Capítulo vinte

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Lauren se sentou com as costas para a parede, sobre a roupa de cama que reunira junto da lareira. Os sons do fogo ficaram esparsos; ele já tinha queimado e se reduzido às últimas brasas brilhantes. O quarto estava calorosamente calmo e silencioso. Lauren estava bem acordada.

Camila dormia na cama.

Lauren podia identificar sua forma, mesmo na escuridão do quarto. O luar que penetrava pelas frestas das cortinas da sacada revelava o volume genoroso do cabelo castanho de Camila espalhado sobre o travesseiro. Camila dormia como se a presença de Lauren no quarto não importasse, como se Lauren não fosse mais ameaça para ela que um móvel.

Não era confiança. Era um julgamento calmo das intenções de Lauren, combinado com uma arrogância insolente em sua avaliação de si mesma: havia mais razões para Lauren manter Camila viva do que para lhe fazer mal. Por enquanto. Foi como quando Camila lhe entregara uma faca. Como quando Camila a convidara para os banhos do palácio e, calmamente, se despira. Tudo era calculado. Camila não confiava em ninguém.

Lauren não a entendia. Ela não entendia porque tinha falado como falou, nem entendia os efeitos dessas palavras sobre si mesma. O passado pesava sobre ela. No silêncio do quarto à noite, não havia distrações, nada a fazer além de pensar, sentir e lembrar.

Seu irmão, Kristopher, o filho ilegítimo da amante do Alfa Supremo, Hypermenestra, foi criado pelos primeiros nove anos de sua vida para herdar o trono. Depois de perder inúmeros bebês, passou a ser crença comum que a Ômega Heda, Clara, não conseguiria levar uma gestação a bom termo. Mas então veio a gravidez que tirou a vida da Ômega Heda, mas produziu em suas horas finais uma herdeira alfa legítima.

Ela cresceu admirando Kristopher, esforçando-se para superá-lo, porque o admirava e porque tinha consciência da incandescência do orgulho do pai nos momentos em que conseguia superar o irmão.

Nikandros a puxara do quarto onde seu pai estava doente e dissera, em voz baixa: Kristopher sempre acreditou merecer o trono. Que você o tomou dele. Ele não consegue aceitar a culpa pela derrota em nenhuma arena; em vez disso, atribui tudo ao fato de que ele nunca teve sua "chance". A única coisa de que precisava era de alguém para sussurrar em seu ouvido que ele devia tomá-la.

Ela se recusou a acreditar nisso. Em qualquer parte disso. Não ia dar ouvidos a palavras ditas contra o irmão. Seu pai, que estava à beira da morte, chamou Kristopher a seu lado e lhe falou do amor que sentia por ele e por Hypermenestra, e as emoções de Kristopher ao lado do leito de morte do pai pareceram tão verdadeiras quanto a promessa de servir a herdeira, Lakurean.

Torveld dissera: Vi a tristeza de Kristopher. Era verdadeira. Ela achava isso também. Na época.

Ela se lembrou da primeira vez em que soltou o cabelo negro de Jokaste, da sensação dele caindo sobre seus dedos, e a lembrança se emaranhou com uma palpitação de excitação, que no momento seguinte se transformou em um abalo, quando ela se viu confundindo o cabelo cheio de cachos com um liso mais longo ao se lembrar do momento no andar de baixo quando Camila quase sentara em seu colo.

A imagem se despedaçou quando ela ouviu, abafada pelas paredes e a distância, uma batida nas portas no andar de baixo.

O perigo a fez se levantar - a urgência do momento empurrou para o lado seus pensamentos anteriores. Ela vestiu a jaqueta, sentando na beira da cama. Foi delicada quando pôs a mão no ombro de Camila.

A pele de Camila estava quente na cama com cobertor. Ela despertou imediatamente sob a mão de Lauren, embora sem nenhuma expressão aberta de susto devido ao pânico ou à surpresa.

- Temos que ir - disse Lauren. Havia um novo conjunto de sons vindo do andar de baixo; o estalajadeiro, acordado, destrancando a porta da estalagem.

- Isso está virando um hábito - disse Camila, mas já estava se levantando. Enquanto Lauren abria as cortinas para a sacada, Camila vestiu o vestido, embora não tivesse tempo para amarrar nada do entrelaçar negro do corset, porque as roupas veretianas eram francamente inúteis em uma emergência. Lauren observou a situação e aproximou-se da princesa ainda de costas, com mãos hábeis, ela segurou firmemente as duas pontas do corset nas mãos. Não era o momento para fazer pequenos laços em cada costura. Então, com um longo puxão nas pontas dos laços, ela criou uma tensão suficiente para que o corset se apertasse em torno da cintura de Camila de modo quase sufocante, ela imaginou. Com um movimento rápido, Lauren deu um grande nó forte nas pontas, garantindo que o vestido permanecesse firme e seguro na cintura de Camila.

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