Capítulo 11

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SORAYA

Estou na casa de minha mãe há duas semanas, não consegui mais voltar para a minha casa, na verdade, ainda tentei, mas a única ação que tive foi trazer minhas coisas para a casa dela e me hospedar aqui.

Tudo daquela casa me faz lembrar dele, todos os nossos quadros, a cama em que nós dois dormíamos, as escovas de dente, tudo me lembrava César.

Martha: — Filha? — bateu na porta do quarto.

Soraya: — Entre, mãe.

Meu conforto em relação a morte dele já estava se aconchegando em mim, mas a culpa por ter traído o homem que me tratava como uma rainha, que nunca se atreveu a levantar a voz e me arrancava risadas gostosas quando estava tristonha pelos cantos ainda ecoava na minha cabeça.

Martha: — Você precisa comer, Soraya.

Soraya: — Eu não tenho vontade, mãe.

Martha: — Eu entendo que uma perda dói, meu bem, mas você tem que aprender a superar ela!

Soraya: — A senhora não entenderia, mãe…

Martha: — Quer me contar? — Estirou suas mãos em minha direção e sentou-se na cama.

Olhei em seus olhos acinzentados e sorri de lábios.

Martha: — Eu estou aqui para te escutar e te orientar — segurou minhas mãos — mas se não quiser falar, não tem problema.

Soraya: — Eu preciso contar isso para alguém.

Olhei a foto que eu deixei em meu birô, era César e eu. Estava segurando um buquê de tulípas vermelhas enquanto ele beijava minha bochecha, consigo sentir o quentinho de sua boca tocando em minha bochecha.

Soraya: — Para entender tudo, eu preciso contar desde o início.

Martha: — Certo, é uma fofoca complexa, então?

Soraya: — É — sorri um pouco sem graça — meu único receio é a senhora acabar me julgando…

Martha: — Pode contar — Apertou minhas mãos — eu não tenho espaço para isso, até porque todos erram um dia — sorriu.

Ela estava com o cabelo escovado, curto, mas sempre foi, e um sorriso de lábios extremamente acolhedor.

Soraya: — A senhora lembra das cartas que eu recebia de Saulo?

Martha: — Saulo Bittencourt Tavares… Lembro.

Soraya: — Acontece que Saulo Bittencourt-

Martha: — Foi seu namorado? Isso eu e seu pai já sabíamos, conte outra novidade — Sorriu mostrando os dentes.

Soraya: — Bom, sim, isso era evidente. Porém Saulo nunca existiu.

Martha: — Mas… Como ele nunca existiu se você recebia cartas dele?

Soraya: — Saulo era uma professora.

Ela abriu a boca e colocou suas mãos na mesma, tentando censurar sua surpresa.

Soraya: — Saulo sempre foi Simone Nassar Tebet.

Martha: — Que fofoca!

Dei uma leve gargalhada pela sua reação e ela ergueu as sobrancelhas.

Martha: — Me-ni-na! Estou em choque! Você namorou sua professora?

Soraya: — De 2007 até o fim de 2009.

Martha: — Caramba!

Soraya: — Bom, com isso eu me assumo bissexual para você, mãe.

Martha: — Isso não me importa, nunca me importou saber sua sexualidade pois sempre soube.

Amor, ódio e o fio da morte (SIMORAYA)Onde histórias criam vida. Descubra agora