Capítulo doze

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O momento raro de afeição do tio com a sobrinha encerrou a reunião, e o regente e o Conselho deixaram a sala. Camila permaneceu e se levantou de onde estava ajoelhada, observando o tio e os conselheiros se retirarem. Orlant, que havia feito uma reverência e saído depois de libertar Lauren, também tinha ido embora. Elas estavam sozinhas.

Lauren se levantou sem pensar. Ela lembrou, que devia esperar algum tipo de ordem de Camila, mas já era tarde demais. Ela estava de pé, e as palavras saíram de sua boca:

- Você mentiu para seu tio para me proteger - disse ela.

Havia quase 2 metros de tapeçaria entre elas. Ela não teve a intenção de dizer o que o tom de sua voz indicou. Ou talvez tivesse. Os olhos de Camila se estreitaram.

- Ofendi mais uma vez seus princípios elevados? Talvez você possa sugerir uma trégua mais sadia. Eu acho que me lembro de lhe dizer para não sumir.

Lauren podia ouvir, ao longe, o choque na própria voz.

- Não entendo por que fez isso para me ajudar, quando dizer a verdade teria lhe servido muito melhor.

- Se não se importa, acho que já ouvi coisas demais sendo dita sobre meu caráter, esta noite. Ou eu vou ter de me digladiar com você também? Eu posso.

- Não, eu não quis dizer... - O que ela queria dizer? Ela sabia o que devia dizer: gratidão da escrava resgatada. Não era como se sentia. Ela estivera muito perto. A única razão por que fora descoberta era Govart, que não seria seu inimigo se não fosse por Camila. Obrigado significava obrigado por ser arrastada de volta e algemada e amarrada no interior daquela jaula de palácio. De novo.

Ainda assim, de maneira inequívoca, Camila salvara sua vida. Camila e o tio eram quase páreo um para o outro quando se tratava de brutalidade verbal. Ela se perguntou exatamente por quanto tempo Camila resistira antes de ser levada até lá.

Não posso protegê-la como estou agora, dissera Camila. Lauren não havia pensado no que proteção podia significar, mas jamais teria imaginado que Camila entraria no ringue para defendê-la - e permaneceria ali.

- Quero dizer... Estou agrade...

Camila a interrompeu.

- Não há nada mais entre nós, sem dúvida não agradecimentos. Não espere bondades futuras de minha parte. Nosso débito está pago.

Mas o leve franzir de cenho com o qual Camila olhou para Lauren não era totalmente de hostilidade; e
acompanhava um olhar longo e curioso. Depois de um momento:

- Eu estava falando sério quando disse que não gostava de me sentir em dívida com você. - E depois: - Você tinha muito menos razão para me ajudar do que eu tinha para ajudá-la.

- Isso sem dúvida é verdade.

- Você não tem papas na língua, tem? - perguntou Camila, ainda de cenho franzido. - Uma alfa mais esperta teria. Uma alfa esperta teria ficado no lugar e ganhado vantagens fomentando o senso de obrigação e culpa em sua dona.

- Eu não sabia que você tinha um senso de culpa - disse Lauren sem rodeios.

Um apóstrofo surgiu em um dos cantos dos lábios de Camila. Ela se afastou alguns passos de Lauren, tocando o braço trabalhado do trono com a ponta dos dedos. Então, em uma postura espalhada e relaxada, sentou-se nele.

- Bom, anime-se. Eu vou para Delfeur e vamos nos livrar uma da outra.

- Por que a ideia de servir na fronteira a incomoda tanto?

- Eu sou uma ômega covarde, lembra?

Lauren pensou nisso.

- É? Não me lembro de jamais vê-la fugir de uma luta. Geralmente é o contrário.

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