Capítulo 20

1K 120 37
                                    

SIMONE

Senti uma mão quentinha no meu rosto, um peso no meu lado direito da cama e uma luz, ora!

Soraya: — Simone, acorda — disse aos sussurros.

Escutei a voz doce e abri meus olhos, ela estava sentada ao meu lado enquanto me observava tentando me acordar.

Soraya: — Está tarde — Sorriu sem graça.

Simone: — Você dormiu aqui? — Esfreguei meus olhos.

Soraya: — Eu fiquei com receio de acontecer algo com você, aí fiquei aqui.

Simone: — Onde você dormiu?

Soraya: — Eu não dormi — deu uma risadinha — não consegui descansar o suficiente pra isso.

Puxa vida.

Simone: — Você ficou aonde?

Soraya: — Na maior parte do tempo aqui, mas depois fui à sala.

Simone: — Existe um quarto de hóspedes ao lado desse. Deite-se e tente dormir.

Soraya: — Mesmo que eu queira, o sono não vai vir.

Simone: — Mas se você ao menos tentar, possa ser que consiga — Sorri — Eu quero conversar com você depois, mas também quero que você esteja descansada o suficiente.

Soraya: — Nós podemos conversar agora, eu não vejo problema.

Simone: — É melhor você descansar. Faz o que eu estou pedindo, por favor?

Ela confirmou com a cabeça e saiu do quarto.
Eu me levantei, vi meu corpo vestido com as mesmas roupas que eu usei ontem naquele infeliz tribunal e tirei elas do meu corpo. Tomei um banho, vesti algo mais leve e fui até a cozinha.

Tomei café, assisti algo na televisão.
"Bom dia. Informamos que o autor da morte de Carlos César Batista chegou a óbito. O homem de 43 anos foi vítima de um acidente de trânsito no fim da tarde desta quinta-feira. O fato aconteceu nos arredores da BR da qual o mesmo vinha de viagem para sua residência."

Observo a tevê levemente assustada.
Absorvi as informações, recolhi minhas pernas e fiquei séria.
Ao menos o destino fez algo já que eu não pude.

Onze horas.
Pedi nosso almoço.
Soraya acorda um pouco desorientada.

Soraya: — Que horas são?

Simone: — Onze e quarenta.

Soraya: — Preciso ir para casa — esfrega os olhos e anda até a porta.

Simone: — Não — levanto-me do sofá e a impeço de sair segurando seus braços delicadamente — fique, almocei comigo.

Soraya: — Eu não dei notícias para a minha mãe desde ontem, desculpa, eu preciso ir.

Simone: — Ligue para ela e avise.

Soraya: — Podemos conversar depois? — sorriu — eu não estou com muita cabeça para isso, mas não se preocupe, eu posso ir ao escritório depois.

Simone: — Almoce, por favor! você está sem comer desde ontem.

Soraya: — Não sinto fome, desculpa.

Simone: — Não — arrastei ela até a cozinha — você vai sentar aqui — afastei a cadeira — e vai se alimentar antes de ir.

Peguei um prato, coloquei na mesa e fui servindo ela.

Soraya: — Tudo bem…

Coloquei arroz, feijão, proteína e salada para ela.

Soraya: — Eu realmente não tenho vontade de comer…

Simone: — Tente, por favor! Está gostoso, te garanto — Peguei uma taça de suco e enchi.

Ela observou o prato colorido pegou o garfo e colocou uma folha de alface na boca, já foi um avanço.
Vi ela comer e coloquei meu almoço para não deixá-la comer sozinha, coloquei as mesmas coisas e me sentei à mesa.

Simone: — Eu não quero falar sobre agora, primeiro que estamos almoçando e… bom, não é um assunto bom para falar nesse momento.

Soraya: — Tudo bem, eu também não queria falar sobre agora, mas eu quero conversar com você. Eu posso ir ao seu escritório qualquer dia.

Simone: — Está bem.

O telefone dela começou a tocar, ela pediu licença, viu o número e atendeu.

Soraya: — Oi! Ah… Eu… Uhum… Eu entendi, mamãe — sorriu e fechou os olhos — mãe, calma! Eu estou bem, tá? Eu estou chegando em casa e explico tudo… Isso… Tá bom, beijo! — desligou o telefone.

Ela caminhou até a mesa, sentou-se e voltou a comer.

Soraya: — É, ela está bem calminha…

Simone: — Eu te deixo em casa, não precisa ter pressa.

Soraya: — Ela está a ponto de me esganar, acho que tem um pouco de pressa.

Começamos a rir e ela me olhou nos olhos, fechando o sorriso.

Soraya: — Inclusive, me perdoe pela… bom, a atitude imprudente que tive com você. Acho que mesmo explodindo de ódio, não deveria ter sequer pensado em tentar algo com você.

Simone: — Eu já tinha esquecido disso… Enfim, está tudo bem.

Ela observou meu pescoço, reprimiu os olhos e voltou a comer.

Simone: — Não está roxo, se isso te preocupa — sorri.

Soraya: — Ainda bem.

Terminamos o almoço, retirei nossos pratos e deixei na pia.

Simone: — Você quer ir agora?

Soraya: — Eu prefiro — sorriu.

Simone: — Vamos, eu te deixo em casa.

Peguei as chaves do meu carro, abri a porta e entramos no elevador.
Observei ela disfarçadamente, estava segurando as mãos em frente ao corpo, a boca séria e caidinha, os olhos fechadinhos e o cabelo loiro escovado. Ah meu Deus, eu acho ela linda!
Ela olhou para mim na hora, mas eu desviei o olhar.

Soraya: — Pode me olhar — sorriu — eu não mordo não.

Sorri como resposta e o elevador abriu, seguimos até o carro e entramos.
Dirigi até sua casa.

Soraya: — Quer entrar?

Simone: — Ah… não precisa, quem sabe na próxima.

Quando olhei para a porta, estava uma mulher acenando para o carro, apenas devolvi e vi Soraya sair do carro.

Soraya: —Ainda essa semana eu vou no escritório, tá?

Simone: — Tá certo, eu fico no aguardo.

Soraya: — Tchau, fique bem.

Simone: — Você também, moça…

Ela desceu do carro e voltou para casa.
Coloquei uma música baixinha enquanto de partida em direção a minha residência.
Apesar de tudo isso, acho que foi necessário para entender mais sobre minhas fragilidades e compreender que preciso de ajuda psicológica. Olha, me sinto extremamente culpada por ter entrado nesse caso.

Amor, ódio e o fio da morte (SIMORAYA)Onde histórias criam vida. Descubra agora