bando de mercenários, mas forças poderosas demais que eram inimigas tradicionais, comandadas por generais voláteis dos dois lados.

Makedon entrou em Fortaine para sua primeira reunião oficial com a boca curvada para baixo. Na sala de audiências, Lauren se viu esperando, tensa, pela chegada de Camila. Observou Camila entrar com a conselheira principal, Vannes, e seu capitão Enguerran. Ela estava francamente incerta se aquela seria uma manhã de insistências sutis ou uma série de observações inacreditáveis que deixariam todos de queixo caído.

Na verdade, foi impessoal e profissional. Camila estava exigente, focada, e falou inteiramente em akielon. Vannes e Enguerran dominavam menos a língua, e Camila assumiu a liderança nas discussões, usando palavras akielons como "falange" como se não as tivesse aprendido com Lauren apenas duas semanas antes, e dando a impressão calma e geral de fluência. O leve franzir de testa quando ela procurava um vocábulo, os "Como você diz...?" e "Como se chama quando...?", haviam desaparecido.

- Sorte dela falar nossa língua tão bem - disse Nikandros enquanto voltavam para o acampamento akielon.

- Nada que a envolve tem a ver com sorte - disse Lauren.

Quando estava sozinha, ela olhou para fora de sua tenda. Os campos vastos pareciam pacíficos, mas logo os exércitos iriam se movimentar. O contorno vermelho do horizonte iria ficar mais próximo, o solo em elevação que continha tudo o que ela jamais conhecera. Ela o seguiu com os olhos e, quando terminou, deu as costas para a vista. Não olhou para o novo acampamento veretiano, onde sedas coloridas se erguiam com a brisa e o som eventual de risos ou cantorias era levado sobre o capim primaveril do campo.

Os acampamentos, elas concordaram, seriam mantidos separados. Os akielons, ao ver as tendas veretianas começarem a surgir nos campos, com suas flâmulas e sedas e painéis multicoloridos, escarneceram. Eles não queriam lutar ao lado daqueles novos aliados delicados. Nesse ponto, a ausência de Camila em Charcy tinha sido um desastre. Seu primeiro verdadeiro erro tático, do qual todos eles ainda estavam tentando se recuperar.

Os veretianos escarneciam também, de um jeito diferente. Akielons eram bárbaros que andavam na companhia de bastardos e circulavam por aí de capuzes e braços nus. Ela ouvia fragmentos do que era dito nas bordas de seu acampamento, os chamados obscenos, as zombarias e provocações. Quando Pallas passava, Lazar dava um assovio lascivo.

E isso foi antes dos rumores mais específicos, dos murmúrios entre os alfas, da especulação que fez Nikandros dizer, em uma noite quente de verão:

- Tome um escravo.

Lauren respondeu:

- Não.

Ela se afundou em trabalho e exercícios físicos. Durante o dia, se jogava na logística e no planejamento, o fundamento tático que iria facilitar uma campanha. Ela planejava rotas e determinava linhas de suprimentos. Comandava treinamentos. À noite, deixava o acampamento e, quando não havia ninguém a sua volta, pegava a espada e praticava até escorrer suor, até não poder mais levantar a espada, mas apenas permanecer de pé, os músculos tremendo, a ponta da lâmina apontada para o chão.

Ela ia para a cama sozinha. Ela se despia e se lavava e só usava escudeiros para realizar aquelas tarefas domésticas sem intimidade.

Ela dizia a si mesma que era isso o que queria. Havia um relacionamento profissional entre ela e Camila. Não havia mais... amizade, mas isso nunca teria sido possível. Ela sabia que não viveria a fantasia estúpida de mostrar seu país a Camila; de ver Camila apoiada contra a sacada de mármore em Ios, virando-se para saudá-la no ar fresco de frente para o mar, seus olhos brilhantes com o esplendor da vista.

Alfa CativaOnde histórias criam vida. Descubra agora