Capítulo 5

1K 129 34
                                    

SORAYA

Eu quero esquecer tudo que um dia aconteceu entre nós, mas, ao mesmo tempo, quero lembrar das vezes que tive em meus braços a pessoa que me deixava completa.
De todas as vezes que chamei seu nome.
De todas as vezes que amei.
De todas as vezes que saímos às escondidas.

Mas quero esquecer o infeliz dia que fiz desse amor, poeira. Do dia que me despedi, que aprendi a dizer adeus mesmo sem querer, mesmo estando a marca do olhar doce em minhas lembranças.

Apesar de ter dito Adeus, eu nunca esqueci, mesmo que tenha sido algo doloroso ter me despedido, mas foram momentos dos quais me preenchem em meio ao relacionamento vazio que tenho.

Sou feliz ao lado do César, mas me falta algo, sempre está vazio. Existe um buraco em nosso casamento que está sendo tapado com uma felicidade que, apesar de ser recíproca, é temporária.

Me sinto amada e às vezes acho injusto com César. Ele me ama, claramente me ama, é o melhor marido que eu poderia ter, mas...

Carlos: - Amor? - Bateu na porta do banheiro.

Soraya: - Estou saindo!

Me olhei no espelho, banhei meu rosto com água da torneira e enxuguei, observei um pouco meu rosto e abri a porta do banheiro.

Soraya: - Para onde vai? - Sorri ao fechar a porta.

Carlos: - Hoje é a audiência do caso do Henrique - Ajeitou o colarinho da camisa branca.

Soraya: - Hum... - subi minhas sobrancelhas e arrumei sua camisa.

Carlos: - Você viu meu terno? - Segurou meus tríceps com cuidado.

Soraya: - Se você procurasse um pouquinho - disse quase aos risos, fui em direção ao closet e mostrei para ele - Você iria encontrar com facilidade.

Carlos: - Que brutalidade é essa? - sorriu - Só fiz uma pergunta - agarrou-me a cintura e beijou-me a boca.

Senti seu carinho, seu amor e o calor de seus lábios, mas nenhuma emoção se igualava a quando um dia beijei aqueles lábios rosados, do dia que eu me entreguei e amei de corpo e alma.
Desgrudamos os lábios e mantive meus olhos fechados, lembrando-me dos momentos.

Carlos: - Amor? - Sussurrou em meu ouvido.

Soraya: - Desculpa - dei um sorrisinho.

César sorriu enquanto observava meus traços, acariciou o lado da minha face e beijou o topo da minha cabeça.

Carlos: - Eu te amo muito, meu amor - Me abraçou - Muito.

Senti seu perfume amadeirado, mas não chegava aos pés do perfume da pele que me tocava.
Senti suas mãos quentes, mas não era sequer semelhante as mãos que me tocaram há anos atrás.
Senti seu amor, mas não era o amor que preenchia o vazio que tenho hoje.

Carlos: - Eu sei que você pediu para jogar fora, mas... Bom, eu guardei o envelope vermelho.

Apenas assenti e observei sua vestimenta.

Carlos: - Você se incomoda de dizer quem foi Saulo Bittencourt? - Sorriu.

Soraya: - Você ficará chateado?

Carlos: - Claro que não! Eu tenho conhecimento de que você teve uma vida antes de se casar comigo, Soraya. Eu só sou curioso, gostaria de saber quem foi esse sortudo - Mostrou seus dentes.

Sentei-me na cama e olhei para César, estava com duas mãos na cintura, envolvendo alguns dos dedos no cinto escuro que segurava sua calça social. A aliança dourada que trocamos há 10 anos atrás ainda brilhava, brilhava como um dia brilhou os olhos que me olharam pela primeira vez.

Soraya: - Saulo foi um namorado meu.

Ele sentou ao meu lado e me olhou com um sorrisinho natural.

Soraya: - Eu me envolvi com ele durante alguns anos, eu tinha 24 quando começamos a sair.

Carlos: - Ele era legal? - segurou minha mão.

Soraya: - Ele me fez feliz durante dois anos.

Carlos: - O que aconteceu depois? - franziu o cenho.

Respirei fundo, soltei o ar pela boca e olhei para ele.

Soraya: - Eu fui uma pessoa imatura e extremamente irresponsável, César.

Ele me observou e tirou o sorriso do rosto.

Soraya: - Do mesmo jeito que amei, eu fui capaz de arruinar.

Carlos: - O que aconteceu?

Soraya: - Saulo foi um homem incrível, um namorado que tive na faculdade. Ele me amava verdadeiramente assim como eu o amei, mas nosso relacionamento não era possível... Eu terminei de uma maneira covarde.

Ele me abraçou e eu agarrei suas costas.

Carlos: - Você é uma mulher incrível, Soraya. Eu prefiro acreditar que isso foi para te fazer ter mais maturidade - sorriu e segurou minha cabeça - Naquele tempo, você era jovem demais para entender certas emoções, esse relacionamento foi necessário para construir a responsabilidade afetiva que você tem hoje.

Ele me abraçou de novo, beijou minha cabeça e me deu carinho, mesmo que eu tenha contado o maior ato de imprudência que cometi com os sentimentos de alguém.

Carlos: - Bom, fico feliz que ele tenha feito você feliz no passado e também fico confortado em saber sobre isso. Caso ainda for de seu interesse, as cartas estão na última gaveta da mesa do escritório, tá?

Soraya: - Você leu elas?

Carlos: - Não, achei que seria muito invasivo, é algo seu, então preferi não ler - olhou o relógio de pulso - Vou precisar ir agora, tá?

Soraya: - Tome cuidado - beijei sua boca.

Ele sorriu e retribuiu o beijo, saiu do quarto e fechou a porta.
Eu Esperei dar alguns minutos para me certificar que ele teria ido, então fui até o escritório.

Desci as escadas e andei até a porta grande de madeira, abri, adentrei ao cômodo e fui até a gaveta.
"Saulo Bittencourt"

Data: 14/6/2008
Local: Brasília/DF
De: Saulo Bittencourt Tavares
Para: Soraya Vieira Thronicke

Soraya, em meio a esses meses junto a você, quero proclamar o meu amor por ti. Há quase um ano eu deposito carinho e amor na mulher mais linda do mundo e não me arrependo. Amo-te, meu bem. Digo de alto e bom som o quanto sou feliz ao teu lado.

Com amor, Saulo.

No nosso primeiro ano foi onde fui mais feliz.
Nós saímos para um restaurante, era o nosso predileto.
No fim daquela noite, me tornei mulher em seus braços, na cama com lençóis brancos. Na cama macia, nos finos lençóis, no escuro de um quarto frio.

Apenas as cortinas apreciavam o nosso amor, as paredes escutaram minhas lamúrias e a lua viu o quanto eu estava amando, o quando estava sendo amada, mas a mesma também viu o fim de tudo.

Fui amada verdadeiramente, fui desejada, fui a mulher mais feliz do mundo durante dois anos, até a mesma mulher que se sentia amada, segura e desejada, termina tudo.

Ah, como me arrependo de um dia ter tido a atitude fútil, de ter magoado a pessoa que mais me fez feliz, que me amou verdadeiramente e preenchia o vazio que sinto nesse momento.

Fui bijuteria para uma pessoa que me tratava como uma jóia.
Fui Inútil para uma pessoa que me valorizava.
Eu fui a pessoa que arruinou tudo.

Amor, ódio e o fio da morte (SIMORAYA)Onde histórias criam vida. Descubra agora